Por Xico Sá
Pereira, meu guarda-livros e auxiliar da manguaças tantas, se queixa: procura-se um autor contemporâneo que não tenha sido premiado ou, para dizer o mínimo, indicado a alguma honraria da praça. Ele acaba de voltar da Livraria Cultura. Praticamente todos os volumes espalhados pelos tabuleiros e vitrines continham uma tarja, um invólucro, um selo qualquer anunciando glórias passadas ou possíveis glórias futuras dos escribas.
Quem ainda não jabutizou-se jabutizar-se-á no próximo certame, para citar apenas um dos tantos prêmios da safra. Ah, Pereira, que mal há nisso, homem de Deus, literatura foi sempre tão marginal e escondida, tento admoestá-lo (ele sempre diz q homem que é homem não adverte, homem que é homem admoesta).
Além do mais, caro Pereira, é uma graninha que entra, uma festa para os autores, quase sempre mais lascados que maxixe em cruz. Não tem conversa. Pereira, cuja regra 01 é ler apenas autor morto, blasfema: até admito ler um autor vivo, desde que sem loiros, sem honrarias ou méritos de campeonatos de livros. Danou-se. Pena que vou morrer e não conhecerei este dito cujo.
Pereira, lido e metido, lembra de um conto do Villiers de l’Isle-Adam, um simbolista esquisitão de França, em que um moço se oferece a um diretor de jornal de Paris dizendo-se o único jovem literário sem talento da época, o séc. XIX, pelo que recorda. É o seu grande atrativo para ganhar um emprego, que acaba não levando, por ter demonstrado algum naco de talento durante a entrevista, pelo que conta o Pereira.
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