A bola do campeonato

Por Gerson Nogueira

Afirmei aqui neste espaço, na segunda-feira passada, que o Papão estava com a mão na taça. A confirmar minha previsão, o time conquistou resultado excepcional diante do Macaé, sábado à tarde, no Rio de Janeiro. Volta para casa com o melhor dos empates em mata-mata, pois terá a tremenda vantagem de jogar até por um simples 0 a 0 no próximo sábado, no estádio Jornalista Edgar Proença, para levantar a taça da Série C.

unnamed (85)Mas, apesar do final feliz, o jogo foi preocupante. Encolhido ao longo do primeiro tempo, tanto que só foi chutar a gol (com Ruan) aos 39 minutos, o Papão aceitou a meia pressão imposta pelos donos da casa. Poderia ter se complicado seriamente, pois a defesa andou batendo cabeça, principalmente pelos lados de Charles, mais estabanado do que nunca.

A salvação da lavoura era Augusto Recife, cuidando bem da cobertura a Pikachu e se encarregando dos melhores lançamentos para Bruno Veiga, o atacante mais acionado. O problema é que os jogadores abusavam dos passes errados, denotando certo nervosismo em campo. Nesse cenário, Recife representava a lucidez. Quando a bola chegava a ele sempre era bem redistribuída. Foi disparado o melhor do time.

O Macaé teve boas chances no primeiro tempo, com Romário, João Carlos e Juba, mas errou muito nas finalizações. Com triangulações pelos lados, armava situações perigosas. Chegou mais forte sempre que buscou as jogadas ensaiadas.

Teve nos pés de Juba a grande oportunidade no final da primeira etapa quando Paulo Rafael saiu em falso e permitiu que o atacante entrasse livre na área. Por sorte, o jogador tentou bater por cobertura e mandou longe do gol.

Como dependiam de contragolpes esporádicos, Veiga e Ruan ficaram muito isolados. O primeiro ainda voltava para buscar jogo, mas Ruan permanecia entre os zagueiros adversários, praticamente sem ver a cor da bola.

Para o segundo tempo, o Papão voltou mais esperto nas tentativas de saída para o ataque. Lenine (substituto de Héverton, que saiu lesionado) entrou plugado e tentando acionar os atacantes sempre que tinha a posse de bola. Isso permitiu a Veiga duas oportunidades seguidas pelo lado esquerdo.

Justo quando o Papão era bem mais presente no ataque, aconteceu o gol do Macaé. Paulo Rafael soltou a bola cruzada pelo lateral-esquerdo Diego. João Carlos, livre na pequena área, aproveitou o presente. Ainda havia muita água para rolar e os donos da casa insistiam com jogadinhas pelos lados, levando sempre algum perigo com Balotelli e João Carlos.

Depois de um jogo inteiro dedicado a se defender, nem sempre bem, o Papão terminou premiado com o empate a poucos minutos do fim, quando o Macaé parecia já se acomodar com a vantagem mínima.

Veiga sofreu falta junto à linha lateral e Pikachu, até então sumido do jogo, se apresentou para bater. E fez muito bem. A bola saiu alta e traiçoeira, enganando os zagueiros e o goleiro. Ironia do futebol: o jogador mais ausente da tarde saiu glorificado como herói. Foi o responsável pela chamada bola do campeonato. Seu gol pode garantir ao Papão o título brasileiro da Série C.

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A sina do time pequeno

Como se imaginava, o Macaé não conseguiu preencher nem metade da lotação do estádio Claudio Moacir. A equipe interiorana, sem grande apelo popular, o alviceleste da “capital do petróleo” não foi capaz de motivar seus torcedores a prestigiarem um jogo tão importante.

A exemplo do Mogi Mirim, que chegou a vender ingresso a R$ 1,00, o Macaé praticamente distribuiu entradas em promoção que envolveu a prefeitura do município. Tudo em vão.

Menos de seis mil torcedores compareceram ao Moacirzão. Para piorar, o público presente não tinha o entusiasmo necessário para estimular o Macaé. A torcida do Papão, pequena mas acesa, fazia muito mais barulho no estádio.

Todos ressaltam a presença de times como o Macaé nas principais divisões do futebol brasileiro. Sem dúvida, é um avanço. Reflete bons trabalhos de gestão e empenho dos dirigentes. Acontece que, no universo do futebol, nem tudo depende de providências administrativas. Acima de tudo, é preciso conquistar as massas, gerar alegria e paixão.

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Leão ao sabor das incertezas

A semana se prenuncia decisiva para os destinos do Remo na próxima temporada. O clube ainda vive turbulências provocadas pelo desfecho de sua primeira eleição direta. Há quem defenda que a conciliação interna seja tentada a ferro e fogo. Outros, mais contidos, avaliam que a paz só pode surgir naturalmente.

Até sábado, integrantes da atual diretoria – cujo mandato foi excepcionalmente prolongado por 30 dias – buscavam estabelecer pontes com os oposicionistas, ainda abespinhados pela decisão da Comissão Eleitoral, que impugnou a vitória de Pedro Minowa nas urnas.

O recurso interposto por Minowa na Justiça, para validar o pleito, pode obter uma decisão favorável ao longo da semana. O juiz Roberto César Oliveira ficou de ouvir todas as partes envolvidas antes de decidir.

A essa altura, conselheiros e beneméritos mais experientes avaliam que o melhor caminho é mesmo a realização de nova eleição, prevista para 13 de dezembro, desde que não venha a ser abalada por novas falhas primárias de organização.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 17)

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