Um genial homem simples

Por André Barcinski

Semaninha miserável para a música: terça-feira passada, Dominguinhos se foi. Sexta, foi a vez de J.J. Cale. O guitarrista norte-americano morreu aos 74 anos, de um ataque do coração. Cale é muito menos conhecido do que merecia, mas não parecia se importar com isso. Era um artista que não gostava de entrevistas e odiava até tirar fotos. Dizia se sentir mais feliz num estúdio, experimentando com novas tecnologias – nunca fui um purista do blues e sempre adorou novidades tecnológicas e bugigangas – do que falando de si mesmo.

1374938462436-jj-calePara o grande público, Cale foi só o compositor de “Cocaine”, grande sucesso na voz de Eric Clapton. Mas para guitarristas, ele foi um mito, um instrumentista que, sob a aparente simplicidade de seu som e modo de tocar, escondia uma técnica primorosa.

Não é à toa que gente como Clapton, Santana, Neil Young, Waylon Jennings, Jack White e tantos outros morriam de amores pelo estilo espartano, quase zen de J.J. Cale. É preciso muito treino e talento para ser simples. De certa forma, J. J. Cale foi o oposto do “guitar hero”.

E pensar que ele quase abandonou a música. Em 1970, Cale ganhava a vida fazendo bicos de motorista, quando Eric Clapton gravou “After Midnight”, que Cale havia lançado em 1966. Foi a bênção de Clapton – e os royalties de “After Midnight”, claro – que persuadiram Cale a gravar seu primeiro LP, “Naturally”, em 1972.

Achei no Youtube a íntegra de um documentário sobre J.J. Cale – “To Tulsa and Back”. Vi os primeiros 20 ou 30 minutos e parece muito bem feito.

O curioso é notar que o filme começa com um show de Cale, em que os músicos vão subindo ao palco, um a um. E ele, o líder da banda e “estrela” do show, sobe ao palco antes do resto da banda, o que diz bastante sobre esse anti-herói da guitarra.

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