“Revolver”, o álbum da maturidade dos Beatles, completa 50 anos

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POR JAMARI FRANÇA

Revolver foi lançado há 50 anos, em cinco de agosto de 1966 na Grã-Bretanha, como o manifesto revolucionário de uma banda já consagrada como a maior do mundo. O LP não tinha precedentes na carreira do Fab Four e muito menos no panorama rock da época. Os Beatles exploraram conceitos sonoros mais surpreendentes ainda por saírem do estúdio de quatro canais de Abbey Road, aquém dos recursos disponíveis na América. Os créditos são da equipe técnica da EMI sob o engenheiro Geoff Emerick e do produtor George Martin. Grandes talentos colocados a serviço da insaciável fome de buscar o novo demonstrada por John, Paul, George e Ringo.

A era psicodélica encontrou em Revolver algumas de suas principais manifestações. Sob a égide do LSD nasceram canções como Tomorrow Never Knows, um assalto aos sentidos com efeitos, vozes fantasmagóricas, batida trovejante e um convite para o ouvinte relaxar e se deixar levar pela corrente.

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O clima viajandão se estendia ainda por She Said She Said, inspirada numa viagem de ácido, e Got To Get You Into My Life, uma ode à maconha. Taxman protestava contra os altos impostos da Inglaterra, Yellow Submarine uma canção infantil com viés psicodélico. O radiante verão de 1966 era saudado em Good Day Sunshine e a música pop ocidental deu seu primeiro passo significativo para a música e filosofia orientais em Love You To.
Revolver se refere à imagem do disco revolver (rodar) no pickup, mas carrega inevitavelmente uma associação com a arma. Teve vários possíveis nomes antes. Ia ser Abracadabra, mas uma outra banda já usara o título. Daí John sugeriu Four Sides of the Eternal Triangle e Ringo After Geography, uma zoação com o LP dos Rolling Stones Aftermath (math=matemática) daquele ano. Outras sugestões foram Magical Circles, Beatles on Safari e Pendulum.

Com 14 faixas em 35 minutos no Reino Unido, Revolver saiu nos Estados Unidos no dia oito de agosto de 1966. A versão americana tinha apenas 11 faixas. I’m Only Sleeping, Doctor Roberts e And Your Bird Can Sing, antecipadas para a Capitol americana, saíram na compilação Yesterday and Today, lançada em 20 de junho. A capa é do artista plástico alemão Klaus Voorman, conhecido dos primeiros dias da banda, que optou por contrastar o psicodelismo do conteúdo com quatro cabeças desenhadas em preto e branco, desenhos e colagens de fotos. Klaus mais tarde viraria baixista e tocaria com John Lennon solo.
O álbum ficou sete semanas em primeiro lugar na Grã-Bretanha e seis semanas na América. Com o passar do tempo ganhou estatura e disputa com Sergeant Pepper’s Lonely Hearts Club Band o título de melhor disco de rock de todos os tempos. Em 2002, por exemplo, os leitores da Rolling Stone americana assim o elegeram, opinião compartilhada por nada menos que o L’Osservatore Romano, o jornal oficial do Vaticano. Já numa outra eleição da Rolling Stone em 2003 ficou em terceiro na lista de 500 maiores álbuns de todos os tempos, depois de Sgt. Pepper’s e de Pet Sounds, dos Beach Boys.

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A gravação rolou de seis de abril a 21 de junho de 1966. Já no dia 12 de agosto iniciaram a última turnê da carreira, com 14 datas na América, a última no dia 29 de agosto no Candlestick Park, de San Francisco. Depois disso nunca mais subiram ao palco juntos. Nenhuma música de Revolver foi tocada na turnê por considerarem difícil simplificar as canções para tocar ao vivo. Dali em diante seriam apenas músicos de estúdio e, já em novembro de 1966, estariam de volta a Abbey Road para começar as gravações da próxima revolução, Sergeant Pepper’s Lonely Hearts Club Band, lançado em 1º de junho de 1967.
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O passado é uma parada…

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Maria Schneider e Jack Nicholson no set de “O Passageiro – Profissão: Repórter”, filme de Michelangelo Antonioni, de 1975.