Ânderson sem fêmur

Por Hiroshi Bogéa – via Facebook

Tudo justificado pela Lei da Chinelagem: o que é bom aparece, o que aparece é bom. Síndrome do infrator de trânsito que não quer ser flagrado pelo pardal. Síndrome do motorista de camionetão brega que não quer ser atrapalhado pela bicicleta. Síndrome do conservador que não quer ser incomodado por movimentos sociais. Síndrome do bêbado que quer ter o direito de dirigir e atropelar alguém. Síndrome da era do “estupro consentido” na televisão. Ao vivo. Síndrome da lei de Gérson: sempre levar vantagem em tudo, certo?
Errado.

– Delicious, delicious!

1336351Que a perna quebrada de Anderson tenha caráter educativo dentro dos lares, para o pai ralhar o filho, toda vez que o flagrar, querendo ver UFC:

– Isso não é coisa pra homem inteligente, filho. Viu que o Spider quebrou um fêmur e ficou com o “encéfalo esponjoso”?

Anderson Silva é o Michel Teló dos novos ringues. Eterno retorno do primitivo como instinto animal. Afinal, não passamos disso. Embora sejamos mais irracionais e perigosos. É como falar em arrogância das bicicletas. Arrogância dos motoristas feridos em seus brios de donos das ruas. Ou em definições jurídicas sobre flanelinhas. Quem define o que é delito ou crime é a sociedade por meio dos seus representantes, os políticos. Tudo é cultural. Cada época com os seus crimes, seus heróis, seus reacionários.Tudo fazendo parte de um caldeirão, o caldeirão da baixaria. Teló, se não fosse tão jovem, poderia ter emplacado o melô da ditadura: “Ai se eu te pego”. Em inglês, ouvi isso, ficou a própria chinelagem globalizada : 

– “Delicious! Delicious!”

Michel Teló precisa ir para o morro descobrir a criatividade e a autenticidade do samba. Já o UFC não tem jeito mesmo. Só serve para bordões rastaqueras como esse do Galvão Malueno, “gladiadores do novo milênio”. Renovação do velho gosto por socos e pontapé na era do sofisticado “ai se eu te pego”, que é uma atualização de outras baixarias e chinelagens, como sempre tem. Chinelagem é assim: não dá nada. Faz o esqueleto balançar. Mas continua sendo chinelagem. É sintoma de alguma coisa. Por que só chinelagem e violência ganham o mundo com tanta rapidez? Chinelagem, violência… Assim troteia a humanidade. Sem complexos, com resposta para tudo e de quatro.

Quando vejo um país construindo idolatrias em torno da porrada, da selvageria e de um bagulho tão anacrônico quanto tourada ou farra do boi – como se viu na noite de sábado -, é desalentador. Os pais bem jovens fazem questão de colocar os filhos diante da TV, na manhã do dia seguinte, para verem os “melhores momentos”, como que na intenção de vasculhar a velha ´teoria´de que homem é aquele que dá porrada. Chamar um troço desses (UFC) de esporte é avacalhar o esporte. É só pancadaria mesmo. Sempre houve gosto pela pancadaria e pelo sangue, da Roma antiga ao boxe, mas em pleno século XXI, assistir a expressividade da violência pela emissora de maior audiência, é o fim da picada. A lei do mais forte, quem bate mais e mais rápido, só serve para estimular o gosto mais ainda pela violência que grassa no país. Sei, sei, “a violência com regras”, “a violência ética”, “a violência disciplinada”. Papo furado. É grotesco.

14 comentários em “Ânderson sem fêmur

  1. Insistindo ainda com esse assunto de violência gratuita? Te dizer! Violência gratuita e pegar as folhas dos nossos jornais locais e ver a manchete – NATAL SANGRENTO! Ora, isto sim e violência desmedida e descabida para o leitor.

    Só se pratica qualquer arte marcial, quem tiver qualificações e uma boa preparação física e técnica. O Anderson Silva fraturou a perna sim, mais o Cesar Ciello também “pode” se afogar em algum competição que venha disputar! Isso chama-se fatalidade, acidente de trabalho, algo que e imprevisível de você adivinhar que possa vir ocorrer com você.

    Agora vai aparecer meia duzia de xiitas aqui do blogue dizendo que estou errado, mais tudo bem, ninguém e obrigado a concordar com o outro, inclusive eu com o texto referente ao meu assunto.

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  2. É amigo André Santiago, concordo contigo, violência é violência de qualquer forma, a que é praticada para vender o MMA e a que é encartada nos jornais para o único fim a sensacionalização para vender jornais, as fotos, as matérias e as manchetes, não se gastaria uma dinheirama com véiculo e pessoas especialistas na área, por isso existe um caderno especial só pra ela, a tal violência, mas a discussão é muito mais abrangente do que podemos imaginar, ela passará pelo tal lucro, aí amigo o negócio é mais em baixo e assim caminha a humanidade!!!!

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    1. Gusmão, o DIÁRIO, como seus concorrentes diretos, mantém um caderno de noticiário policial. Esses cadernos se mantêm – contra a vontade de muita gente nas redações – por absoluta exigência do público leitor. Nenhum jornal (principalmente com os preços do papel importado) publicaria um caderno se não houvesse interesse do leitor. As cartas e manifestações indicam uma preocupação em saber até que áreas da cidade são mais perigosas e o que fazer para tentar se esquivar dos assaltos e furtos. Pode se confundir a cobertura policial (mesmo jornalística) com visão mercantilista? Óbvio que sim, mas a questão que envolve a crítica ao MMA e quejandos diz respeito ao fato indesmentível de que é apenas um negócio que explora a violência, enrustida ou não, das pessoas. Até mesmo na comparação direta com outras lutas – judô, boxe, karatê, jiu-jitsu -, o MMA extrapola todos os limites, a ponto de uma perna quebrada ou um braço fraturado entrar na conta normal de “acidentes de trabalho”. Não defendo a extinção (curte e acompanha quem gosta), só não aceito a designação de “esporte” para a coisa.

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  3. Novamente a velha ladainha da violência no UFC e outros mimimis… é tão simples como o autor do post disse, quem não gosta não assiste, parafraseando o amigo André Santiago, tudo não passou de uma fatalidade, passível de acontecer em qualquer esporte: basquete, vôlei, futebol… (alguém aí se lembra do Tonhão, jogador do Cametá?). o MMA é um esporte (esporte sim!) cujo o intuito não é a violência gratuita e sim a combinação da várias artes marciais dentro de um octógono. Agora se você responsabiliza o MMA e outros do gênero pela violência gratuita na televisão, fique sabendo que ela está presente quase tudo… o que dizer então se estou vendo o jogo de futebol Vasco X Atlético-PR com o meu filho e de repente todas aquelas cenas de selvageria, com bandidos pisoteando a cabeça de uma pessoa pelo simples fato da mesma torcer por outro clube… o que dizer quando ligo a televisão na hora do almoço e vejo programas de péssima qualidade (Metendo Bronca, Barra Pesada e outros) que divulgam a violência gratuita, estupros, assassinatos entre outras coisas mais escabrosas… o que dizer das cenas de tiroteio, homicídio, fraudes que estão abarrotadas em novelas… então, a culpa é do MMA? acho que não.

    – Como diria Cláudio Santos, é a minha opinião…

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  4. Concordo amigos Augusto e Gusmão! Se a culpa fosse apenas do “MMA” seria bom então aquele senhor que se sente lesado por “excesso de violência gratuita” deixar de assistir também aos jogos de futebol. Porquê enquanto o jogo corre solto dentro de campo, a porrada, pancadaria e ate morte nas arquibancadas. Mais a violência só e vista no MMA! Ta certo, então acho bom procurar outra coisa pra noticiar aqui no blogue, porque essa não colou de tentar denegrir o MMA por causa de uma simples FATALIDADE.

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  5. Entendo amigo Gerson, porém vale ressaltar que todos, mesmo aqueles acostumados a acompanhar MMA ficaram um tanto quanto chocados com o acontecido, posso garatir que pernas e braços quebrados jamais serão banalizados no UFC, pois o mesmo é gerido por regras como todo o esporte, é só se informar no que diz respeito aos lutadores, com tantas lutas no ano, quantos atletas quebraram a perna e quantos precisaram sair de maca do octógono, garanto que são pouquíssimos.

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  6. Concordo em gênero, número e grau com a opinião do Gerson Nogueira, jamais vou considerar o MMA como esporte pois aprendi desde a minha infãmcia que esporte é saúde e vida e o que tenho visto em algumas lutas é exatamente o contrário.lutas sangrentas e que muitas vezes deixam o lutador completamente desfigurado, uma verdadeira carnificina.

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  7. Também gostei da matéria. Máxime da passagem em que ele sustenta que ‘assiste o MMA quem quer’. Do mesmo modo que compro o jornal quem quer, ou, comprando, lê a página policial quem quer. ou coleciona os ‘Heróis do MMA quem quer. Na verdade, o jornalista tem todo o direito de expor a própria opinião sobre o assunto. Se está certa ou errada é outra questão. Eu acho que está errada, muito errada. Também tenho este direito. A propósito, eu assisto as lutas, compro o Jornal, leio o caderno policial. Só não coleciono os ‘Herois do MMA’.

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