É por ti, Fogo!

Por Ricardo Perrone

Noventa minutos podem parecer muita coisa, principalmente se neles o seu time é humilhado. Em noventa minutos o seu ego vai ao chão ou ao céu, afinal de contas, é o “seu” time, é a “sua” camisa, a “sua vitória e a “sua” derrota. Isso faz do futebol especial.

Mas, perto de 100 anos, noventa minutos se tornam absolutamente nada. Infelizmente hoje em dia a história vale os 90 minutos para muitos torcedores e parte da mídia. Mas não é assim, nunca será. O que aconteceu no Engenhão domingo não reflete o “fim dos tempos”, nem sequer justifica a atitude desesperada e imbecil daquele torcedor.

O Botafogo é um dos mais importantes clubes da história deste país. E isso nenhuma goleada vai mudar. Claro, dói. Eu sei que dói. O meu já tomou de 7 do mesmo Vasco, e pior, da Portuguesa. Eu só não aceito o oportunismo de usar uma semana ruim para tentar desmerecer ou destruir uma história. Pois amanhã, se o Botafogo for campeão brasileiro, os mesmos que hoje insinuam o “time pequeno” estarão exaltando a história e a grandeza do Fogão.

Dizem que o Botafogo está diminuindo, se tornando pequeno. E eu digo, sem medo algum de estar errado: jamais! Bato nessa tecla até o último dia da minha vida. Nos 12 grandes, ninguém mexe. E o Botafogo é um deles.

Com mais torcida que Liverpool e Arsenal, o time tem valor comercial. Basta uma administração competente e ambiciosa a médio prazo que tudo se resolve. É impossível o São Caetano se tornar gigante, porque sem torcedores você não é nada. Tão impossível quanto imaginar que o clube que fez frente ao Santos de Pelé um dia terá sua historia diminuída ou apagada.

“Mas só tem um Brasileiro”, dizem. E desde quando o mundo começou em 1971? Time grande tem essa vantagem. Com camisa, se vai longe em pouco tempo. Para um pequeno conseguir isso, precisa de alguem pagando tudo por trás, sorte, um baita time e a certeza de que amanhã, quando acabar o investimento, volta a ser pequeno. Ao contrário do Botafogo, que pode passar mais 30 anos perdendo tudo, não deixará de ser grande.

Como um dia me disse, brilhantemente, Pedro Bial: “O que são 100 anos pro Fluminense?”. O mesmo se aplica ao Botafogo. Sua torcida, estimada em mais de 3 milhões, está cansada. E qualquer um cansa ao ver um gigante se portar como um qualquer durante anos. Mas, são fases. O que são os últimos 20 anos para o Botafogo?

Quando você abre a boca pra falar sobre a história do futebol brasileiro em sua formação, o maior do mundo, você passa obrigatoriamente pelo Botafogo. Mas, note, curiosamente, não passa pelo clube que hoje mais vence no país, o SPFC.

Isso não diminui o Tricolor, nem o Botafogo. São fases, e estamos apenas encerrando o primeiro centenário deste ciclo. Hoje lá em cima, amanhã lá em baixo, e assim segue o futebol.

Vai chover gente dizendo: “Não ganha nada!”, “Não tem CT”, “Não é grande”, etc, etc, etc. O SPFC, até 1989, não tinha nada também. Estava na “série B” do estadual. E hoje é o que é. O Flamengo, até 2009, vivia esperando o Brasileirão que nunca vinha. Devia, brigava pra não cair. Hoje é o campeão, mais falado do país e novamente o de maior exposição nacional. O Palmeiras ficou 20 anos na fila. Depois ganhou tudo, foi a Tóquio. O Corinthians ficou 20 anos na fila. E ganhou tudo. Vinte ou trinta anos não representam uma história completa, mas sim uma fase dela. O Botafogo está, há anos, em baixa. Isso é fato.

O que, no meu entender, e acho que no dos 3 milhões de torcedores do clube também, não diminui em nada o tamanho e a importância deste gigante do futebol brasileiro. Dias melhores virão. Hoje ou daqui 20 anos, virão.

Estejam certos disso, e jamais ousem rabiscar algumas das mais belas páginas da história do nosso futebol em virtude de tropeços e fases ruins. 

30 comentários em “É por ti, Fogo!

  1. Que belíssimo texto. É alentador, esperançoso e possuídor de uma verdade incontestável: futebol é fase, é ciclo, é momento… mas também é história!

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    1. Fiquei emocionado com alguns trechos desse artigo do Perrone. Ele diz coisas que eu, como torcedor, pensei também e gostaria de ter dito. De fato, o conceito de tempo em futebol é bastante relativo. O que hoje é glória, amanhã periga virar lembrança. E o que hoje é desolação, amanhã pode ser redenção.

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    1. É verdade, amigo Edmundo. É o tipo do texto levanta moral. O Perrone estava inspirado – e olha que não é botafoguense, o que só valoriza sua opinião.

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  2. Gérson, sou torcedor do Papão e não tenho grande simpatia pelo teu fogão, porém a história de um clube é o que ele tem de mais importante, e digo mais, ser grande clube além de ter uma grande torcida tem que ter história. Outro dia aqui no blog o Sérgio Soeiro e outros tentaram desqualificar a nossa história e tiveram a devida resposta.
    Grande texto do chará Perrone.

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  3. Aprendi desde criancinha, com meu velho pai, que torcer pelo seu time seria uma paixão pra vida inteira. Aprendi a ter respeito pelo ser humano, e pelas coisas que amamos. Queimar uma bandeira, rasgar uma camisa, destruir um laranjal …isso não eh coisa de gente normal!!!!
    Isto eh falta de amor e infelismente eh o que anda faltando nas pessoas.
    Mas sempre vemos algo bom numa situação ruim, ver um poema como esse do Perrone, eh algo pra deixar o dia mais apaixonado e melhor, ver que ainda tem muita gente com sua bandeira hasteada, com seu time perdendo ou ganhando mas com a vibração de um eterno torcedor.

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  4. Ricardo,
    Sinto lhe dizer: você está completamente equivocado, amigo!
    O texto, justamente, contradiz o que você está me atribuindo. Nunca, em momento algum, eu desqualifiquei algum clube pelo que ele já ganhou ou deixou de ganhar, não seria imbecil a este ponto. O que critico (e isso você não conseguiu alcançar) é o fato de pessoas (não apenas bicolores, remistas inclusive) ficarem enaltecendo apenas o passado de seus clubes, e ficarem cegos para o presente.
    Respeito as glórias passadas do seu time e acho que você deveria respeitar as do meu. E, se temos que discutir alguma coisa, que seja no presente, que de fato, nos interessa.
    O Perrone escreve justamente o que eu penso. Se você for bom leitor, faça um apanhado e verá que sempre defendi aqui que um clube não desperta paixão por aquilo que ele já alcançou. Fosse assim, todos nós, inclusive você, deveríamos torcer pelo SPFC, que é o clube mais vencedor do Brasil. Eu desafio: peça a um corinthiano torcer pelo São Paulo, pelo fato dele ser mais “vencedor” e espere a resposta.
    Espero que agora eu me faça entender.

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  5. Prezado Sergio, eu jamais neste blog declarei o clube de coração, exatamente para não ficar no lugar comum das discussões envolvendo Remo e Paysandu. Se o fiz é porque muitos não sabem brincar e levam qualquer debate para questões de desqualificar uma e outra instituição. Aqui não é local para essas discussões de disse me disse. Realmente você é o mais inteligente de todos que entram no Blog, conseguindo sempre alcançar aquilo que se quer dizer até nas entrelinhas. Parabéns por sua inteligência.

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  6. Queimar camisa de um clube implica cometer uma violência simbólica que doi n’alma e enterra o sonho que nutre a identidade com uma agremiação. Belo texto! Em Belém, um idiota quis fazer o mesmo com a escultura do Leão, mas também quis a história que o idiota caísse no ostracismo. Mexer com o símbolo imagético destrói qualquer tentativa de tolerância e abre cicratizes mal-fechadas de ódio. Isso não se explica pela razão.

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  7. Lindo esse texto. Meu pai é Botafogo e tenho uma irmã que é fanática. Tenho certeza que o clube sempre será respeitado por sua história. Um clube que teve Garrinha não é qualquer coisa. Um detalhe: sou Flamengo desde criancinha.

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    1. Amiga Fátima,
      Primeiro, é um prazer imenso vê-la por aqui acompanhando os debates no blog deste escriba baionense. Em segundo lugar, obrigado pela solidariedade futebolística. Sempre achei que a história do Botafogo é eterna, pela riqueza de personagens (Heleno, Garrincha, Nilton, Didi, Amarildo, Quarentinha, Manga, Jairzinho, Paulo César, Roberto Miranda, Gerson, Túlio…). E o Perrone tem razão: o Brasil tem 12 clubes “imortais” e ninguém pode mexer com eles. Volte sempre.

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  8. Sou Botafoguense, li o texto e gostei muito, fiquei chateado, pois nem sabia do resultado, um amigo me ligou e acabou o domingo, pior ainda e aguentar a gozação, quanto ao torcedor que queimou a camisa, é o mesmo que depois, vai chorar e comprar uma nova, quando formos campeão? Sou do tempo de Botafogo de Jairzinho, Zeguinha, wendel, Roberto, Mendonça, Mauricio ,Gonçalves, Donizete, Sérgio Manoel, Wilson Gotardo, Wagner, Túlio Maravilha e Dimba, portanto, aconteça o que aconteçer serei sempre Botafoguense, “O time da estrela solitária”

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    1. Nison Dias, Geraldo, Ferreti, Marinho bruxa, Ubirajara, Marcelo, Ziza, Renato Sá, Paulo César Cajú, Brito…
      Sou torcedor do BICOLOR AMAZÔNICO, somente, mas acompanho futebol, desde o tempo em que o Brasil, se pretendesse ganhar algum título, convocava a base do Botafogo de Futebol e Regatas e ponto final.
      Esses, eu vi jogar.

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  9. Cássio! Aquele idiota ao qual voce se refere, salvo engano, queimou a camisa em frente a sede do Remo. Agora penso que pessoas que chegam a cometer este ato de vandalismo são mais apaixonadas que muitos que se dizem doente pelo clube de coração. Repugno tal ato, mas certas situações devem ser melhor avaliadas. O do Botafogo agiu no calor da emoção (isoladamente) o do Remo foi vandalismo mesmo, cercados a outros agitadores.

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  10. Ei, o Cássio está se referindo ao Albertinho, que foi na corda de uns dirigentes bêbados e imbecis, e em troca de grana vestiu o leãozinho de pedra do Baenão com a camisa bicolor, num jogo contra a Tuna. Resultado: de jogador futuroso, tornou-se um marginal, indesejado em todos os clubes.

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    1. Também entendo que o Cássio se refere ao Albertinho; só não o pecharia de marginal, Soeiro; o ato atentatório promovido por ele, como agora lembrado, não autoriza quem quer que seja a atacar-lhe a moral, é de conhecimento público que o atleta não tem passagens pela polícia, portanto, não é o que V. Sª alardeia, seja mais comedido.
      Não conheço pessoalmente o Albertinho, dêle só conheço e admiro o refinado futebol, coisa rara em atacantes, (talento que hoje só vemos em Dodô, Nilmar), cujo futebol foi pelo ralo, não como castigo pelo inusitado ato por ele praticado, “vestir o leão com o glorioso manto celeste do BICOLOR AMAZÔNICO”, mas por carências familiares; das notícias que se ouve, sem autor definido, deduzo que, na verdade faltou ao Albertinho, foi estrutura familiar sólida que o afastasse do consumo do álcool, tão grande mal, banalizado pelo simples nome de gelada.

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  11. Até hoje não entendo quando dizem que o Albertinho acabou no momento em que vestiu a camisa bicolor naquele monumento de pedra azulada. Lembrem-se que um dos gols mais importante do Paysandu na Copa dos Campeões foi o que ele fez (o terceiro) contra o Pameiras quando sofriamos uma grande pressão. Outra, se ele converte o penalty no último minuto conta o Cruzeiro, partiríamos para o jogo em Fortaleza do mesmo jeito que partimos contra o Boca Juniors, e o final seria “peia”.

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  12. Silas, desculpe, mas é marginal, sim!… A não ser que você considere que pichador, por exemplo, não seja marginal.
    O que o infeliz fez foi pior, pois desrespeitou a maioria dos paraenses.
    Amigo, quem tem bom senso não deve mexer com paixão popular.
    Seria o mesmo que um outro infeliz entrasse na Curuzu e tocasse fogo naquela bandeira que fica naquele mastro. Você acha que não haveria nenhuma reação?
    Lembra quando aquele pastor idiota chutou uma imagem de uma santa? Também caiu em desgraça.
    Pra finalizar, ele não pode alegar que não sabia o quanto isto iria prejudicá-lo. A lei não leva em consideração a ignorância dos fatos. Cometeu o deslize, tem que responder as conseqüências.

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  13. Eu sempre soube que todo bicolor é um remista enrustido. E só não vira casaca por medo de gozações.
    1) Já vestiram o Leãozinho com aquela camisa horrorosa;
    2) Já tentaram comprar a marca “Clube do Remo”;
    3) Naquela marchinha que chamam de hino fazem alusão ao Remo;

    Por que tanta inveja?… Enquanto isso, no nosso lindíssimo hino nós dizemos com todas as letras que SOMOS ÚNICOS, NÃO TEMOS RIVAIS.

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