Ausência e desinformação

Por Gerson Nogueira

Para quem amarga longa pindaíba, Paissandu e Remo abusam do direito de errar nas contratações e pouco se preocupam com o crescimento de suas dívidas. A situação não é nova, apenas assusta pela repetição. O caderno Bola de anteontem trouxe matéria analítica a respeito das últimas aquisições da dupla, a partir da recomendação de seus técnicos.

Chama atenção nesta temporada a repetição de equívocos na avaliação de supostos reforços, problema que encarece a folha salarial sem se refletir em bons resultados dentro de campo. Os técnicos – só os forasteiros, diga-se – desfrutam de absoluta autonomia para recomendar e trazer jogadores acima do peso, tecnicamente sofríveis e alguns até lesionados.

Tome-se o exemplo do Paissandu. Empenhado em formar um elenco competitivo para enfrentar a dureza da Série C, o clube apressou-se em dar carta branca ao técnico Roberval Davino para indicação de atletas e o resultado até o momento é frustrante.

Alex William, o tão aguardado camisa 10, necessário para arrumar a meia-cancha, perambula pelo departamento médico há mais de 40 dias, penalizando um setor estratégico do time. Um zagueiro lesionado passou três semanas na Curuzu até que se constatou a insensatez de sua contratação.

Até os jogadores que ganharam vez no time titular não conseguiram agradar o torcedor. No ataque, o centroavante Kiros virou titular, mas está longe de se constituir em unanimidade. O lateral-esquerdo Régis, que ameaçou sair dois dias depois da chegada, não se firmou até agora, mostrando-se inferior a valores regionais, como Rayro e Mocajuba.

Fabinho, outro homem de confiança de Davino, até hoje não revelou competência que o torne merecedor da titularidade. Não é superior a Neto, Billy, Leandrinho, Capanema ou Vanderson, os demais volantes do elenco.

No Remo, o quadro é ainda mais preocupante. Jogadores recém-saídos da base, pertencentes ao clube, perdem espaço para importados sem talento. Igor João, zagueiro que foi usado no Parazão, não consegue espaço sequer em jogo-treino. Enquanto isso, veteranos como Santiago – já dispensado – Ávalos e Edinho têm a primazia na hora de jogar.

Situação parecida pune o lateral-direito Tiago Cametá, de estilo parecido ao de Pikachu, mas sem o mesmo cartaz no Baenão. Perdeu vaga para o veterano Dida e não é lembrado nem quando o titular se contunde. Márcio Tinga, volante de recursos limitados, cuja principal referência é o futebol amapaense, ganhou a titularidade no último amistoso. Só saiu do time porque, após várias trombadas e rasteiras, levou o cartão vermelho.

Ainda no meio-de-campo há a incrível história de Edu Chiquita, que passou todo o segundo turno do campeonato estadual esperando para entrar no time, mas foi preterido pelo técnico Flávio Lopes porque havia sido indicado por um desafeto seu. Só foi escalado após a chegada de Edson Gaúcho.

Não satisfeito, o clube ainda trouxe Léo Medeiros, que não emplacou e levou o treinador a pedir outra contratação. Óbvio que foi imediatamente atendido, como se Medeiros não tivesse sido ideia sua, e o Remo prontifica-se a torrar mais uma boa grana trazendo (do exterior) o desconhecido Laionel.

São casos recorrentes, que repetem barbeiragens de outras temporadas. E não adianta culpar Flávio Lopes, Davino ou Gaúcho. A liberdade, que às vezes se confunde com irresponsabilidade, é concedida pelos próprios dirigentes, quase todos ausentes da vida do clube e desinformados sobre futebol.

Em cima da ignorância e da omissão, perpetua-se uma realidade cruel para a sobrevivência dos grandes clubes paraenses, submetidos à vontade soberana de treinadores. Talvez só a providência divina dê jeito nesse crônico descalabro.

—————————————————————

A quarta rodada da Série C reserva ao Paissandu um compromisso dificílimo fora de casa. Contra o Santa Cruz, um dos candidatos ao acesso, o representante paraense entra com o peso do mau resultado em casa contra o Fortaleza e, principalmente, com três desfalques importantes – Pikachu, Capanema e Leandrinho.

No meio-campo, uma aposta de risco: Davino resgata Robinho e barra Harisson. O esquema é o 3-5-2, que, na versão alviceleste, nada mais é que um 5-3-2, pois os dois volantes, Vânderson e Fabinho, jogam como se fossem zagueiros. Nas circunstâncias, um empate será muito bem-vindo.

—————————————————————

A coluna alia-se às homenagens ao aniversariante do dia, o desportista Ronaldo Passarinho, azulino e botafoguense fanático, que responde pelo departamento jurídico do Remo. Cabem a Ronaldo e equipe os méritos pela redução drástica do passivo trabalhista do clube.

Há dois anos, a dívida total chegou a ser calculada em R$ 20 milhões e foi usada como argumento para justificar o projeto de venda do estádio Evandro Almeida.

Desde o ano passado, porém, a partir de um trabalho meticuloso e baseado na negociação, Ronaldo conseguiu reduzir o débito ao valor de R$ 5 milhões. Cerca de 30 acordos foram celebrados na Justiça do Trabalho. É, seguramente, a maior obra da atual gestão remista.

 (Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 20)

24 comentários em “Ausência e desinformação

  1. Se fossem o Charles, o Sinomar e o Lecheva… Mas, falando sério, os jogadores regionais tem um sério problema, quando vestem alvi-celeste ou azuilino, não conseguem produzir com nos outros times. E os técnicos também. Sei que diretoria, torcida e imprensa influenciam, mas é difícil trabalhar na dupla da capital.

    Curtir

  2. Te dizer o amigo Gerson……..

    Vale lembrar, que dos 18 jogadores relacionados para o jogo de hoje do Paysandu, apenas 06 foram indicações do Davino, sendo 5 titulares e 1 reserva(goleiro). Os outros foram contratações do Nad, Lecheva, Dirigentes,….. Porque tudo vai pra cima do bom técnico? Te contar…

    No mais, Parabéns ao grande dirigente do Remo Ronaldo Passarinho, APENAS, pelo seu aniversário. Saúde e felicidades….

    Curtir

  3. achei meio exagerada a análise dos jogadores.
    criticar o Kiros pq ele não é uma unanimidade?
    acho difícil que alguém consigar ser unanimidade. Nem o ganso é unanimidade.
    Regis pra mim foi uma excelente contratação e tem feito bons jogos.
    O alex willians se machucou. como alguém poderia prever isso?. nem ele, nem o técnico, nem quem o contratou tem culpa disso.
    O fabinho não é melhor do que o billy, mas o billy tá machucado. não sei se o neto é melhor que ele mas tá fazendo um bom trabalho e tem merecido a titularidade pois o vanderson há muito tempo não tem mais pernas para jogar em time profissional.
    Não acho que o papão ou o davino tenham errado nessas contratações.
    Agora o que a gente não pode esquecer é que a gente tá na série C. Não dá pra trazer o luiz fabiano pro ataque, nem o arouca e o douglas pra meiuca.
    temos limitações e temos que conviver com elas.

    Curtir

  4. É um problema crônico no dupla REPA. Não lembro nos últimos 08 anos um técnico a frente de dois maiores do Pará que tenham nos feito lembrar bons nomes que nas décadas de 80 e 90 por aqui passaram e formavam equipes competitivas, mas tudo respalda na más gerencias. Gente que não entende de futebol e quer administrar os clubes. Os importados tem se mostrados incompetentes e as recentes conquistas que não foram além de títulos regionais, estas foram conquistados por locais como Charles e Sinomar. E ainda tem torcedor que idolatra lá Barbiere e Flávio Lopes e Cia que não ganharam nem tudo do Parazão.

    Curtir

  5. Sei não, mas tive impressão de ver jogadores (Marcus Vinicius, Fabinho, etc) tremendo diante da torcida que nem estava toda em peso no Mangueirão. Erravam seguidos passes de meia distância. Ou será que são ruins, mesmo?

    Curtir

  6. Concordo com o post 4. Também achei essa crônica do Gerson pesada demais com o Paysandu. Agora acho que falta acreditar mais em jogadores da base. Acredito que o Bartola é excelente jogador pra estar nesse time. Acho até melhor que o Helinton.

    Curtir

  7. Engraçado, amigo Fernandes que se teve essa visão sobre esses jogadores, no Mangueirão e nem estava lotado, como você disse e não se teve essa visão quando os mesmos jogaram na Curuzu, aí sim, lotada… Te dizer…

    Daqui a pouco, se o Paysandu perder(já bati 3 vezes na madeira..rsrs) vão dizer que foi porque o Harison não foi. Era só o que faltava, amigos..

    Curtir

  8. Prezado Cláudio, também não gostei desses jogadores, principalmente os dois que citei, contra o Luverdense. Mas como você bem diz: é a minha opinião ou meu jeito de ver o jogo.

    Curtir

  9. Excelente análise na coluna de hoje. Acho que foi foi direto ao ponto (ou melhor, à “ferida”). Os técnicos fizeram indicações RUINS e ponto ! Kiros é fraco: Bartola, Heliton e R. Oliveira são melhores. Talvez mais antes o Leandro Cearense ou o R. Paty, artilheiros dos 2 últimos estaduais. Kiros é muito limitado, pois só tem a jogada aerea.

    Fabinho e M. Vinícius acho que são fracos. Acho que a única boa contratação do Davino foi o A. Williams, que infelizmente está lesionado.

    Curtir

  10. Outra coisa: essa do Davino de trocar Harrison por Robinho, pode ser um desastre, caso o Robinho jogue o jogo todo. Será que ele já vai pensando em segurar mais no 1o tempo, com o Robinho, e no 2o pôr o Harrison ?

    Curtir

  11. Sobre o meu post-10, esqueci de citar que a outra boa indicação do Davino, além da do Alex W., foi a do Fábio Sanches. Só vejo estes dois prestarem, das indicações dele.

    Curtir

  12. Pois é, Carlos Jr., depois li noutro post do blog que teria sido uma represália do Davino ao Harrison e que teria sido por causa da entrevista do Harrison, comentando que não esperava ter sido substituído. SE foi isso mesmo o motivo, acho que o Davino vacilou, pois bastaria chamar o cara para conversar e contornar o problema.
    Agora, sem meia criativo algum, é esperar que Robinho esteja em dia inspirado. Mas assim….

    Curtir

  13. Vale dizer que quando o Paysandu de Édson Gaúcho ganhou do Rio Branco lá dentro da Arena da floresta, os meias de ligação do Paysandu eram Potyguar e Robinho(aliás, assim como o Davino, Gaúcho promoveu Robinho ao time titular, nesse jogo).
    – Sinceramente, amigo Fernandes, mas penso que se analisa futebol em Belém(não me refiros aos torcedores, como eu e você), pelo resultado de uma partida, o que penso não ser correto.

    Curtir

  14. Concordo´plenamente Gerson. Em que pese a baixa qualidade de amuitos jogadores locais, contrata-se de fora jogadores do mesmo nível ou até pior. E não adianta dizer que com fulano de fora o cicrano rende e com o beltrano local esse mesmo cicrano não rende pois o beltrano local não entende de futebol. Deu raiva ver o Kiros maltratar a bola na segunda e o camarada ter ficado ate o final do jogo como peso morto na frente. Num esporte cada vez mais carente de velocidade, Kiros está na contra-mão dos novos tempos. E o Davino naõ percebeu isso?

    Curtir

  15. Cláudio, não achas que o Potyguar deveria jogar na armação, mesmo que seja conduzindo em velocidade, para depois dar passes ao R. Oliveira e Helinton (acho estes os melhores do elenco) ? Tomara que o Papão arranque ao menos o empate amanhã, para
    minimizar a derrota passada em casa.

    Curtir

  16. Amigo Cláudio, com certeza não, até porque Davino, como todo e qualquer treinador deste planeta, gostaria de ter Messi, Cristiano Ronaldo, Rooney, Riquelme, Kaká, Neymar e assemelhados. Mas acredito que os que estão ai não chegaram aqui por acaso, de paraquedas, e no mínimo foram avalizados pelo treinador. Não podemos colocar só na conta dos diretores e presidentes dos nossos clubes o fracasso de certas apostas por aqui. Ou será que Sidraílson, Fabinho e Kiros vieram pra cá “somente” porque ouviram falar no Paysandu e estavam sem clube? Tomara, já disse, que tenha sido apenas uma pane bicolor na segunda-feira como algumas poucas que virão, haja vista ser comum em campeonatos longos. Mas que saí com a orelha em pé do Mangueirão após o jogo, ah saí…

    Curtir

  17. Gerson e amgos,

    Eu ando a procura de razões para muitas coisas que andam acontecendo há decadas em nosso futebol, e como um analista anônimo que sou,pois não faço parte de nenhuma empresa de jornalismo de nosso estado, mas posso relatar algumas coisas que a todos comvém como por exemplo:A falta de profissionalismo e conhecimento das pessoas que comandam nossos clubles no que diz respeito ao futebol de uma maneira globalizada,pois pelo que estamos vendo a muito tempo não temos dirigentes que acompanham o futebol no Brasil e no mundo,digo isso por que pelos jogadores que eles trazem para cá,percebo que ou estão desinformados ou não entendem “bundas de futebol,vejam bem,tinhamos o Cassiano,e trouxeram o Marcelo Maciel,tinhamos o Edu Chiquita e o Magnum e trouxeram o Ratinho,tinhamos o Marciano e trouxeram o Mendes a por ai vai!Esta semana vi numa reportagem os jogadores do Remo fazendo preparação fisica do lado do alambrado em que não tem sol(brincadeira),eles tem é que ralar e se dedicarem ao máximo por que são atletas e precisam do seu preparo para desenvolver um bom trabalhon em campo.Queria que voces atentassem para uma coisa que há muito venho percebendo devido a falta de conhecimento de dirigentes nossos:Alguns jogadores que aqui chegam,já vem contundidos!Prestem ateção,eles vem para cá,fazem o exame medico(com toda a certeza fazem o maior esforço nas provas físicas para não demostrar dor)e são liberados para assinar contrato,e aí é que vem o golpe,após o jogo de estréia,no outro dia aparecem na reapresentação,vão direto pro DM dizendo que receberam uma pancada no tornozelo ou um tostão na coxa.Será que voces estão me entendendo ? É isso mesmo,os caras só vem de lá quando ninguém os quer,pois para ca só vem os em fim de carreira.

    Curtir

Deixar mensagem para Diogo Silva Cancelar resposta