POR GERSON NOGUEIRA
Uma turba uniformizada invadiu o gramado do Evandro Almeida, ontem à tarde, para hostilizar o técnico Josué Teixeira e jogadores do Remo. Ato tão corriqueiro quanto inócuo. O técnico, apoiado pela torcida até o final do Estadual, caiu em desgraça porque resolveu manter oito dos dez “reforços” trazidos para a Série C. Danilinho e Rony foram dispensados, mas a lista deveria incluir pelo menos mais quatro dos recém-contratados.
A escaramuça lembrou episódio ocorrido há quatro anos, quando o presidente era Zeca Pirão e o Baenão começava a ser demolido – continua até hoje esperando a reconstrução, sem que as facções organizadas protestem contra isso.
Na ocasião, como agora, os protestos foram motivados pelo mau desempenho do time. Reclamações válidas, mas dirigidas ao alvo errado.
A começar pelo fato de que o objeto da ira da torcida não muda: técnico e jogadores. Os dirigentes, principais responsáveis pelas contratações, ficam a salvo da tempestade, olhando de longe, alguns até se comprazendo com o aperreio dos atletas e da comissão técnica.
Em certos casos, já comprovados, não só no Remo, há também a mão invisível da cartolagem a manobrar a fúria dos torcedores. Grupos uniformizados costumam manter conexão com dirigentes e agem conforme seus interesses e conveniências.
O torcedor de verdade, que normalmente não desfruta de folga numa tarde de terça-feira para ir apoquentar técnico e jogador de futebol, teria motivos de sobra para deplorar o atual momento vivido pelo Remo.
Mais do que a campanha pouco convincente na Série C, as antigas pendências trabalhistas continuam a ser o principal entrave ao saneamento do clube, agravadas por acordos descumpridos pela nova diretoria.
Segundo relatório divulgado na reunião de segunda-feira (29) do Condel, o passivo atual no TRT soma R$ 300 mil, com o setor jurídico engessado pelo não cumprimento das obrigações trabalhistas. Se os acordos forem cancelados, o clube pode sofrer novos leilões e bloqueios de renda.
Outro item que deveria ser motivo de inquietação da torcida (e dos conselheiros) é a devolução das contas da gestão de Manoel Ribeiro pelo Conselho Fiscal, que deu ultimato para que o presidente se enquadre, sob pena de ser denunciado por gestão temerária.
O Remo, como se vê, continua preso às mesmas coisas de sempre. Gestão ineficiente, time ruim, contratações alopradas e protestos que sempre poupam a cartolagem. Enquanto isso, adia-se um projeto de transformação capaz de tirar o clube da era medieval.
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Esquema rejeitado no Parazão triunfa na Série B
Pendular também se revela a situação de Marcelo Chamusca, agora no sentido positivo, depois que o time ganhou consistência de marcação e passou a acumular bons resultados na Série B. Os aplausos à campanha do Papão partem até de severos críticos do treinador. Coisas do futebol.
O segredo da evolução do time está na correção de falhas no setor defensivo, com a decisiva participação de três volantes. Como Dado em 2015, Chamusca cansou de esperar pelo camisa 10 capaz de articular o jogo no meio e organizar a transição.
Tentou Sobralense, Diogo Oliveira e até o jovem Samuel. Diogo teve lampejos, mas os dois simplesmente não funcionaram. Fernando Gabriel, da última leva de reforços, se adaptou bem à prioridade pela marcação.
Meia de ofício, Gabriel tem atuado mais como volante avançado do que propriamente como armador. Está dando certo. Curioso é que, no Parazão, Chamusca tentou emplacar esse mesmo sistema, mas sucumbiu às críticas pelo uso de um padrão defensivo demais para competição tão limitada.
Reapresentou a estratégia na Série B e alcançou a liderança. A lógica fria do torneio diz que, quanto mais fechado, mais possibilidades tem um time de obter bons resultados. Não existem planos perfeitos, mas este se mostra o mais adequado para o começo da Segundona, daí o seu sucesso: três jogos, nenhum gol sofrido.
(Coluna publicada no Bola desta quarta-feira, 31)