Coluna: Triunfo da barriga de aluguel

O futebol vive dando escancarados sinais de nivelamento. Na recente Copa das Confederações, por exemplo, a seleção americana passou pela favorita Espanha e foi à final, sendo que, por pouco, não barrou os passos da favoritíssima Seleção Brasileira.
No atual Brasileiro da Primeira Divisão, dois clubes emergentes da Série B, Grêmio Barueri e Santo André, estão brigando palmo a palmo com os bichos-papões nesta fase inicial do torneio. São dois times sem torcida, com gestões pragmáticas, voltadas exclusivamente para o lucro.
O Barueri, que faz a campanha mais expressiva – é o quinto colocado –, chama atenção também pelo artilheiro da competição: Val Baiano, com oito gols. O atacante não é nenhum novato.
Já rodou o Brasil. Perambulou pelo Nordeste, defendeu o Brasiliense e agora sentou praça no Barueri de Estevam Soares. Sempre se destacando na sua especialidade, que é fazer gols, mas sem despertar o interesse dos grandes clubes.
Nunca foi craque, nem mereceu maior badalação, mas é o típico centroavante operário. Daqueles que faz gol de todo jeito – de cabeça, de canela, orelha, sem-pulo. Raramente acerta um gol de placa. O que importa é a objetividade.
Val Baiano é uma espécie de “punk da periferia”, um goleador barato, se é que me entendem. Eficiência é a sua marca. Contra o Náutico, fez os quatro gols do Barueri. À sua maneira. Com simplicidade, sem afetação.
 
 
Vale aqui explicar como funcionam as coisas no Barueri, que segue à risca a receita consagrada pelo São Caetano. O arranjo é sempre o mesmo: empresários do interior paulista se agrupam, investem na contratação de jogadores, alugam a marca do clube e depois recuperam o dinheiro negociando atletas. Como não há torcida, inexiste pressão. Só negócios. Sem traumas ou remorsos.
Os salários, insignificantes para os padrões da Série A (e até da Segundona), são pagos rigorosamente em dia. Não há extravagância, o teto é R$ 10 mil. Como o time é “barriga de aluguel”, nada mais apropriado do que contratar um matador profissional. E, no caso de Val Baiano, o acerto é modesto. Ele, que nem é o mais bem pago do elenco, ganha R$ 9 mil.
Só para se ter uma ideia da política executada no Barueri, tem jogador no Paissandu que ganha quase duas vezes mais que isso. Val Baiano pode nem terminar como o goleador máximo, mas vai ajudando o Barueri a se destacar. Daqui a pouco, aparece um clube europeu – dos mais modestos, certamente – para reembolsar os investidores do clube e garantir a Val Baiano rendimentos à altura de sua comprovada eficiência.
 
 
O escriba concede merecida folga aos 33 baluartes a partir de hoje e aproveita para dar um pulo até Baião. A coluna volta na próxima segunda-feira, 27. Mas o blog continuará no ar.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 21)