Por André Rizek
Os clubes cariocas não jogam no Maracanã desde 2010. O estádio vai ser reaberto neste domingo para seus verdadeiros donos, os torcedores. Em vez de estarmos eufóricos com isso, no Rio de Janeiro se discute apenas de que lado vão ficar as torcidas de Vasco e Fluminense na arquibancada do Maracanã.
Não quero desdenhar de uma tradição de 63 anos, o tempo em que vascaínos estão acostumados a se sentar ao lado direito das tribunas de imprensa. Tradição é coisa séria, sim. Mas não é tudo nessa vida.
Se o Vasco considera o assunto tão essencial, a verdade é que demorou demais para leva-lo à mesa. Todos demoraram. Lá atrás, em 2009, por exemplo, o governo do estado poderia ter aprofundado (ou começado, como queiram) a discussão com a sociedade civil, as torcidas e os clubes sobre como seria a ocupação deste patrimônio público que é o Maracanã. Isso, é claro, não foi feito. E agora o Maracanã tem dono e locatários pelos próximos 35 anos. Foi goela abaixo. O Fluminense, por acaso mandante do jogo de domingo, agora já colocou no contrato todos os seus direitos e deveres. E não está fazendo nada além de respeitá-los.
Os dois clubes poderiam ter chegado a um acordo lá atrás sobre essa questão (menor) de “lado”, ao menos para este primeiro jogo. Mas agora, nas vésperas da partida, pressionado pela maior organizada do Vasco, atravessando uma gestão caótica e que faz do time piada de mau gosto, o presidente vascaíno transforma isso em questão de vida ou morte. É leviano. É jogar para a torcida. É ser muito irresponsável.
Há questões maiores em jogo, para o Vasco, do que o local em que sua torcida vai se sentar. Há questões maiores para o futebol brasileiro. A gente não vê, por exemplo, os presidentes dos clubes debatendo sobre como as pessoas vão acessar o Maracanã. O transporte público, que funcionou tão bem na Copa das Confederações, vai ter a mesma eficiência agora, sem o “padrão Fifa”? Ou vamos voltar ao tempo das cavernas pré-Copa das Confederações? Como será a segurança das pessoas? Os dois clubes estão fazendo campanhas pela convivência pacífica?
Não cresci no Rio de Janeiro e podem usar isso contra mim para dizer que estou falando sobre algo que não vivi. Verdade. Mas, talvez justamente por isso me sinta tão à vontade para opinar.
“A polícia emitiu um laudo dizendo que concorda com o Vasco, que por questões de segurança deveria ser como antes, só vascaínos na entrada pela rampa da UERJ. Vocês vão ver, os vascaínos vão quebrar tudo”. Ouvi isso hoje no almoço de um amigo cruz-maltino, pessoa do bem, mas que se rendeu “ao sistema”. O sistema é achar não ser possível a convivência civilizada entre torcedores de clubes adversários. É cruzar os braços diante da minoria que estraga nosso futebol. Como acontece agora.
A verdade, meus amigos, é que as pessoas que comandam nosso futebol não estão nem aí para o torcedor que vai ao estádio. Eles já têm o dinheiro da TV garantido. Dá muito trabalho, além de irritar as torcidas organizadas, esse negócio de moralizar e pacificar a coisa… Vejam agora. Em vez de estarem juntos numa cruzada pela paz nos estádios, lutando para que tricolores e vascaínos possam ir em paz ao Maracanã, os dirigentes aparecem na TV pregando a discórdia. Ou, no caso do Roberto Dinamite (que decepção, mais uma…), o boicote ao jogo! Será que é possível alguém aparentar ter mais de 10 anos de idade nessa história? É pedir muito?
Um tricolor amigo meu queria levar suas duas filhas, crianças, ao jogo de domingo. Desistiu. Está com medo do clima que está sendo criado. Eu também desistiria. Os dirigentes, há anos, nos mostram de que lado eles estão.
E você, torcedor de verdade, de que lado você está?