Maradona volta a cutucar o Rei

Diego Maradona defendeu apaixonadamente a realização da Copa do Mundo da África do Sul e aproveitou para criticar Pelé em entrevista coletiva nesta sexta-feira. Referindo-se ao brasileiro como “morocho”, expressão em espanhol que significa moreno, Maradona lembrou que Pelé via com pessimismo o Mundial na África, principalmente por conta da segurança. “Alguém disse por aí que um senhor ‘morocho’ disse que a África não poderia receber a Copa. Cheguei aqui dois dias depois e falei com o Danny Jordaan (chefe do comitê organizador) e disse para ele ficar tranquilo, que tudo daria certo”, afirmou. Rasgando elogios à organização da Copa do Mundo, o técnico da Argentina vestiu a camisa da África do Sul e agradeceu à hospitalidade no país anfitrião do Mundial.

“As pessoas falavam que na África não dava para fazer o Mundial. Mas tudo o que estamos vendo aqui é mérito de Jordaan, que levou à frente esse projeto. A África do Sul vai mostrar para aquele ‘morocho’ que jogava com a 10 que pode fazer o Mundial”, completou.De acordo com Maradona, o pessimismo de Pelé começou depois do atentado à seleção de Togo durante a Copa das Nações Africanas, no início do ano. “Dois dias depois do atentado estive aqui e disse para a África do Sul continuar fazendo seus estádios e não ligar para os comentários. Ver tudo isso pronto agora me comove”, disse. Sem esquecer o Brasil em nenhum momento, Maradona também afirmou que o grupo do País no Mundial é díficil, mas garantiu que a Seleção Brasileira irá conquistar a classificação para a segunda fase. Para ele, a principal surpresa na primeira fase será a eliminação de Portugal ou Costa do Marfim.

Incrível como o Rei do Futebol incomoda a El Pibe… te dizer.

Tumulto e vibração mexicanas às portas do Soccer

A estimativa da embaixada mexicana em Johanesburgo é de que pelo menos 25 mil mexicanos estão na África do Sul. Nas ruas em torno do Soccer City eles se multiplicam, cantando e dançando, empolgadíssimos. O México é um dos mais assíduos disputantes de Copas, além de ter sediado duas, 70 e 86. Atentos às dificuldades do trânsito, que está engarrafado na maior parte da cidade, os mexicanos chegaram muito cedo ao Soccer.

“Culpados por 2006 foram Ronaldo e Parreira”

Por Fernando Gavini

A frase do título deste post foi proferida numa conversa informal por um funcionário ao alto escalão da CBF, que viveu de perto tudo o que aconteceu na Copa da Alemanha. Para ele, a entidade errou ao permitir a exposição excessiva na preparação de Weggis, mas que os maiores culpados pelo futebol abaixo do esperado e a eliminação nas quartas-de-final num Mundial em que o time era o favorito disparado são o técnico e o hoje camisa 9 do Corinthians. “A parte da CBF, o Ricardo Teixeira já assumiu publicamente em relação à exposição do time. Mas os culpados pelo resultado de 2006, de verdade, foram o Ronaldo, que se apresentou com 7kg acima do peso, e o Parreira, que escalou o time errado”, afirmou.

Para ele, Ronaldo deveria ter sido cortado ao se apresentar em condições físicas tão ruins. Mas o Fenômeno tinha a comissão técnica nas mãos. “Antes da Copa, o Parreira passou uma semana na casa do Ronaldo. Os dois têm negócios juntos. São sócios em uma academia. Na época, o Ronaldo estava negociando a compra da clínica do (José Luís) Runco, mas quando a Copa acabou não falou mais no assunto. Além disso, ele tinha contratado a filha do Marco Antônio Teixeira (ex-secretário geral da CBF e primo do presidente Ricardo Teixeira) para ser sua nutricionista particular”, revelou o funcionário da CBF.

Conexão África (4)

Boatos e dúvidas, mistério e alívio

A impressão de que Júlio César havia deixado o treino da Seleção Brasileira com dores nas costas dominou o noticiário de boa parte do dia em Johanesburgo, pelo menos entre os brasileiros. Acenderam-se de imediato todas as luzes de desconfiança quanto ao estado físico do goleiro e até mesmo sobre sua presença no jogo de estreia contra a Coréia do Norte. Ledo engano. Na movimentação da tarde, Júlio César só faltou voar nas bolas, demonstrando estar em perfeitas condições.
As dúvidas, perfeitamente normais, foram alimentadas pela separação (não só física) estabelecida entre os jogadores e a imprensa brasileira. A comissão técnica só se comunica em dias marcados e as entrevistas diárias são um primor de desinformação, como escrevi ontem. Nada de significativo é revelado, apenas insinuado. Os treinos são captados léguas de distância pelas poderosas lentes das câmeras de repórteres fotográficos e de TV, mas os campos de golfe afastam qualquer possibilidade de contato mais próximo. Num ambiente de total desencontro nos corredores do hotel Randburg Park (fachada ao lado), o mistério predomina. Qualquer boato provoca um corre-corre medonho.
Até nessas horas os métodos antiquados de relação com a imprensa conspiram contra o Brasil. O problema com o goleiro foi o primeiro susto vivido pela Seleção, embora seu substituto imediato esteja pronto para entrar. Se fosse uma substituição temporária, Gomes seria a alternativa natural, até porque entrou (muito bem) nos dois últimos amistosos de preparação.
O incrível dessa história toda é que o Brasil normalmente não se preocupa com goleiros. Ao tratar de futebol, pensamos de imediato nos jogadores de frente. Defesa é, quase sempre, um problema de segunda ordem. Em outros tempos, todas as atenções estariam depositadas nos homens de ataque ou meio-de-campo. Nesta Copa, entre tantas outras coisas diferentes, a defesa é prioritária para os planos da Seleção Brasileira. Nos três anos e oito meses de gestão Dunga, nenhum outro setor do time funcionou tão perfeitamente quanto a zaga. E Júlio César é parte fundamental desse sucesso. Fazia muito tempo que o Brasil não tinha um goleiro avaliado como melhor da posição no mundo. Em excepcional forma, o ex-rubro-negro ajudou a Inter a conquistar a Liga dos Campeões da Europa. Sai bem do gol nos lances aéreos e é quase intransponível debaixo das traves.
Sua ausência lá atrás desmancharia boa parte do sólido desenho defensivo montado por Dunga, que encontra complemento nos beques Lúcio e Juan e vai até os volantes Gilberto Silva, Felipe Melo e Elano. Seria uma perda considerável, inclusive no aspecto do entrosamento e da confiança que todo time deve ter em seu goleiro. Em 70, Félix não era unanimidade nacional, mas seus colegas de Seleção confiavam piamente nele. Jairzinho, Carlos Alberto, Gerson e até Tostão já falaram sobre isso, o que avaliza definitivamente o conceito. Ainda bem, portanto, que o goleiro titular está garantido na Copa.

Outra que aposta na Fúria

Os jornais espanhóis estão babando de pura felicidade desde que Arsene Wenger decretou, em entrevista aqui em Johanesburgo, que não há favorito maior ao título desta Copa que começa hoje. Aficionado do futebol-espetáculo, amante do drible e das táticas ofensivas, o francês que comanda o Arsenal não economizou superlativos para definir o time de Vicente Del Bosque. Para ele, a Espanha é hoje uma seleção de outro planeta. (Quanta inveja a gente sente ao ouvir isso, nós que já merecemos inúmeras vezesesse tipo de adjetivação). Acredita que a Fúria vai ganhar a Copa, mas admite que ingleses e holandeses também podem chegar lá. Sobre o Brasil, uma ligeira hesitação antes de ressalvar qe somos sempre favoritos em todas as Copas. Educado e hábil esse Mr. Wenger.

Festa para o white people

A grande discussão do dia na África do Sul, pelos jornais e em programas de TV, foi a escolha de grupos e artistas internacionais, como Shakira e Black Eyed Pies, para a festa oficial de abertura do evento. Não deixa de ser curioso que, justo na primeira Copa essencialmente africana, tenha prevalecido um gosto musical globalizado, mais ao sabor das grandes corporações musicais do planeta – que, felizmente, agonizam diante do fiasco do modelo das gravadoras ante a expansão de downloads e outros sistemas de captação de música.
E se os escolhidos fossem legítimos representantes da música negra no mundo, ainda vá lá. Mas Shakira só flerta com os ritmos negros como forma de propagar seu pop de inspiração latina. O Black Eyed Pies tem negros na banda, obviamente, mas produz música de corte albino. Como dizem os moradores aqui de Booysens, a festa não é dos negros, é do “white people”. Dona Fifa perdeu boa oportunidade de valorizar ainda mais o lado cultural da terra de Miriam Makeba. Curioso é que Shakira parece ter adquirido a franquia para os eventos relacionados com a Copa do Mundo. Em 2006, foi a atração do show de encerramento da Copa da Alemanha. Se a moda pega, acaba destronando o pessoal do axé e do breganejo no Mundial de 2014. Valha-nos quem?, como diria o Comendador Raymundo Mário Sobral.

Mexicanos cada vez mais animados

Em nosso hotel, hospedam-se alguns torcedores mexicanos. Não disfarçam a confiança cega na vitória hoje diante da anfitriã África do Sul e um baita otimismo quanto ao restante da Copa. O empresário Juan Antonio Olivares, ao lado da mulher Isabel, diz que a seleção de Blanco e Geovani dos Santos passa sem problemas pelos Bafana-Bafana e segue, sem sustos, até as quartas de final. Título? Aí ele dá um sorriso meio tímido antes de dizer que tudo é possível. Há poucos dias, no Centro de Imprensa, topei com jornalistas igualmente entusiasmados com o México. Continuo cético, por pura lógica futebolística, mas sabemos que os homens são movidos pela fé.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 11)

Aventuras gastronômicas no país da Copa

Alimentação é sempre um aspecto preocupante para quem visita um país de cultura diferente, com tradição gastronômica carregada nos condimentos, como é a África do Sul. A cada dia, nesta primeira semana, a equipe da Clube/DIÁRIO procurou errar o mínimo possível nas escolhas, apostando mais nos alimentos conhecidos, como convém a marinheiros de primeira viagem. Ao lado, um prato reforçado (ovos, bacon, tomates, queijo, pão de fôrma e uma mistura meio não identificada e sem sabor) no café-da-manhã. Nosso Walmireko caiu matando e aprovou inteiramente a lambança, abrindo caminho para os demais. Tem sido assim no almoço, que retardamos ao máximo em função dos horários de treinos da Seleção. No jantar, uma sopa ou salada complementam a alimentação diária. Sempre que houver alguma novidade no âmbito do cardápio vou postar aqui.

Presença brasileira nas vitrines e fachadas

Nas lojas, praças e shoppings, as bandeiras dos países representados na Copa estão sempre expostas. Por onde a gente anda aqui em Johanesburgo, a bandeira brasileira está sempre em posição de destaque, em respeito às nossas tradições copeiras. Nas conversas com os sul-africanos, eles demonstram simpatia pelo Brasil pela cor do uniforme e pela presença de Carlos Alberto Parreira no comando da seleção dos Bafanas. Aliás, o nosso popular Pé de Uva está cotadíssimo aqui. Já ouvi torcedor dizer que não importa se a África do Sul cair logo na primeira fase; o importante é que Parreira estruturou o time.

Segundo eles, o técnico anterior, Joel Santana, era excessivamente malandro (incrível como certas características pessoais não passam despercebidas). Quando ganhava, Joel aparecia para conversar com a imprensa. Quando perdia se esquivava para não ter que dar nenhuma explicação. Nem mesmo a boa campanha na Copa das Confederações é lembrada em favor do bom Natalino. O fato é que eles gostam mesmo de Parreira e desconfio que isso também tem a ver com o domínio da língua, que facilita bastante as coisas em qualquer país.

Walmireko em frente à cartaz da Copa no Easth Shopping de Johanesburgo

Buzinaço e empolgação nas ruas

Um clima diferente nas ruas de Johanesburgo nesta manhã fria, mas de sol forte e ventos paralisantes (para um caboclo baionense, claro): carros passam com bandeiras imensas da África do Sul, com as buzinas se misturando ao ruído das vuvuzelas por toda parte, demonstrando a empolgação que toma conta de todos nos momentos que antecedem a estreia dos Bafana-Bafana contra o México de Javier Aguirre, no belo estádio Soccer City. É uma fantástica mudança de ânimo e uma excelente notícia para a própria Copa, que há uma semana não contagiava tanto a massa.