POR GERSON NOGUEIRA
Todo mundo andava ressabiado com as atuações da Seleção Brasileira no torneio olímpico. Os dois primeiros jogos foram de uma pobreza técnica avassaladora. Um vexame na conta do país pentacampeão mundial de futebol. Mas, como é próprio do Brasil, tudo mudou radicalmente com as vitórias sobre Colômbia e Honduras, que não chegam a ser potências futebolísticas nem no continente.
A ‘pachecada’ voltou com toda corda, fortemente insuflada pela cobertura esportiva na TV, que de minuto em minuto sepulta cada vez mais os adjetivos “incrível”, “histórico” e “extraordinário”.
E é na autossuficiência que reside o grande risco de uma nova decepção. Ficar incensando demais os atletas de Micale representa um perigo e tanto. Melhor continuar confiar, desconfiando.
O problema é que tem aloprado defendendo a tese de que a final olímpica seria uma vingança contra os alemães. Devem ser os mesmos afobadinhos que faziam comparações esdrúxulas entre Marta e Neymar.
Para os mais afoitos, recomenda-se pensar assim: nunca mais vingaremos aquela surra de 7 a 1 pelo Mundial 2014, em Belo Horizonte. Sosseguem o facho, esqueçam. É o tipo da coisa que não deveria mais ser sequer mencionada. Deveria haver uma lei qualquer – tipo Maria da Penha – para quem ficasse falando naquele fiasco monumental.
Forra de verdade seria aplicar uma goleada humilhante, em confronto válido por Copa do Mundo e entre as seleções principais. Qualquer coisa menor que isso será apenas uma reles tentativa de puxar briga.
Confronto entre times olímpicos, entremeados de um ou outro jogador mais tarimbado, não vale como revanche. Aliás, o escrete germânico não trouxe nenhum dos jogadores que disputaram aquela inesquecível (para eles) partida. Na verdade, trata-se do terceiro time deles.
Desde o momento em que Neymar e seus companheiros fecharam o caixão hondurenho, anteontem, não se fala em outra coisa. Embate histórico, diz um daqueles apresentadores xiitas. Acerto de contas, diz o outro. Tudo é conversa fiada para incendiar o fanático desavisado, o tal torcedor de Copa do Mundo e que só torce pelo Brasil. Como não acompanha futebol, vive desinformado e refém da demagogia fácil.
Micale deveria aproveitar as horas que antecedem a grande final para afastar a moçada de entrevistas e salamaleques. Por via das dúvidas, podia também pedir a Tite para dar outra palestra motivacional à turma. A primeira, antes do jogo contra a Dinamarca, acabou dando bons resultados.
O papo foi muito bom porque, de repente, o time passou a se organizar melhor, as funções ficaram bem distribuídas e Neymar conseguiu espaço para jogar circulando próximo à área inimiga, sem posição fixa.
Já mencionei aqui a suspeita de que Tite já assumiu a cabine de comando, mas não pode aparecer. Primeiro, obviamente, para não desmerecer a figura de Rogério Micale, oficialmente o técnico da seleção olímpica. E, em segundo, porque o gaúcho não é bobo e prefere continuar na moita, pois em caso de perda do ouro não será alvejado.
Penso que o Brasil é favorito e só não põe a mão na medalha se a molecada tremer, coisa possível de acontecer, como estamos cansados de saber. Ocorre que o começo titubeante conspirou favoravelmente para a arrancada e evolução do time, hoje muito mais confiante e determinado. Além disso, o selecionado alemão está longe de ser um timaço ameaçador.
Aliás, a própria competição é tecnicamente bem fraca, daquele tipo que Mané Garrincha chamaria de torneio mixuruca.
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Goleada brazuca; golaço do Bola
Carlos Eduardo Vilaça e Jorge Luís Totti, dupla que edita o Bola, caprichou na capa de ontem do caderno, elogiadíssima nas ruas e nas redes sociais. A brincadeira de usar as fotos de Chico Buarque (ainda daqueles tempos de A Banda) uniu informação, picardia e linguagem jornalística moderna. Algo bem próprio desses tempos virtuais, ágeis e urgentes.
Pode-se dizer, empregando um verbo da era digital, que a capa conseguiu ‘linkar’ perfeitamente o tema – a classificação à final – e ao temor – pegar os alemães de novo, tendo as fisionomias do grande Chico como ilustração.
Um golaço.
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Papão adota nova configuração de ataque
A formatação do Papão para o recomeço da Série B, amanhã à noite, contra o Ceará, indica que Dado Cavalcanti ainda não tem um atacante de área confiável. Os centroavantes mais utilizados na competição – Alexandro e Leandro Cearense – não parecem preencher as exigências básicas da função. Pelos treinos, Tiago Luís, jogador que mais se destacou ofensivamente nos últimos confrontos, deve ser o homem mais avançado, dividindo tarefas com Mailson.
Pode dar certo. Afinal, Tiago tem brilhado pela facilidade nos arremates e o bom entendimento com os homens de meio. Com um jogador rápido como Mailson a lhe ajudar e Celsinho mais atrás, tende a crescer mais ainda. A lamentar apenas que a equipe venha a perder o primeiro camisa 10 que levava jeito de quem manja do assunto ali na meia-cancha.
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Direto do blog
“Não conheço as razões da CEF pra ainda não ter aproveitado esses dois produtos paraenses (Remo e Paysandu) na sua estratégia de marketing, mas considero indecoroso que o Banpará não disponha de R$ 3 milhões anuais para assumir o patrocínio master dos dois clubes da terra. Será que aquela merreca disponibilizada para o Parazão é o máximo que o nosso banco estadual dispõe?
Eu não acredito, principalmente porque o gasto em publicidade do governo estadual desmente essa crença”.
Jorge Paz Amorim, referindo-se ao recente anúncio da Caixa Econômica concedendo novos patrocínios a clubes brasileiros.
(Coluna publicada no Bola desta sexta-feira, 19)