Coluna: Quando o apagão vira rotina

Apesar de previsível, a derrota do Paissandu reacendeu a velha intolerância em relação aos técnicos regionais. Charles Guerreiro, campeão estadual de 2010 com o time e responsável pela excelente campanha na Série C, passa de herói a vilão em apenas 90 minutos. Verdade que a atuação ficou aquém do esperado, principalmente no começo do segundo tempo, mas antes é preciso considerar determinados fatores que contribuíram decisivamente para o resultado.
As ausências de Sandro e Fabrício, como se imaginava, desfiguraram o meio-de-campo alviceleste e dificultaram as ações da equipe durante boa parte do jogo. O gol sofrido logo aos 4 minutos também afetou a produção do setor defensivo, que parecia tenso com a constante pressão do Águia.
Depois do empate, porém, o Paissandu deu mostras de que poderia brigar pela vitória. Tiago Potiguar, como sempre, assinava todas as manobras mais inspiradas e chegou a deixar Marquinhos na cara do gol, mas o chute saiu torto. Para a etapa final, quando era líquido e certo que o Águia iria pressionar intensamente, surpreendeu a postura acanhada dos bicolores.
Nesse aspecto, talvez nem por orientação do treinador, o Paissandu acabou fazendo justamente o que o adversário queria, pois se limitou a guarnecer a área, abrindo mão de qualquer pretensão no ataque. Em meio ao sufoco, o segundo gol do Águia surgiu até por força da insistência e num lance involuntário de Felipe Mamão, mas poderia ter saído bem antes, tamanha era a presença marabaense no campo de defesa do Paissandu.
Mais que o placar adverso, que não afasta o Paissandu da liderança da chave, Charles deve ficar preocupado com o apagão que vem caracterizando o time no segundo tempo dos jogos. Foi assim contra o Fortaleza, na capital cearense, permitindo o gol de empate do adversário. Ocorreu também em Santarém, mas o São Raimundo não conseguiu marcar. Repetiu-se na partida de volta contra o Fortaleza, no Mangueirão, quando os visitantes chegaram à igualdade já aos 40 minutos do segundo tempo.   
Atribuo a queda de rendimento ao cansaço do principal jogador do Paissandu. Pela condição técnica, Tiago Potiguar assumiu a condição de líder do time em campo. Todas as bolas passam pelos seus pés e depende dele a iniciativa de agredir o adversário. A intensa movimentação em campo cobra seu preço no segundo tempo. Quando Potiguar cansa e pára de produzir, o time afunda.
A situação exige uma reformulação urgente nas prioridades da equipe e na redefinição do papel de Potiguar, cada vez mais indispensável. Para que continue a ser o jogador útil e criativo, não pode ser incumbido de tantas tarefas, inclusive a de marcar a saída de jogo dos adversários. Nesse ritmo, por mais fôlego que tenha, logo deixará de ter o papel crucial que desempenha hoje. E Charles, obviamente, terá ainda mais problemas com que se preocupar. 

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 30)