POR GERSON NOGUEIRA
Foi um jogo estudado e controlado muito bem pelo Remo. Posicionado corretamente no setor defensivo e com dinamismo no setor de criação, o time não cedeu espaços ao Confiança, que só ensaiou pressionar no começo do segundo tempo. O placar final de 2 a 0 espelha a superioridade azulina, sendo que Edno, Ciro, Eduardo Ramos e Wellington Saci tiveram oportunidades para ampliar o escore.
No primeiro tempo, Edno se movimentou mais entre os zagueiros e foi premiado com dois cruzamentos perfeitos, um de Levy e outro desviado por Eduardo Ramos. Junto à linha da pequena área, usou a boa impulsão para desviar para as redes. Vale dizer que o jogador atuou no sacrifício, pois não se recuperou plenamente de contusão.
Eduardo Ramos e Marcinho se revezam na aproximação com o ataque, que tinha apenas Edno como referência e contava com as subidas de Levy pela direita. Fernandinho ficava mais preso ao meio-campo, ajudando na marcação, sem avançar muito.
Como o Confiança pouco agredia, a zaga remista teve tranquilidade para jogar, embora Saci tenha tido uma atuação mais defensiva. Michel fechava no meio, com Yuri flutuando mais. Como as tentativas pelo chão, com triangulações não deram muito certo, o Remo investiu nos cruzamentos para surpreender a defesa adversária.
Depois do intervalo, com a entrada de Rogerinho e reforço no comando do ataque, Roberto Fernandes tentou levar o Confiança para o jogo do abafa, apertando a saída de bola do Remo. Não funcionou bem porque os homens de meio não conseguiam acertar a trocar de passes.
Os dois ataques mais agudos produzidos pelo Confiança nasceram de indecisões no lado direito da zaga remista e de uma falha dos zagueiros de área na marcação ao centroavante Leandro Kivel. No segundo lance, o goleiro Douglas Borges mostrou competência e conseguiu evitar o gol no cabeceio de Kivel a 15 minutos do final.
Apesar de dispor de um corredor para explorar pelo lado esquerdo, o Remo concentrou as ações no meio, com Eduardo Ramos cadenciando as jogadas e segurando o jogo. Quando a equipe ia à linha de fundo com Saci (e depois Jussandro), sempre criava boas situações, mas os atacantes não souberam aproveitar.
Ciro, que substituiu Fernandinho, perdeu grande oportunidade, após passe de Ramos. E Edno custou a chutar, aos 32 minutos, permitindo que a defesa bloqueasse a finalização. Instantes depois, o próprio Ramos entrou livre na área, mas preferiu tocar para o meio, facilitando a marcação.
O tranquilo triunfo azulino pode ser explicado pelo trabalho incessante dos volantes Yuri e Michel, a intensidade de Levy na direita, a ofensividade dos meias Eduardo Ramos e Marcinho (que também voltavam para auxiliar na marcação) e a excelente participação de Edno no jogo aéreo.
No aspecto coletivo e na distribuição em campo, o Remo mostrou evolução e amadurecimento. Podia apenas ter sido mais agressivo no segundo tempo, buscando ampliar a artilharia.
A vitória por dois gols põe o time pela primeira vez na liderança na chave A, ficando a seis pontos de garantir classificação para o mata-mata da segunda fase.
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Convocação da Seleção repete os velhos vícios
Quando Tite foi escolhido pela CBF, observei aqui que a Seleção Brasileira finalmente tinha um técnico no comando. A premissa continua válida, mas a convocação inicial para o recomeço das Eliminatórias dá margem a inquietações quanto ao trabalho do novo comandante. O anúncio do grupo que vai enfrentar Equador e Colômbia em setembro surpreendeu negativamente.
Para quem assumiu sob justas expectativas de mudanças nos métodos de trabalho e, principalmente, nos critérios de convocação de jogadores, Tite surpreende pelo motivo inverso. Esperava-se que fossem abolidas as velhas práticas de chamar atletas desconhecidos para dar um lustro na Seleção e valorizar para negociações futuras.
Os nomes anunciados ontem ficam entre a obviedade das últimas listas de Dunga e novidades um tanto mirabolantes, como Taison, Giuliano, Fagner e Paulinho. O lateral corintiano está longe de ser um primor de regularidade.
O meia Giuliano é outra aposta confusa. Nunca exibiu recursos que o credenciem para a meia-cancha do escrete. Taison, revelado pelo Internacional, andava sumido e foi ressuscitado por Tite. Coincidência ou não, defende o Shakhtar, origem de grande parte dos convocados de Felipão e Dunga.
De todos, porém, Paulinho é o caso mais surpreendente. Depois da Copa de 2014 entrou em total decadência. Passou um chuvisco no Tottenham, sem conseguir emplacar no futebol europeu, e sumiu das vistas do público refugiando-se no futebol chinês. Tite parece estar pensando naquele Paulinho que encantou a todos nos tempos de Corinthians, esquecendo-se que a realidade atual é bem diferente.
Entre os esquecidos, Paulo Henrique Ganso é o nome mais óbvio. Na comparação direta com Giuliano e Lucas Lima, o paraense vive um momento melhor.
De toda sorte, é a primeira chamada de Tite, que terá tempo para ajustes. A destacar, sua sensibilidade em prestigiar sete campeões olímpicos e a lembrança de Rafael Carioca, que há muito tempo merecia uma chance.
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Uma correção
Vários leitores da coluna, sempre atentos aos detalhes, apontaram um equívoco na coluna “Vira-latas em fuga”, do último domingo. Citei no texto que somente a Alemanha havia, antes do Brasil, sediado Copa e Olimpíada em intervalo de dois anos – no caso, 1972 e 1974. Não é bem assim, como observa o Wilson Santana:
“Eu lhe afirmo com 100% de certeza de que você está enganado, porque os Estados Unidos também já sediaram em intervalo de 2 anos os dois maiores eventos esportivos do planeta: a Copa do Mundo, em 1994, e as Olimpíadas de Atlanta, em 1996”. Na mosca.
Peço desculpas pela lomba, mas é bom confirmar que conto com leitores bem informados e críticos, a quem agradeço pela colaboração.
Por outro lado, o raciocínio exposto na coluna domingueira segue válido, pois o Brasil está lado a lado com duas das maiores potências mundiais. Obviamente, graças a Luiz Inácio, Lula-san, o cabra bom.
(Coluna publicada no Bola desta terça-feira, 23)