Por Gerson Nogueira
Em meio à vulcânica temporada de cobranças por parte de torcedores, imprensa e cartolagem, exigindo mudanças no Paissandu, o presidente Vandick Lima resolveu agir e desligou de uma canetada só quatro atletas do inchadíssimo elenco bicolor. A lista é encabeçada pelo veterano Alex Gaibú, pau-pra-toda-obra do time e que participou da campanha do acesso à Série B no ano passado. Além dele, deixarão o clube o volante Esdras, o zagueiro Diego Bispo e o meia Thales.
As surpreendentes reações que se seguiram ao anúncio da medida confirmam que torcedor de fato nunca está satisfeito com nada, e é capaz de discordar dele mesmo em questão de minutos. As queixas decorrem da dispensa de Gaibú, talvez pelo reconhecimento ao conhecido profissionalismo do jogador. Acontece que o futebol, como tantas outras atividades, não vive de sentimentalismos.
Gaibú tem sido utilizado no campeonato como tapa-buraco na lateral-esquerda ou no ataque. Raramente entra como titular e desconfio que nem sabe mais qual sua verdadeira posição, depois de tantas vezes que jogou improvisado. Destaca-se mais pela dedicação e disciplina, qualidades em falta no grupo que o Paissandu reuniu para a Série B.
Ocorre que o elenco precisa ser reduzido sob pena de atrapalhar o trabalho do técnico Vagner Benazzi. Em atenção a isso, Vandick decidiu pelos cortes, mas é provável que mude seus planos diante dos apelos por Gaibú. Diego Bispo, beque de poucos recursos remanescente do Campeonato Estadual, também mereceu solidariedade, embora em nível mais discreto.
Aprovação plena recebeu a outra metade da barca. Sem chances de ser aproveitado, Thales sempre foi observado com desconfiança, apesar da recomendação de Givanildo Oliveira. Mais ou menos a mesma situação de Esdras, que jamais se firmou num setor extremamente despovoado de talentos no Paissandu.
Na realidade, a folga de uma semana antes do duro compromisso contra o Figueirense permitiu a Benazzi avaliar melhor as condições do elenco. Precisa com urgência achar um time com os atletas disponíveis e sabe da complexidade da tarefa. Prejudicado por uma política equivocada de contratações, que se agravou com as sucessivas mudanças de treinadores, o Paissandu tem excesso de jogadores e carência de qualidade.
Muito criticado pela hesitação na hora de dispensar atletas, Vandick decidiu prestigiar o técnico, endossando as dispensas. Não lhe resta outro caminho, a dez rodadas do fim do torneio. Só lhe cabe apoiar Benazzi e torcer para que acerte a mão, a tempo de impedir o rebaixamento. O torcedor que tanto cobra ação precisa entender e apoiar seu presidente neste momento.
————————————————————————–
Grupo intermediário salva desesperados
Uma situação já vista em outras temporadas começa a se repetir no Campeonato Brasileiro deste ano. Por enquanto, são apenas coincidências. O certo é que, há duas semanas, o Coritiba recebeu o Flamengo em Curitiba e comportou-se como se estivesse numa quermesse. Perdeu por 2 a 0, mas podia ter levado uma surra impiedosa tamanha a indolência de seus jogadores.
Na quarta-feira, o líder Cruzeiro derrapou fragorosamente frente a um desfalcado São Paulo. Resultado inusitado que derrubaria meio mundo na antiga Loteria Esportiva. Mais estranho ainda porque o Tricolor paulista é um dos grandes clubes sob risco iminente de rebaixamento.
Ontem, o Fla – que evoluiu bastante sob o comando de Jaime – voltou a enfrentar um adversário pouco empenhado na maior parte do tempo. Em ritmo morno, os rubro-negros marcaram dois gols contra um Internacional irreconhecível. O time gaúcho só ensaiou uma pressão nos instantes finais.
O ponto comum dessa situação é que, além do Cruzeiro, que já está praticamente com o título garantido, Coritiba e Internacional não aspiram ir mais longe no campeonato e nem correm perigo de queda. Estão no blocão intermediário e acabam, mesmo involuntariamente, fraquejando diante de adversários movidos pelo desespero.
————————————————————————
Direto do blog
“Acho um despropósito da diretoria azulina (marcar amistoso com a Tuna na semana do Círio). A sexta e o sábado, imediatamente anteriores ao Círio, são dias em que o Fenômeno Azul não comparece ao estádio. Está descansando, se concentrando fisicamente, para compor dois terços daquele povo que vai enfrentar a maratona de fé, acompanhando a trasladação e o Círio.”
De Antonio Oliveira, azulino espirituoso e atento à maratona religiosa do fim de semana.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 11)