POR GERSON NOGUEIRA
Para justificar a dura derrota em casa, ao final da partida os jogadores repetiam o bordão tradicional: nada deu certo para o Papão. É verdade, mas faltou dizer também o quanto o próprio time contribuiu para que tudo desse errado. O placar de 3 a 0 (8 a 1 no agregado, pois no turno os mineiros golearam por 5 a 1) foi até modesto diante das facilidades que o Tupi encontrou na Curuzu.
O primeiro tempo mostrou um Papão dispersivo e desorganizado. O Tupi começou marcando forte, preenchendo espaços e encontrou campo para contra-atacar com perigo. Celsinho, lento demais, não conseguia dar ao time a saída dinâmica que o jogo exigia.
Dominado na maior parte do tempo, até demorou a levar o gol que já se desenhava desde as primeiras investidas do Tupi. Aos 33 minutos, após chute forte do bom Marcos Serrato, a bola sobrou na esquerda e o cruzamento de Bruno Costa saiu perfeito para o cabeceio do centroavante Giancarlo. Sem marcação, testou de cima para baixo no canto esquerdo de Emerson.
Apesar da desvantagem, Dado Cavalcanti manteve a mesma formação. Deveria ter tirado Celsinho e arriscado lançar outro meia, mais agressivo, como Robert ou mesmo o atacante Rivaldinho.
O técnico só foi fazer a mudança no começo da etapa final, mas o time já estava abatido e não mostrava qualquer poder de reação. Isso se refletia na baixa produção do meia-atacante Tiago Luiz, que pouco apareceu no jogo, e de Mailson, o atacante mais agudo e insistente.
Antes, porém, de Robert e Rivaldinho conseguirem produzir alguma coisa, Ricardo Capanema foi expulso e deixou a equipe ainda mais vulnerável na meia-cancha. Para recompor a entrada da área, Edson Ratinho andou circulando por ali, posicionamento que só acentuava a balbúrdia tática do Papão.
Tranquilo, o Tupi controlava o jogo e impunha o ritmo que lhe interessava, explorando a apatia e a lentidão dos donos da casa. Jonathan, aos 25 minutos, recebeu lançamento perfeito de Marcos Serrato e invadiu a área entre os zagueiros Lombardi e Gilvan. Tocou rasteiro na saída de Emerson, marcando o segundo gol.
A partir daí, os problemas se ampliaram e o Tupi só não fez mais gols logo em seguida por erros de finalização, mas o terceiro gol sairia nos acréscimos. Serrato, outra vez, botou Giancarlo cara a cara com Emerson e a bola foi desviada para as redes.
O mais espantoso é que o Tupi, um dos times de pior campanha na Série B, não encontrou qualquer dificuldade para superar o Papão. Mesmo quando foi pressionado, o time mineiro sempre se defendeu bem e sem o desespero que se via do lado paraense.
Foi uma noite trágica na Curuzu. Papão conseguiu perder duas vezes para um adversário reconhecidamente limitado como o Tupi.
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Insistência com lesionados derrubou o Leão em Natal
O Remo sustentou um empate no primeiro tempo, mas se deixou perder em seus próprios erros e permitiu que o ABC chegasse à vitória nos 15 minutos finais da partida de segunda-feira à noite, no estádio Frasqueirão, em Natal. Bem distribuídos em campo nos 45 minutos iniciais, os azulinos perderam combatividade no meio-campo e aceitaram a pressão dos donos da casa.
A situação poderia ter sido outra se Eduardo Ramos e Jussandro, claramente sem condições de jogo, tivessem sido substituídos no intervalo. A insistência com ambos enfraqueceu o setor de criação e deixou a equipe dependente exclusivamente do lado direito.
Quando Waldemar Lemos decidiu mexer no time, logo depois do primeiro gol do ABC, ainda fez a opção errada. Apostou em Ciro para a vaga de Ramos. No Remo desde o começo da temporada, Ciro só fez duas boas partidas – contra Águia e Cametá no Campeonato Estadual. Inconstante no ataque, era improvável que o jogador atuasse bem como organizador.
A substituição natural deveria ser por Flamel, meia-armador talhado para executar as funções que normalmente Ramos desempenha na equipe.
Sem Henrique, lesionado, Lemos pôs Ciro Sena para reorganizar a defesa, mas esqueceu de reforçar a cobertura à frente da zaga. Michel e Yuri se desdobravam para marcar três atacantes adiantados do ABC – Jones, Nando e Etcheverria. Era óbvio que precisavam de ajuda, mas o treinador não levou isso em conta e o Remo acabou sofrendo o segundo gol 10 minutos após o primeiro. E só não levou uma goleada porque Fernando Henrique fez três grandes defesas nos minutos finais.
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CBF atualiza informações sobre o negócio futebol
A Diretoria de Registro de Transferência da CBF publicou ontem um relatório atualizado dos procedimentos adotados para dar mais transparência às negociações, registros, contratos e transferências de atletas profissionais. O balanço serve também para mostrar o verdadeiro status do futebol como negócio no Brasil.
O documento esmiúça as engrenagens do futebol nacional, indicando que existem hoje 664 clubes profissionais ativos no país, que empregam oficialmente um contingente de 11.315 atletas.
Outro aspecto interessante é a informações sobre os valores envolvidos nas 9.540 transferências de atletas entre clubes brasileiros: R$ 62,8 milhões.
As transações entre clubes brasileiros e estrangeiros totalizaram 770 jogadores, representando a soma de R$ 382,5 milhões até julho. É uma quantia significativa, mas muito abaixo da movimentação financeira entre clubes europeus.
(Coluna publicada no Bola desta quarta-feira, 31)