Por coincidência, o árbitro Rodrigo Martins Cintra, que apitará a batalha de Codó, domingo, é o mesmo que se envolveu em ruidosa polêmica com o atacante Washington, do S. Paulo. Além de expulsar o jogador, que reclamou acintosamente de uma marcação, Cintra pegou pesado na súmula. Relatou que Washington o chamou de canalha e sacana, entre outros termos impublicáveis. O artilheiro ameaça processar o árbitro, para desespero dos dirigentes são-paulinos.
Essa situação me fez lembrar uma historinha contada por Casagrande na TV. No começo dos anos 80, quando defendia o S. Paulo, ele participou de um clássico com o Palmeiras arbitrado por Romualdo Arppi Filho, popularmente conhecido como “coluna do meio”, pela sua predileção por jogos que terminavam em empate. O jogo, dificílimo, foi vencido pelo Palmeiras e os jogadores do S. Paulo peitaram Romualdo, xingando e reclamando de suas marcações. No dia seguinte, os jornais estampavam as fotos da dura prensa tricolor no franzino juiz.
Três dias depois, o S. Paulo voltou a campo pelo Paulistão, enfrentando o Juventus. O árbitro era Dulcídio Vanderlei Boschilla, que foi logo avisando Casagrande, Careca & cia. “Olha, quero ver vocês fazerem comigo o que fizeram com o Romualdo. Experimentem”. E, literalmente, tomou conta do jogo. Não deixou o S. Paulo entrar na área, truncou os lances.
Segundo Casagrande, tinha jogador bufando de ódio, mas Boschilla se mantinha imperturbável e ainda prevenia: “Não adianta esculhambar porque não vou expulsar ninguém. Todo mundo vai ficar até o fim do jogo”. Um mais valente deu a entender que podia pegar o árbitro lá fora. “Sei que você anda armado, não tem problema. Eu também uso arma”, encerrou o papo. Final: Juventus 1 a 0.
Moral da história: é bom não desafiar o corporativismo dos árbitros brasileiros. Na dúvida, é melhor não mexer com os assopradores de apito.