A fortuna ilusória

Por Gerson Nogueira

Com média mensal de R$ 191 mil de gastos com salários de jogadores, a Primeira Divisão do futebol brasileiro é a sétima que mais torra dinheiro no mundo. A média anual é de R$ 2,3 milhões. A marca brazuca vem atrás de Inglaterra (média de R$ 8,9 milhões/ano), Alemanha (R$ 5,7 milhões), Itália (5,3 milhões), Espanha (R$ 4,9 milhões), França (R$ 4 milhões) e Rússia (R$ 3,6 milhões). O levantamento foi divulgado ontem, em Londres, referindo-se a ligas de 34 países.

O lado curioso da lista é que logo abaixo do Brasil, na oitava posição, eis que aparece de novo o endinheirado futebol britânico. É que a segunda divisão da Inglaterra movimenta anualmente, em média, R$ 1,9 milhão.

Ao mesmo tempo em que atesta a indiscutível força do futebol pentacampeão do mundo expõe o descompasso entre custo e qualidade técnica. Ao contrário das ligas europeias, a Série A brasileira exibe cifras portentosas e clubes paupérrimos, salvo uma ou duas exceções.

Além disso, o futebol que se pratica no país é também um dos mais limitados do planeta, muito abaixo da qualidade demonstrada pelos times europeus, responsáveis por atrair milhões de telespectadores para seus torneios nacionais no mundo inteiro. Prova de que, pelo menos nos gramados, dinheiro não é sinônimo de felicidade.

O baixo interesse dos demais países pelo futebol que se pratica no Brasil é evidenciado pelo quase completo desconhecimento sobre os nossos clubes de primeira divisão. O desconhecimento faz com que até o certame nacional da Argentina, que é um dos mais esvaziados entre os países campeões mundiais, supere o Campeonato Brasileiro em grau de procura pelas emissoras estrangeiras.

Há, ainda, o fato de que boa parte desse custo Brasil levantado na pesquisa do jornal Daily Mail, de Londres, não vem exatamente de dinheiro pago aos jogadores, mas de despesas que os clubes fazem com técnicos de futebol. Dentre os países do chamado primeiro mundo da bola, o Brasil é seguramente um dos que mais gastam com treinadores.

vipcommUma evidência dessa distorção é que Muricy Ramalho, Abel e Felipão faturam mensalmente cifras próximas ao salário que o Bayern de Munique paga a Pep Guardiola e à soma que o Real Madri desembolsa com Carlo Ancelotti, considerados hoje os melhores técnicos em atividade no mundo.

Na realidade, tanto atletas quanto treinadores não conseguem garantir futebol de qualidade no Brasil, fato revelador de que a fortuna envolvida no negócio é no mínimo ilusória.

———————————————— 

A saga de um grande brasileiro

Sérgio Miranda de Carvalho, um craque do basquete carioca mais conhecido como “Macaco”, protagonizou um dos episódios mais marcantes de resistência às forças da ditadura militar no Brasil. Em fato desconhecido pela maioria das pessoas, Sérgio Macaco, que era militar da Aeronáutica, pertencendo ao grupo de paraquedistas ParaSar, foi reformado pelo AI-5. Só receberia de volta a patente de brigadeiro cinco dias após sua morte.

No filme “O Homem Que Disse Não”, do francês Olivier Horn, e em algumas poucas matérias da imprensa nacional, a heroica saga de Sérgio Carvalho é contada aos pedaços.

Consultado por seus superiores quanto a executar um plano de bombardeio ao gasômetro da Avenida Brasil no Rio de Janeiro, em 1968, Sérgio se recusou a assumir a sangrenta missão. A explosão deveria custar centenas de vidas e seria oficialmente atribuída a comunistas e inimigos do regime.

Um pequeno documentário exibido pela ESPN, em alusão à data de 15 de Novembro, desvenda a história deste grande brasileiro, que teve a coragem de se rebelar contra a ordem insana de seus chefes, que até hoje negam o ocorrido. Sérgio ainda sobreviveria a quatro atentados, mas morreu consciente de que tinha escolhido o lado certo na vida.

———————————————-

Galo bate recordes de renda

Com ingressos tabelados entre R$ 200,00 e R$ 700,00, o Atlético-MG botou pouco mais de 18 mil pagantes na Arena Independência no jogo contra o Cruzeiro, abrindo a decisão da Copa do Brasil, obtendo renda de R$ 4,7 milhões – a sexta maior de todos os tempos no país.

É curioso que um dos clubes mais populares do Brasil tenha abraçado com tanto gosto uma política elitista de preços, privilegiando o faturamento à presença do torcedor. Clubes de massa normalmente evitam adotar estratégias restritivas, preocupando-se em manter preços acessíveis à massa.

O Galo, por enquanto, não demonstra preocupação com perda de público. E nem tem motivos para isso, por é o líder absoluto no ranking histórico das 10 maiores arrecadações. São quatro participações, incluindo o primeiro lugar geral: R$ 14.176.146,00, na decisão da Taça Liberadores 2013, contra o Olímpia.

——————————————–

Bola na Torre recebe Vandick

A última pesquisa Ibope atesta a popularidade e a imensa fidelidade do público ao Bola na Torre. Por três semanas consecutivas, o programa se mantém na vice-liderança no Pará, com índices de até 28 pontos, logo abaixo da primeira colocada.

Neste domingo, o convidado especial é o presidente Vandick Lima, do Papão. Apresentação de Guilherme Guerreiro e participações de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. Começa por volta de 00h15, na RBATV, depois do Pânico na Band.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 16)

14 comentários em “A fortuna ilusória

  1. Em um estádio para 20 mil torcedores é mais fácil manter essa política de ingressos altos. Lembrando que MG é um dos Estados mais ricos do país. Mas essa política seria insustentável em um estádio como o Mineirão. Já o Independencia está arrendado para o governo mineiro por 20 anos e é mais barato jogar lá. Então a análise do contexto deve levar em consideração tais fatores. E ainda assim o Atlético é o mais endividado do país.

    Curtir

  2. Entre tantas reformas que precisam ser feitas no Brasil, uma delas é no futebol, paixão do povo brasileiro.

    É inadmissível num país onde se paga menos de 2 mil para um PROFESSOR ( inclusive o RICO estado de Minas, amigo JOTA ), jogador de futebol, ganhar 200 mil em diante e apartamento e mais carro de luxo. Em certos casos, como o do Sheik, ganhar, trabalhar de forma mercenária e fazendo confusão.

    No mesmo passo, nesse mesmo nosso país, o torcedor pagar 100, 200, até 400 reais por ingresso, um ABSURDO! Logico, paga quem poder e quem quiser, mas é um ROUBO.

    Lamento quando alguns amigos aqui mesmo do Blog, falam mal da torcida do papão, que quando “SÓ” leva 300 mil, 400 mil de receita ao clube, é torcedor modinha.

    É MODINHA, vá trabalhar pra ganhar 2 salários mínimos, e ter todas as despesas a cumprir numa família de pelos menos 3 membros, que vc vai saber o que é MODINHA.

    Curtir

  3. Amigo Edson, sua indignação é justa, mas o futebol (e qualquer esporte) é caro em todas as partes do mundo. Fazer esporte é caro, amigo. Não se trata de uma exclusividade brasileira. Continuo depois…

    Curtir

  4. Já chegou no meu celular a careta do Edmundo Neves via facebook, é aniversário do nosso querido papa da arbitragem aqui do Blog.

    Ed, espero que vc viva mais uns 190 anos no mínimo, com muita paz, saúde alegria

    Curtir

  5. Continuando…

    Amigo Edson,

    Óbvio que se paga absurdo para jogadores pernas de pau ou em fim de carreria como Sheik, Kaka e companhia e para técnicos mediocres, quando comparados os principais técnicos da europa, como Abel, Murici, Luxa e companhia…

    Curtir

  6. Prosseguindo…

    Edson,

    Defendo que os espetáculos sejam vendidos pelo seu valor de mercado, pela oferta e procura e, dependendo do estádio, pela localização da “poltrona”.

    Deste modo, Edson, para mim, ir a um jogo é como ir a um show, logo, o preço do show depende do cantor que estará no palco, em outras palavras, penso que um show de Paul vale em reais muito mais do que um show do Fruta Quente (com todo respeito a banda paraense).

    Ao entender o futebol como espetáculo, teríamos a leitura que determinados jogos valem menos do que outros, dito de outro modo, um jogo da fase classificatória vale bem menos do que um jogo final (daí um ponto falho do campeonato de pontos corridos).

    Antes de terminar, digo que é importante facilitar a compra do ingresso (cartão de crédito) para jogos caros, com a finalidade de que os menos endinheirados possam financiar sua entrada (o show do Paul se parcela no crédito), ja que dinheiro na mão é raro muitas vezes (no Pará, por exemplo, penso que vivemos na era das trevas em se tratando de compra de ingressos de futebol).

    (Agora sim)… Para finalizar, há jogos que valem o ingresso de 100 e 200, porém, não deve-se achar que todos os jogos valem isso (o torcedor também tem qie fazer valer seu direito de ir e não ir), pot exemplo, Goias x Corinthians não vale vinte reais, ja que ambos fazem um campeonato apenas regular para ruim.

    Curtir

  7. Amigo Celira, leia a coluna do Prado de hoje no Bola.

    Hoje o Brasil tem o 2° ingresso mais caro do Brasil.

    A contratação mais cara dos times brasileiros, é banco no Santos, Damião.

    Aqui no Pará, temos a bomba do ex 33, que mesmo com o JEC subindo a primeirona, voltará ao baenão.

    São tantas coisas.

    Curtir

  8. Amigo Edson,

    Entendo e concordo com quase todos os teus comentários. Todavia, não podemos pedir que o Paissandu, por exemplo, cobre quinze reais em uma entrada, como alguns desejam. Quinze reais não pagaria o time e nem possibilitaria investimentos em infraestrutura (se funcionasse como empresa). Como lhe disse, o jogo deve ser analisado como espetáculo e cada espetáculo tem seu preço.

    Sobre a contratações equivocadas, digo apenas que é reflexo dá ignomínia que impera nos “donos dos times”, veja o tal do Anderson que queria um fortuna para voltar ao Grêmio… Paga se quiser, mas todos ja sabemos que não vale pagar (o mesmo vale para o rival).

    ps. hoje o cinema custa quase 25 reais, lembro do tempo que pagava sete reais

    Curtir

  9. Celira, o preço praticado pelo Papão tá aceitável, me refiro a ingressos cobrados de 150 reais pra cima.

    O Galo no meio de semana abusou do amor do torcedor, pois cobrou até 400 reais.

    Tudo por causa da mística do Horto.

    Curtir

  10. Amigo Edson, ingressos entre 200 e 700 reais, segundo a coluna do amigo Gerson, é, de fato, um preço abusivo, como afirmaste.

    Todavia, eu acharia natural que o ingresso mais barato (dessa final) custasse100 reais bem como o mais caro 500 reais.

    Explico:

    1) Trata-se de uma final (única final em competição nacional, ja que o chato brasileiro não tem final), logo, é o momento maior do futebol nacional do ano.

    2) Atlético e Cruzeiro praticam o melhor futebol do Brasil,

    3) Vale vaga na Libertadores das Américas,

    4) É o maior derbi de minas.

    Ps.: Amigo, não me tome como elitista, pelo contrário, pertenço ao grupo qie citastes (dos professores), apenas vejo que grandes espetáculos geram grandes receitas que, por conseguinte, ajudam os clubes.

    Curtir

Deixar mensagem para Carlos Lira Cancelar resposta