Cartaz de festival de rock com imagem de Bozo irrita delegado-deputado

Um cartaz da 3ª edição do Facada Fest, evento de rock dos gêneros punk e hardcore que se realizará no dia 6 de julho, no Mercado de São Brás, despertou a ira de Éder Mauro, deputado federal paraense aliado de Jair Bolsonaro. Nesta segunda-feira, 17, o parlamentar postou a imagem do cartaz do festival em suas redes sociais e fez um comentário em tom de ameaça.

O cartaz mostra um palhaço com faixa presidencial e com um lápis atravessado. Para o deputado, a ilustração é uma alusão a Bolsonaro, chamado nas redes sociais de ‘Bozo’, palhaço ícone da TV dos anos 90. Classificando os organizadores de “turma da lacrosfera teen rock in roll”, o parlamentar fecha o texto dizendo que o evento “já está marcado no calendário da polícia – Força e Honra”.

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Organizadores, músicos e produtores da cena alternativa de Belém sentiram-se ameaçados pela postagem do parlamentar. Diante da repercussão, a coordenação do evento lançou uma nota afirmando que o nome e a arte do festival são provocativos, como expressão de um movimento conhecido justamente por essa característica. Além de explicar a raiz musical, defendem a liberdade de expressão.

Na íntegra, a nota dos representantes do Facada Fest:

“O Facada Fest surgiu da união de bandas autorais de rock (em especial de hardcore e punk) de Belém e região metropolitana, além de alguns coletivos de produtores e produtoras culturais independentes, todos unidos pela mesma causa: o rock raiz, o rock de protesto e de debates sociais.

O nome “facada” é intencionalmente provocativo, sim, mas a nossa intenção é puramente a de tratar essa nomenclatura por abordagem de sátira e escárnio, linguagens presentes na música, literatura e arte como um todo desde sempre.

No Brasil, a catalogação destas modalidades se dá desde o século XVI, pouquíssimos anos após o início da colonização de nosso país. Optamos por essa abordagem para que todas as pessoas tenham o amplo direito e liberdade de interpretarem o nosso nome como bem entenderem, de acordo com os seus próprios aprendizados e leitura de mundo.

A história do nascimento rock pauta bastante disso, há muito debate sobre a liberdade, direitos humanos, direitos políticos, direitos sociais e direito à democracia, tudo isso dentro da criação do rock. Fazemos parte de um estilo musical que surgiu na luta dos guetos dos trabalhadores negros que ainda eram tratados como escravos no Estados Unidos, apesar da escravidão lá ter sido encerrada em 1863. Somos parte de uma cultura musical que nasceu também nas periferias inglesas, onde os trabalhadores (em especial os metalúrgicos e operários da construção civil) encontraram no rock as letras que retratavam a suas rotinas contra a coroa britânica, retratando a forma com que eles lutavam em defesa dos seus direitos trabalhistas e pela melhoria de vida social e de condição humana.

Há sim quem trate o rock como um mero entretenimento, mas esta não é a nossa abordagem. Respeitamos quem tenha essa escolha, mas essa não é a nossa postura, tampouco assim será.

Prezamos pela liberdade de imprensa, liberdade de expressão humana, artística, política e social. Desta forma, compreendemos que a fala do senhor deputado federal Éder Mauro é uma nítida tentativa de intimidação aos nossos eventos, às bandas que abraçam as nossas propostas e ao público que sempre nos prestigia com sua presença.

Para nós, é explícita a postura do deputado em tentar nos atingir com ameaças, inverdades e discurso de ódio, fazendo uso abusivo de seu mandato político e de sua figura pública para nos atacar. Somos todos estudantes, trabalhadores, temos famílias e prezamos pela liberdade e democracia para toda a população, algo que infelizmente o deputado não realizou em suas palavras e postura.

Nossas programações seguirão em frente, não iremos retroceder em nada do que já fazemos. Estamos disponíveis para o diálogo, onde ambas as partes possam ter vozes e serem ouvidas, pois rechaçamos toda e qualquer forma de censura”. (Com informações do DOL)

Nota do editor: Todo apoio à liberdade de expressão, à crítica inteligente e ao espírito contestador do rock. Era só o que faltava festival roqueiro ter que render obediência, acatar ordens e fazer vontades de quem quer que seja. Te contar…

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