Saber lidar com os árbitros virou questão de sobrevivência no futebol brasileiro. Técnicos e jogadores vivem às turras com os mediadores. Quando resolvem bater de frente, geralmente levam a pior, pois as normas desportivas são desiguais e têm aplicações nem sempre coerentes.
Por pura coincidência, o árbitro Rodrigo Martins Cintra escalado para a “batalha de Codó”, entre Sampaio Corrêa e Paissandu, acaba de se envolver em ruidosa polêmica com o atacante Washington, do S. Paulo.
Além de expulsar o jogador, que reclamou acintosamente de uma marcação, Cintra carregou na súmula. Escreveu lá que Washington o chamou de canalha e sacana, entre outros termos ofensivos. Sem testemunhas, vai prevalecer a versão de Sua Senhoria.
Indignado, o artilheiro ameaça processar o árbitro, mas é desaconselhado pelos que conhecem os humores da arbitragem e seu apego ao corporativismo. Aliás, há poucos dias, num programa de TV, o ex-jogador Casagrande contou historinha exemplar sobre o espírito de corpo que une a confraria dos sopradores de apito no Brasil.
Segundo ele, no começo dos anos 80, quando defendia o S. Paulo, disputou um clássico contra o Palmeiras arbitrado por Romualdo Arppi Filho, popularmente conhecido como “Coluna do Meio”, pela sua predileção por jogos que terminavam em empate.
O jogo, duríssimo, foi vencido pelo Palmeiras e os são-paulinos peitaram Romualdo, xingando e reclamando de suas marcações. No dia seguinte, os jornais estampavam a prensa tricolor sobre o franzino juiz.
No meio da semana, o S. Paulo voltou a campo contra o Juventus. Dulcídio Vanderlei Boschilla era o árbitro e foi logo avisando a Casagrande, Careca & cia.: “Olha, quero ver vocês fazerem comigo o que fizeram com o Romualdo. Experimentem”. E, literalmente, tomou as rédeas do jogo. Foi tão vigilante que o S. Paulo não conseguia sequer entrar na área juventina.
Segundo Casagrande, havia jogador bufando de ódio, mas Boschilla se mantinha imperturbável e ainda prevenia: “Não adianta chiar porque não vou expulsar ninguém. Todo mundo vai ter que ficar até o fim do jogo”. Um mais valente insinuou que podia pegar o juiz lá fora. “Sei que você anda armado, não tem problema. Eu também uso arma”, disse Boschilla, ex-policial do temido Dops, encerrando o papo. Final: Juventus 1 a 0.
Moral da história: árbitros erram muito e, de vez em quando, interferem diretamente no resultado, mas é prudente não mexer com a categoria. A represália, quase certa, pode render mais prejuízos.
O Paissandu embarcou ontem para o Maranhão e os jogadores parecem conscientes de que terá 90 minutos para decidir seu futuro na temporada, com desdobramentos (principalmente financeiros) para o próximo ano.
E pensar que, na virada do “turno” da chave A, a classificação era quase certa, até pelo tímido desempenho do Sampaio. Mas ainda há jeito.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 31)
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