Dia: 13 de novembro de 2010
Arbitragem amiga garante triunfo corintiano
Operaram a Raposa no Pacaembu. Não teve nem disfarce. Soprador de apito cumpriu sua missão e o Coringão segue firme na briga pelo título do centenário. Foi assim em quase todo o primeiro turno, com várias vitórias suspeitas. É assim ao longo da história.
Capa do Bola, edição de domingo, 14
Fazendo churrasco das vacas sagradas do cinema
Por André Barcinski
A revista inglesa “Uncut” tinha uma seção que eu adorava: “Sacred Cows”, ou “Vacas Sagradas”, em que eles faziam picadinho do trabalho de unanimidades da música, arte e literatura. Orson Welles, The Clash, Neil Young, Miles Davis, todos foram vítimas. Era sensacional. Mesmo que você não concordasse com uma palavra dos textos, era encorajador ler algo que fugia da idolatria cega. Fiquei pensando em fazer algo parecido por aqui. E começar pelo cinema. Aí vai, portanto, uma listinha de sete vacas sagradas das telas que, na minha opinião, merecem virar churrasco. Faça sua lista e compare:
2001 – Uma Odisséia no Espaço (Stanley Kubrick, 1968) – Perguntar não ofende, certo? Então aí vai uma pergunta para quem diz que “2001” é um dos maiores filmes já feitos: você realmente viu o filme, ou leu em algum lugar que era grandioso e resolveu abraçar a causa? Se assistiu, achou agradável os 100 minutos sem diálogos? Se emocionou com uma história que não vai a lugar nenhum e não tem clímax? Ou achou uma das experiências mais entediantes e pretensiosas? Se você não suporta “2001”, saiba que não está sozinho: Pauline Kael chamou-o de “o maior filme amador já feito”, e Renata Adler definiu com precisão: “em algum lugar entre hipnótico e imensamente entediante”.
“O Grande Ditador” (Charles Chaplin, 1940) – Fui rever “O Grande Ditador” há uns quatro anos, no cinema. Confesso que não agüentei meia hora. Perdeu totalmente a força e a graça. “Ah, mas não dá para analisar uma comédia dos anos 40 pela perspectiva de um espectador moderno”, dirão alguns. “OK, então alguém me explica por que ‘Em Busca do Ouro’ e ‘Luzes da Cidade’ não parecem ter envelhecido um dia sequer?
“Cinema Paradiso” (Giuseppe Tornatore, 1988) – Piegas, brega e previsível, apela aos sentimentos mais rasteiros com uma cara-de-pau digna de novela mexicana. Tudo – a música, as atuações histriônicas, o clima de realismo mágico, a nostalgia de cartão postal – é irritante.
Beleza Americana (Sam Mendes, 1999) – O filme mais careta, disfarçado de transgressor. A vida de Kevin Spacey é uma monotonia só, até que ele decide mandar tudo pro espaço e “enlouquece”: dá uma banana pro emprego, dá em cima da amiga da filha e – oh, o horror! – até fuma maconha. Mas, na melhor tradição fatalista de Hollywood, acaba levando uma bala na cabeça. Quem manda abandonar a vidinha classe média, Kevin?
“La Strada” (Federico Fellini, 1954) – Como “Cinema Paradiso”, é uma pieguice só, disfarçada de drama neorrealista. Giulieta Masina faz uma menina que é vendida pela mãe para um artista de circo (Anthony Quinn). O resto é só clichê de dramalhão: o maldoso explora a menina que, inocente, cura sua melancolia trabalhando de palhaça no circo. Diabetes a 24 quadros por segundo.
Blow Up – Depois Daquele Beijo (Michelangelo Antonioni, 1966) – Uma relíquia dos anos 60, que deveria ter ficado por lá. Na época, foi visto como um mergulho na loucura e hedonismo da “Swinging London”. Hoje, é puramente ridículo. Impossível não rir com os mímicos jogando tênis ou correndo pelas ruas fazendo algazarra. Difícil acreditar que “Blow Up” já foi considerado sexy e ousado. O que o tempo não faz…
Gran Torino (Clint Eastwood, 2008) – Um velho racista, misógino e fracassado destila seu veneno contra os imigrantes que infestam seu bairro, outrora um paraíso de tranqüilidade e eugenia. Já vimos esse filme antes: chamava-se “Desejo de Matar”, era estrelado por Charles Bronson e foi considerado uma apologia do fascismo. Corta para 2008: Clint Eastwood faz um filme igualzinho, com a diferença que, no fim, ele tem uma recaída moralista e se sacrifica como uma Joana D’Arc moderna. Pelo menos “Desejo de Matar” tinha um charme kitsch, que Clint disfarça como uma lição de humanismo. De doer.
Capa do DIÁRIO, edição de domingo, 14
Os caminhos de Dilma, há oito anos
Por Natuza Nery, da Folha SP em Brasília
“Dilma, é o Palocci. Tudo bem? Gostaria de convidar você para integrar o grupo de transição do presidente Lula na área de energia”. Menos de 24 horas depois do telefonema, um voo da Varig levava a “técnica” a Brasília, cumprindo o que determinava a portaria 47 do “Diário Oficial”: “Nomear Dilma Vana Rousseff” para a equipe. Era 13 de novembro de 2002, há exatos oito anos. Um carro a levou direto ao trabalho. O QG da transição também era no Centro Cultural Banco do Brasil, e o coordenador do grupo, o mesmo Antonio Palocci Filho.
A publicação daquela data trazia outros 14 indicados e curiosas coincidências. Três nomes da lista são hoje cotados para o ministério da ex-técnica desconhecida que se tornou presidente: Miriam Belchior, José Sérgio Gabrielli e Gleisi Hoffmann. Miriam, aliás, tinha à época um cargo mais alto que o de Dilma. “A doutora Dilma não parava. Saía muito tarde do CCBB, pra mais de meia noite. Eu ficava lá esperando”, recorda-se Arilson Cavalcante Pereira, o “faz tudo” que a conheceu no dia de sua chegada e que, até hoje, a serve em variadas tarefas: pagar contas, compensar cheques, fazer mercado e organizar viagens. Atende, orgulhoso, pelo apelido dado pela chefe logo de cara: “Ligeirinho”.
“Eu sempre corria para adiantar o serviço pra ela”, contou, sem conseguir se lembrar de quantas vezes providenciara alimentação de urgência no escritório. Quando a fome apertava, ela engolia um sanduíche de frios e uma maçã.
BOA PAGADORA
Dilma Rousseff hospedou-se na Academia de Tênis, um resort a menos de dois quilômetros do quartel general da transição. Chegava sempre depois da meia noite e, vez ou outra, relaxava em um dos restaurantes do hotel com auxiliares de sua estrita confiança. Não havia assédio da imprensa. Não havia nem promessa de emprego para depois de 31 de dezembro. Uma camareira que está lá desde 2002 confunde as hóspedes: “Claro que me lembro dela. Marina Silva morava aqui, era gente boa”. Um dos funcionários que cuidava do café da manhã a chama de “chata”. Outra, de “exigente”. A então recepcionista, agora chefe do departamento financeiro, elogia a assiduidade com que Dilma honrava a hospedagem: R$ 1.970,00 mensais.
Novata no PT e na transição, não havia honrarias. Dilma e o “grupo gaúcho” dividiam a mesma sala no 2º andar do CCBB com a equipe de petróleo e o pessoal que montava a Secretaria para a Mulher. “Eu, ela e Valter Cardeal [diretor da Eletrobras ligado à presidente eleita] dividíamos o mesmo computador, a mesma escrivaninha. Não tinha lugar pra todo mundo”, relatou Ronaldo Custódio, hoje na Eletrosul.
ERENICE
Foi exatamente nessa sala que Dilma avistou Erenice Guerra pela primeira vez. Ela integrava a equipe de advogados da liderança do PT na Câmara e havia chegado ao núcleo de energia por seu passado na Eletronorte. A identificação foi imediata: ambas eram consideradas duronas e costumavam cobrar muito por resultados. A amizade só se revelaria depois, em 22 de janeiro, quando o “Diário Oficial” estampava a nomeação de Erenice para o cargo de consultora jurídica do Ministério de Minas e Energia, destinado a Dilma. Salário: R$ 6.300,00.
“Na transição, Erenice era nossa referência política, era nossa ponte com a estrutura do PT, porque não conhecíamos o partido muito bem”, afirmou Custódio. Na época, Dilma desembarcava apenas na capital e na transição, mas também no PT -direto do berço do brizolismo, o PDT gaúcho. Oito anos mais tarde, a relação muito próxima entre Dilma e Erenice e os escândalos protagonizados pela ex-braço direito na Casa Civil ajudaram a frustrar a expectativa de Dilma vencer as eleições já no primeiro turno.
O CONVITE
“Palocci, queria sugerir um nome do nosso grupo para integrar a missão internacional a Frankfurt”, disse Dilma ao chefe, em 17 de novembro. “Nem pensar, Dilma, quem vai é você”, respondeu o coordenador. A viagem em questão era um encontro de infraestrutura na Alemanha, e o convite fora feito por Pedro Parente, chefe da Casa Civil no governo Fernando Henrique Cardoso. Era o primeiro sinal de que Dilma poderia integrar o primeiro escalão do Executivo no governo Lula. “Ela não se considerava a líder do grupo e nunca avançava o sinal”, conta Palocci.
CHAMPANHE NACIONAL
Dias depois, outra ligação. “Mantenham segredo, mas o presidente acaba de me chamar para ser ministra de Minas e Energia”, contou Dilma a quatro assessores próximos. A técnica desconhecida assumia uma pasta estratégica do ministério petista. Foi Regina Barnasque, assessora e amiga dos tempos de PDT, quem atendeu o telefonema de Lula. Ela tentou dar os parabéns ao ouvir a novidade, mas Dilma não aceitou. “Sem comemorações. Melhor esperar o anúncio”, disse, precavida. Duas garrafas de champanhe nacional compradas ali mesmo, num restaurante do CCBB, brindaram o Natal, mas não a nomeação.
E a nova ministra entrou no governo em 1º de janeiro de 2003 para ser, nos anos seguintes, muitas vezes mais surpreendida pelos convites de Lula, que primeiro a escolheu para o lugar de José Dirceu e, depois, para sucedê-lo na Presidência da República.
Pequeno show do craque Zé Trindade
Ao lado de Renata Fronzi na comédia “Marido de Mulher Boa” (de J.B. Tanko, de 1960), o impagável Zé “Vou às Mulheres” Trindade arrebenta no papel do paquerador Anacleto. Um clássico da chanchada. Falam em Ankito e Grande Otelo, mas o comediante linha de frente era mesmo Trindade. Quando ele solta “o que é natureezaa…”, não há como resistir.