Por Ricardo Kotscho
Eleição para presidente é bom por causa disso: só acontece de quatro em quatro anos, tem dia e hora para acabar. Em pouco tempo, fica-se sabendo quem ganhou e quem perdeu. No dia seguinte, a vida segue seu rumo. Os vencedores escolhem o time que vai governar e os perdedores reorganizam suas tropas para a próxima eleição. Por isso, como vocês sabem, nem pretendia voltar ao assunto. Nas democracias costuma ser assim, mas não é bem o que está acontecendo no Brasil nestas duas semanas que se passaram desde que fomos às urnas. Em alguns “bolsões sinceros mas radicais”, como se dizia nos tempos dos militares, quando não se podia votar para presidente, nota-se um rancoroso inconformismo com o resultado, especialmente na imprensa e nas redes sociais.
Manifestações diárias deste sentimento podemos encontrar em mensagens e artigos carregados de ira, preconceitos e intolerância que circulam em colunas, editoriais, blogs, celulares, facebooks, twitters e que tais, nas velhas e nas novas mídias impressas e eletrônicas, por toda parte – hoje como ontem, os mais estridentes redutos do que sobrou da oposição radical. Não são tantos como pensam, mas fazem muito barulho.
Um exemplo patético do que pensa este tipo de eleitor derrotado é o inacreditável artigo publicado domingo na Folha de S. Paulo pelo poeta Ferreira Gullar, sob o título “Ah, se não fosse a realidade!”. De fato, se não fosse a realidade das urnas, ele talvez estivesse hoje mais feliz, menos amargo, escrevendo novos versinhos, mas o voto digitado não tem volta e os resultados oficiais já foram proclamados pelo TSE.
A começar pelo trecho destacado no texto – “Ninguém imagina que Lula deixe dona Marisa em São Bernardo para instalar-se na alcova de Dilma” – Gullar destila sua bílis num panfleto carregado de ódio e desrespeito, que não deve fazer bem a quem o escreve, muito menos a quem o lê num final de tarde de domingo como aconteceu comigo.
Viúvo do comunismo de resultados de Roberto Freire, o octogenário poeta ganhou destaque na reta final da campanha eleitoral como uma espécie de líder dos intelectuais de oposição, encabeçando manifestos e abaixo-assinados “em defesa da democracia e da vida”, como se ambas estivessem ameaçadas. Fez o que pode e o que não pode, como se pudesse, para impedir a vitória de Dilma Rousseff, candidata de um governo que ele abomina desde que tomou posse, em 2003. Por isso, ele até hoje simplesmente não aceita a derrota.
“De fato, como acreditar que uma mulher que nunca se candidatara a nada, destituída de carisma e até mesmo de simpatia, fosse capaz de derrotar um candidato como José Serra, dono de uma folha de serviços invejável, tanto como parlamentar quanto como ministro de Estado, prefeito e governador? Não obstante, aconteceu (…)”
Gullar faz parte do elenco fixo de intelectuais e “ólogos” em geral sempre requisitados pela imprensa para escrever artigos ou dar entrevistas contra o governo Lula, a presidente eleita e o PT. Até hoje, tem gente que não admite e não se conforma com as vitórias de Lula em 2002 e 2006, e muito menos com a de Dilma este ano. Premiado porta-letras de um setor da sociedade que o venera nos saraus dos salões elegantes, o poeta é figurinha carimbada, mas agora é hora de renovar o plantel, pois ninguém vai conseguir ler sempre os mesmos lamentos e insultos por muito tempo.
Na semana passada, a mesma Folha recolheu do anonimato dois articulistas do melhor estilo “neocon”, que atribuem aos feios, sujos e malvados as razões de todas as nossas desgraças, e os abrigou em sua terceira página. Primeiro, foi um rapaz chamado Leandro Narloch. Em seu breve currículo, ele informa já ter trabalhado na Veja e que é autor do livro “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”. Sob o título “Sim, eu tenho preconceito”, ele escreveu um texto em defesa da elite branca de Cláudio Lembo e da moça que culpou os nordestinos pela derrota e sugeriu o afogamento deles como solução. É mais um autor “neocon” em busca de um nicho de mercado dominado por “oldcons”.
Pouco importa que, mesmo sem os votos do Norte-Nordeste, Dilma tivesse vencido as eleições do mesmo jeito, com mais de 1,3 milhão de votos de vantagem. A tese dos neocons é que os pobres, doentes e iletrados das “regiões mais atrasadas” ganharam dos sábios, saudáveis e abonados do Sul-Sudeste maravilha, o que para eles é inconcebível.
A segunda a entrar em cena foi a professora doutora Janaina Conceição Paschoal, apresentada ao público como professora associada (de quem?) de Direito Penal na gloriosa Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Na mesma linha, ela publicou o artigo “Em defesa da estudante Mayara” e colocou a culpa pela explosão do “racismo regional” em Lula.
Enquanto a oposição procura juntar os cacos e entender o que aconteceu, sem a participação do seu líder derrotado, que sumiu do mapa e fez apenas uma fugaz e infeliz aparição no Sul da França, o noticiário pós-eleitoral se concentra nas muitas crises entre os partidos aliados na disputa por cargos no novo governo e no superdimensionamento de problemas administrativos enfrentados pela administração federal.
Pelo jeito, boa parcela do eleitorado mais conservador continua sem lideranças na representação político-partidária e no movimento social, embora tenha mostrado sua força na recente eleição, o que leva bispos, poetas, pastores e setores da imprensa a exercer este papel cada vez com maior furor. Como dizia um velho jornalista dos meus tempos de Estadão, o mestre Frederico Branco, ainda nos anos 60 do século passado: eles não aprendem, não esquecem e não perdoam.
Importa saber que essa múmia chamada Ferreira Gullar é nordestino, e do estado mais pobre da região, fazendo esse jogo sujo em prol dos mauricinhos e patricinhas da AV. Paulista. Isso sim, é falta de caráter num velho dessa idade.
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Gerson,
Essa mesma trupe que posa como “defensora da vida, de valores democráticos, republicanos e cristãos” é praticamente a mesma que sente saudades dos homens de coturno, da “guerra invisível”, da doutrina de segurança nacional, do “Brasil grande” e do “milgare econômico”, do “integrar para não entregar (ao povo)”, e das ditaduras de direita e de esquerda (o que deve ser o caso de Ferreira Gullar). Em suma, aquilo que houve de pior em termos políticos nos anos pós-guerra.
A revista Carta Capital (acusada muitas vezes de ser “Chapa-Branca”, mas que traz em suas fileiras de colunistas e ensaístas personalidades que não têm nenhum histórico de alinhamento a governos de orientação esquerdista ou centro-esquerdista, como o economista Antonio Delfim Neto) foi muito feliz ao identificar os conteúdos subliminares presentes nas teses e análises destes setores políticos nanicos (não em tamanho, mas em idéias) sobre as causas da derrota do “preparado” frente a canditada situacionista: o “bom e velho preconceito social e racial” brasileiro, aquele que marginaliza “pretos, pobres e nordestinos” e que, de forma determinista, os culpa pelas tragédias da sociedade brasileira (violência, drogas, crimes, analfabetismo, falta de educação…) e é veementemente defendido de forma velada (embora não seja tão velada assim) por grandes setores da intelectualidade brasileira centro-sulista; uma “intelecutualidade” “cabocla” que quer ser “inglesa”, mas que no seu interior alimenta sentimentos, ódios e revanchismos retrógrados que eles próprios sabem inconscientemente serem incompatíveis com os tais “valores democráticos” que eles defendem. Afinal, será que há democracia de fato com preconceito, miséria, falta de oportunidades e desigualdades? Ao menor sinal de avanço ou pequenas mudanças (sim, foram pequenas, mas abissais se comparadas aos demais governos de nossa história política e administrativa), estes setores reagem, de forma costumeiramente acusatória e difamatória, acusando medidas populares de “populistas”; guinadas à la esquerda e/ou progressistas como indícios perigosos de futuros “atentados à liberdade de expressão e à democracia”. Estes setores confundem, ou melhor, creêm no binômio democracia/liberdade como sinônimo do binômios clientelismo/livre mercado e conservadorismo/concentração da riqueza. Creêm num capitalismo e numa política à brasileira como reguladores da sociedade e que preconizam uma estrutura que combina modernidade e pobreza; exportação de alimentos e fome; condomínios de luxo e violência exponencial; Estado “moderno”, pois deve ser austero e sem o ônus dos serviço essencias ao seu povo, mas “antigo”, pois deve garantir os privilégios de sempre (das elites políticas, econômicas e sociais), atuando para que não possa atuar, ou seja, intervir e regular, o que é, por si só, um paradoxo, aumentado cada vez mais o abismo que segrega grupos e entes país afora.
É o mesmo preconceito que pôs o dedo em riste na face do presidente e disse: “tu não tens diploma”, “falas errado e não és um poliglota”. É aquele, casuísta, que diz que ladrão (sem estirpe) deve mofar na cadeia, mas que para os que têm “procedência” invoca os direitos individuais e exorta os mesmos a recorrerem aos vazios e omissões da lei.
É o preconceito que sente saudades de Golbery, Médici e Figueiredo, que saúda as “teses” de Reinaldo Azevedo (que, ao que parece, em outras encarnações foi membro da Juventude Hitlerista), Diogo Mainard e outros menos votados como os supracitados, excessão feita a Gullar, por Ricardo Kotscho. É o preconceito que hipocritamente criminaliza o aborto e que afirma serem os contemplados pelas bolsas concedidas pelo governo uma “fábica de vagabundos”. É o preceonceito das altas rodas, do movimento “Cansei”, da Fiesp e de alguns “nptáveis esclarecidos” do Rio e de São Paulo. É o preconceito da nossa ilusória “Democracia Racial” (e por que não dizer política também?) à moda Gilberto Freyre. É o preconceito que, como bem disse a Carta Capital em matéria de capa, “ainda sonha com a Marcha”.
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QUE TERROR…dá vontade até DE RIR…VENCERAM E AINDA ACUSAM.NIGNGUEM DEFENDE A VOLTA DA DITADURA E DO COTURNO SÓ QUERIAMOS QUE O BRASILEIRO SOUBESSE VOTAR E ESCOLHER O MELHOR.COM CERTEZA DILMA NÃO É MELHOR PARA O BRASIL…OS NORTISTAS E NORDESTINOS QUE VOTARAM NELA ESTÃO NO FIM DA PÁGINA EM RELATORIOS E PESQUISAS QUE MEDEM DESDE QUALIDADE DE VIDA E MELHORIA EM OUTROS SEGMENTOS…PORQUE NÃO MELHORAM NUNCA ?E ESSES OITO ANOS DO “EU NÃO SABIA DE NADA” NÃO SERVIRAM P NADA?O PRECONCEITO É MAIOR QUANDO O AUTOR FAZ ELUCUBRAÇÕES LEVIANAS…
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É exatamente esse tipo de colocação que expressa o preconceito citado no texto:
O que lhe faz pensar que o Brasileiro não sabe votar? Porque o teu candidato não ganhou? É isso?
O que credencia vc e os seus a quererem isso?
Saber votar pra vocês é votar no candidato escolhido por vocês?
O seu canditado era o melhor? Votaste nele? Ele ganhou? Não? Então pro Brasil com certeza, não era ele!
Qual a certeza de que Dilma não é o melhor para o Brasil? e Por que? Porque nunca exerceu cargo público executivo? E o Lula? execeu? Não? Então porque 80% de aprovação? Será que 80% dos brasileiros recebem o bolsa família?..rsrs!
Sou Nortista, moro no nordeste e minha qualidade de vida é muito boa, mesmo assim votei na Dilma. Ou seja esse papo de fim da página em pesquisas é papo furado!
Em resumo, é recalque de perdedor mesmo. Só que, com um agravante: ESSE PESSOAL TORCE, MAS TORCE MUUUUIIITTTO MESMO!!..Pra que o Brasil dê errado!
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Alberto, não gaste pólvora com chimango!!!
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Levianas? Já vi que não sabes nada de História…
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Coisa de ENEM.
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Essa tese de que só os pobres e sem cultura votaram na Dilma é bobagem. O Alonso é imbecil e votou no Serra…
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Agora como explicar que para ser considerado doido tem que ser flagrado rasgando dinheiro ou comendo dejectos. O trem bala vem aí.
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EI SOEIRO SE EU QUE FALO 3 IDIOMAS E JÁ ESTIVE EM MAIS DE DEZ PAISES SOU IMBECIL IMAGINA VC QUE NUNCA DEVE TER SEQUER CONCLUIDO O ENSINO MÉDIO. EU SEQUER VOTEI,ESTAVA VIAJANDO ,VOTARIA NO SERRA…O MAL DE TODO POBRE E SEM CULTURA FEITO VC É QUE NÃO CONSEGUE SEGURAR UM DEBATE E PARTE LOGO PRA DEMOSNTRAR SUA GROSSERIA…COITADO. O NORTE E NORDESTE É ENGANADO DE TD JEITO PELO SEU SAPO BARBUDO E VCS IMBECIS SE MELINDRAM EM OUVIR VERDADES.COMO DIZEM OS PARAENSES …TE CONTAR HEIN/TENHO PENA DE PESSOAS IGUAIS A VC…
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A argentina deve tá boa “baracái” pro cara vir pra cá!..rsrsrsr!
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Coitado do Alonso fala umas verdades e é atacado inapelavelmente .Tlavez nem tenha lido ainda ,não o conheço e não sou advogado pra defende-lo ,mas acho que esse ranço e esse desrespeito com alguem que encara a coisa de outra forma deveria ser menor,opositor é uma coisa inimigo é outra ,além disso ele está certo.Essa coisa de qu tá td bem no nordeste e aqui no norte só se o cara for doido pra achar que é verdade .Não esquente Argentino Alonso nem todos são comos caras acima.
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Ah preconceitos… preconceitos…
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Putz!… Quero saber quem foram os teus professores. Devem ter sido ótimos, a julgar pela forma que escreves. É imbecil, sim!… É fácil perceber quem é imbecil a partir das suas idéias. É o teu caso. E não tem jeito, como dizem os cariocas: “Tu perdeu, mané!”.
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Soeiro,
Típico caso de quem o olhar “estrangeiro” sobre o país. Veêm de fora e acham que veêm melhor dos que estão “dentro”. Muito parecido com o que os americanos fazem e com o que o FMI fazia com o Brasil até bem pouco tempo.
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