Por Gerson Nogueira
Humor de torcedor é mais volúvel do que a direção do vento, todo mundo sabe. Desligamentos de técnicos e jogadores de clubes brasileiros costumam ser traumáticos, regados a resmungos, ranger de dentes e até tiroteio verbal, situações estimuladas principalmente pela impaciência da torcida. Quando o coitado sai ficam, no mínimo, mágoas difíceis de cicatrizar. Por esse motivo, surpreende positivamente o ritual de saída de Tite do Corinthians, anunciada no mês passado.
Até o momento, tudo está se desenrolando de uma maneira absolutamente digna e respeitosa, em relação ao clube e à torcida. Espinafrado ao longo da medíocre campanha corintiana no primeiro turno do Brasileiro, o técnico passou a ser alvo de homenagens aonde quer que vá, depois que foi informado de que seu contrato não será renovado.
O tradicional rosário de visitas aos programas esportivos também já começou, permitindo ao técnico externar sentimentos de apreço ao clube que o consagrou e juras de amor eterno à torcida. Verborrágico como sempre, Tite tem destacado com tranquilidade dos bons momentos, vividos principalmente em 2012, com a conquista da Taça Libertadores e a consagração final com o Mundial Interclubes.
Deixa no ar, porém, a melancolia própria dos momentos de adeus. Não evidencia qualquer ressentimento, mas é de conhecimento até das pedras do Itaquerão que Tite foi derrubado por questões políticas internas, alvejado por aliados da diretoria corintiana. Entre insistir com um técnico campeão do mundo em rota de colisão com colaboradores, a cartolagem preferiu lançá-lo à cova dos leões aproveitando espertamente o mau momento na Série A.
Mano Menezes deve ser o sucessor de Tite, para alegria de vários dirigentes, mas sem o mesmo respaldo das arquibancadas. A vexatória passagem pelo Flamengo, que só salvou a temporada sob a batuta do modesto Jaime, não aconselha foguetes e fanfarras por Mano. Apesar de ter uma trajetória respeitável dentro do Corinthians, terá que conviver com o monumental desafio de substituir o treinador mais vitorioso da história do clube.
Quanto a Tite, pode comemorar um feito extra. É um dos primeiros técnicos de ponta a sair sem os açoites do linchamento de torcida e mídia. Preservou-se disso ao aceitar, resignado, o bota-fora que os dirigentes lhe prepararam sorrateiramente. Ao contrário de Emerson Leão na Seleção Brasileira, Muricy Ramalho no São Paulo e Vanderlei Luxemburgo no Flamengo, Grêmio e Flu, Tite consegue subverter a sina de sair pela porta dos fundos. É uma evolução.
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A primeira missão de Papellin
Sergio Papellin, novo gerente de futebol do Paissandu, desembarcou ontem à noite em Belém e uma de suas primeiras missões no cargo deverá ser a contratação do técnico para a próxima temporada. Sidney Morais continua a ter a preferência da direção do clube, mas seu passe valorizou muito desde o final da Série B.
Nos planos do Fortaleza e de várias equipes do interior paulista, Sidney já conversou com os bicolores, mas o acordo não saiu. Dado Cavalcanti, segunda alternativa para a função, é ainda mais caro e conta também com mais pretendentes.
O trabalho de Papellin, recém-saído do Luverdense, é encontrar alguém com o perfil desenhado pelos dirigentes: treinador novo, com bons resultados no currículo e sem os vícios dos profissionais mais rodados.
Só depois de definido o novo comandante é que Papellin deverá entrar de sola na busca por reforços. A avaliação dos remanescentes da campanha na Segundona ficará a cargo dele e do técnico, mas o Papão já contabiliza a perda do zagueiro Raul, que está a caminho do futebol português.
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Dupla vitória dos paratletas
Os paratletas do Clube de Mesatenistas de Barcarena (CMB) conquistaram os três primeiros lugares nas Paralimpíadas Escolares 2013. O triunfo veio junto com o anúncio de que o CMB se tornou o primeiro centro de treinamento oficial do esporte no Estado, fato muito comemorado pelas mais de 70 crianças e adolescentes atendidos no projeto. O CMB tem apoio social da Alumínio Brasileiro S.A (Albras).
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 04)