
Outdoor no centro de Manaus, assinado por um grupo denominado Policiais pela Democracia, pede “um estado democrático de direito” e questiona se “a lei é para todos”.

Outdoor no centro de Manaus, assinado por um grupo denominado Policiais pela Democracia, pede “um estado democrático de direito” e questiona se “a lei é para todos”.

POR GERSON NOGUEIRA
Há uma semana, discutia-se em todo o Brasil o futuro de Tite na Seleção. Caso conquistasse a Copa América, ficaria tudo bem. Uma derrota, porém, significaria sua demissão. Cenário típico da gangorra dos técnicos, endeusados nos momentos de glória e execrados no primeiro tropeço.
Com o triunfo, até previsível, sobre a seleção peruana o Brasil voltou a sorrir por alguns minutos e Tite deixou o lugar desconfortável de bola da vez na lista dos que estavam prestes a ficar desempregados.
O trabalho desenvolvido pelo gaúcho não pode jamais ser apontado como ruim, mas os resultados frustraram expectativas na Copa do Mundo de 2018. E Copa do Mundo é o que importa para o torcedor, sabemos disso.
Vencer a Copa América é uma obrigação. O que enche os olhos é mostrar qualidade, jogar futebol e levantar a taça no maior torneio do planeta. Isto o Brasil passou longe de alcançar nos gramados da Rússia.
Tite, que havia recuperado a autoestima do escrete com a impecável campanha nas Eliminatórias, prometia muito e entregou pouco. A eliminação para a Bélgica, sem sinais de reação inteligente, foi a pá de cal. Muita gente abandonou a titemania e a popularidade despencou.
O cuidado em montar um time cascudo para a Copa América acabou justificado pelo título. Emprego garantido, embora sem o prestígio de antes, Tite agora terá um breve período de trégua para remontar o escrete, mas a paz segue ameaçada.
Não é tarefa simples, pois ele caiu do pedestal e agora está permanentemente sob avaliação. Em 2020, o Brasil terá outra Copa América e as desconfianças irão brotar outra vez, pois o tempo já será mais curto para apresentar um time realmente competitivo para 2022.
Diante do previsível cenário da próxima temporada, desconfio que Tite teve nas mãos a oportunidade e o privilégio de sair por cima, abrindo mão do cargo na Seleção logo após a vitória de domingo passado, como se chegou a especular. Teria a vantagem de sair com um título nas mãos e deixar as portas abertas.
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Ainda sobre os baluartes do Evandro Almeida
A coluna registra, a título de correção, a presença do ex-presidente Raphael Levy entre os que batalharam contra o projeto de venda do estádio Evandro Almeida na gestão Amaro Klautau. No comentário de ontem, citei pessoas envolvidas em etapas diferentes do processo, incluindo o saudoso amigo Djalma Chaves, mas omiti o nome de Raphael.
Dentro do mesmo tema, recebi do também amigo e leitor Domingos Sávio Campos um recadinho carinhoso, que transcrevo aqui:
“Caro Gerson, li a tua festejada coluna no Diário de hoje. Agradeço de coração a referência feita ao meu nome. Foi uma luta dificílima. Várias vezes pensei que não haveria volta. A dra. Ida Selene, que é minha amiga de faculdade, estava determinada em realizar a permuta com a (construtora) Leal Moreira. Nos ‘acréscimos’, depois de uma longa reunião, felizmente ela pensou melhor e mudou de ideia. Destaco também – lembro perfeitamente – que foste o único jornalista, radialista de rádio, TV e jornal que se posicionou abertamente contra aquela tenebrosa transação, como diz o poeta Chico Buarque. Muito grato”.
Destaco o papel sempre equilibrado e firme da juíza Ida Selene, que buscou de todas as formas compatibilizar as obrigações trabalhistas do clube com a sensatez de preservar patrimônio tão caro a todos os azulinos.
De minha parte, cumpri apenas minha obrigação. Fiz o que os princípios básicos da profissão impunham, apesar da pressão de algumas figuras poderosas e da omissão da mídia esportiva local. Divulguei em 21 artigos informações cuidadosamente checadas, apontando discrepâncias entre o anunciado pelos defensores da negociata e a realidade dos números, claramente lesivos ao clube.
Caso fosse levado a cabo, o projeto de venda teria possivelmente representado o fim do clube, que perderia seu principal patrimônio.
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VAR: protagonismo que incomoda e preocupa
O Campeonato Brasileiro não tem um craque para chamar de seu. Não houve nenhum grande jogo como prova de qualidade. Craque, então, nem pensar. A verdade é que o protagonista da competição é o VAR. Depois da estranheza nas primeiras nove rodadas, o monitoramento por vídeo voltará a dar as cartas neste fim de semana, na retomada da competição.
O público ainda não se habituou com aquelas paradas chatas, que quebram o ritmo das partidas e tiram o entusiasmo quando os gols são anulados. Na Copa América, a demora na revisão de lances causou muita irritação e reabriu a discussão sobre a utilização do olhar eletrônico no Brasil.
Para espanto geral, na quinta-feira (11), a CBF divulgou um balanço com números e comparativos que atestam os benefícios da adoção da tecnologia no futebol. Leonardo Gaciba, que preside a comissão de arbitragem, é um apaixonado defensor do VAR, o que não significa que sob sua orientação o mecanismo esteja sendo bem empregado.
O problema é quando a ausência de revisão causa injustiças terríveis, como a não expulsão do goleiro Diego Alves na partida entre Atlético-PR e Flamengo pela Copa do Brasil. As câmeras não captaram escandalosa infração cometida por Diego.
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Bola na Torre
Giuseppe Tommaso apresenta o programa, a partir das 22h, na RBATV. Ao meu lado, na mesa de debates, a colega Karen Sena. Tudo sobre a rodada da Série C e sorteios de brindes para os telespectadores.
(Coluna publicada no Bola deste domingo, 14)

Passou longe de ser a volta dos sonhos. O Remo reinaugurou o Baenão depois de cinco anos de inatividade, a torcida fez uma bonita festa e lotou o estádio, mas o time sofreu um apagão inicial e levou dois gols do Luverdense tendo que fazer uma partida de recuperação para alcançar o empate no último minuto. “Acho que o início da partida os jogadores realmente sentiram muito o estádio. Se eu tivesse que substituir, teria que trocar quatro logo com 15 minutos de jogo. Aí você tem que ver o quê que está pior para você poder trocar, porque só tem três substituições. Quando eu cheguei no vestiário (no intervalo) acertamos algumas coisas e optamos por tirar aqueles que estavam em situações piores”, observou o técnico Márcio Fernandes ao analisar a partida.
A dramaticidade da partida, em função dos gols sofridos antes dos 10 minutos, foi justificada pelo técnico Márcio Fernandes pela perda de confiança dos jogadores de ataque com a sequência sem vitórias. Além disso, ele atribuiu a má atuação inicial a um certo nervosismo da equipe.
Agora, o Remo acumula cinco partidas sem vencer na Série C. Apesar de se manter no G-4 do Grupo B, o sinal de alerta está definitivamente ligado. Na entrevista coletiva após a partida, o treinador admitiu a queda de desempenho no setor de meio-campo:
“A partir do momento que nós tivemos derrotas, houve um decréscimo de confiança do time. E aí, quando você sai jogando, o jogador não tem a mesma confiança do início. Quando a gente estava vencendo jogos, tudo aparece. Se você fizer uma pesquisa em times que estão com derrotas, os jogadores já não saem muito, ficam perto da marcação, isso atrapalha um time que quer propor o jogo, quer jogar. O ponto forte do nosso time sempre foi a rotatividade do nosso time no meio de campo. A gente girava muito, encontrava os espaços para sair com a bola limpa. No momento que houve um decréscimo de confiança, os jogadores passaram a não sair muito. O nosso meio de campo caiu um pouco, tirando o Yuri, que manteve sempre o nível da nossa equipe”, disse Márcio Fernandes.
Ele elogiou a entrada de Emerson Carioca e Guilherme Garré e ressaltou que todas as substituições que fez visaram aumentar a ofensividade. “Eu sempre procuro levar o time à frente. Eu poderia ter feito substituições de seis por meia dúzia. Isso não ia levar a nada. Temos que arriscar e foi o que eu fiz. Tirei um jogador de trás e coloquei um de frente, coloquei um atacante pelo lado, tentei fazer o máximo para que a gente pudesse chegar lá. Deus nos abençoou com o empate. Acho que as substituições que foram feitas foram em cima do jogo, pela necessidade do momento. E acho que surtiram efeito, conseguimos empurra-los lá para trás. E o Luverdense tomou muito poucos gols no campeonato. Empatam muito, mas tomam poucos gols, então não é qualquer time que faz dois gols neles. Ainda tivemos chances claras e desperdiçamos”.
Fernandes também reclamou do excesso de paralisações e do critério do árbitro pernambucano na hora de dar os acréscimos. “Eu não concordo com os seis minutos. O goleiro deles [Luverdense] caiu, ficou um minuto e meio no chão, e ele [árbitro] não acrescentou nada. Ficou seis minutos do mesmo jeito. Ele falou ‘dei 51’. Beleza, deu 51, mas e o um minuto e meio que o goleiro caiu lá? Porque eu acho assim: se ele dá o acréscimo de dez minutos, que seja, se o goleiro cai e fica um minuto e meio, que acrescente um e meio nos dez que ele deu, se não ele acaba não dando dez, mas só oito e meio. Isso que eu tentei discutir mas ele não entendeu e tudo bem, não vamos colocar a desculpa em cima do árbitro. Eu só questionei porque, naquele momento, poderia acontecer o terceiro gol, tal era a vontade e o domínio do Remo”.
O Remo tem 18 pontos e se mantém na 4ª colocação, dois pontos atrás do líder Juventude e com a mesma pontuação do quinto colocado, o Paissandu. A próxima partida do Leão é na sexta-feira que vem, contra o Ypiranga-RS, em Erechim. (Com informações da Rádio Clube e site Remo100porcento)

O Paissandu ficou por 60 minutos no G4 da chave B da Série C, enquanto vencia o Juventude em Caxias-RS por 1 a 0. Sofreu o empate e voltou à quinta colocação, logo atrás do Remo. Na entrevista pós-jogo, o técnico Hélio dos Anjos procurou valorizar o desempenho do time, que teve várias oportunidades para definir a partida quando o placar lhe era favorável.
“Pelas circunstâncias seria um gosto amargo se não jogássemos bem. Acho que podemos até lamentar, mas jogamos contra a equipe mais equilibrada de toda a competição, também acompanho a outra chave. Nós que criamos a facilidade do jogo, estivemos bem. Chateado pela perda de dois pontos, mas feliz por tudo aquilo que a equipe vem produzindo na reta de chegada da competição”, afirmou Hélio.
Com o empate de 1 a 1 ontem o PSC chegou a sete jogos sem derrota. Em duas partidas seguidas fora de casa, acumulou quatro pontos. Para o treinador, o time cresceu, não é mais facilmente derrotado e está mais forte na reta final da fase de classificação.
“Tivemos quatro chances nítidas de gol quando estava 1 a 0, fecharia o caixão do Juventude, que fez uma jogada perfeita e entrou. Temos alguns detalhes para melhorar, mas jogamos os últimos dois jogos sem jogadores importantes, como o Leandro e o Tiago. O grupo está encorpando, jogando muito bem. Ontem perdi um lateral (Diego Matos), sentiu. O Collaço entrou, experiente, um jogo pro estilo dele”, disse.
Para as próximas rodadas, Hélio dos Anjos projeta duas vitórias nos confrontos consecutivos que terá em Belém, contra Volta Redonda, na segunda-feira (22) e diante do Boa Esporte, no dia 29.
“Sabemos que é muito difícil, mas temos que fazer os seis pontos. Isso será definitivo. Fazendo os seis pontos em casa, criamos muita condição de classificação. Todos estavam jogando seguidamente em casa e agora vamos ter essa oportunidade. Agora é contar com o apoio dos nossos torcedores. O Paissandu tem torcida e isso pesa em uma hora dessa”, concluiu.

Por Jamil Chade
Ao chegar ao prédio da ONU pela manhã, fui surpreendido por um comentário de um velho amigo que estava trabalhando na segurança da sede e que controla quem tem direito de entrar ao local: “só abro para o filho do presidente do Brasil”. Num tom de brincadeira, o segurança apenas anteciparia o que outros diplomatas estrangeiros logo me diriam com um tom de sarcasmo. “Que bom que ele fala inglês. Será que ele tuíta também em inglês?”, disse uma delas, rindo.
Amplamente ridicularizado na imprensa internacional nesta manhã – que chegou a dizer que já temos a nossa Ivanka (Le Monde) – e de se transformar em notícia pelos motivos errados, o governo brasileiro teve a habilidade ímpar nas últimas semanas não apenas de esvaziar de credibilidade sua imagem pelo mundo. Mas de colocar o país como alvo de uma preocupação internacional. Parte dessa tendência ocorre por conta de decisões pouco republicanas por parte de Bolsonaro, como a de nomear seu filho para a embaixada nos EUA.
Na ONU, apenas ditadores como Saddam Hussein ou Gaddafi nomearam seus parentes para cargos semelhantes. E, em muitas ocasiões, o objetivo era o de aproveitar que a sede da ONU estava na Suíça para também fazer uma ponte com os bancos locais. Mas não foi apenas uma reação superficial de surpresa diante de um nepotismo claro. O que causou preocupação internacional foi o fato de o escolhido para ser embaixador ser o representante na região latino-americana de Steve Bannon em seu Movement, um caminho ultraconservador, racista e, acima de tudo, anti-globalista.
Uma representante de um governo acostumado a lidar com a Casa Branca fez uma ressalva: “Washington não respeita lacaios”.
Novos Amigos
A procura de ongs ultraconservadoras por se aliar ao Brasil também se transformou em motivo de surpresa nos corredores da ONU. Num recente episódio, um representante de uma ong que denuncia o “lobby gay” no mundo foi visto conversando com a delegação brasileira. Rapidamente, diplomatas latino-americanos pegaram seus celulares para fazer fotos daquele momento inusitado e, claro, compartilhar a imagem. Uma piada? Sim. Mas logo acompanhado por uma enorme preocupação sobre o que tal aproximação poderia querer dizer.
Dias depois, o Brasil decidiu participar de um evento patrocinado pela ong ultraconservadora ADF International. Para além das alianças e simbolismos, a realidade é que são os fundamentos da nova política externa que chacoalharam com a forma que o resto do mundo passou a enxergar o Brasil. De uma situação de chacota, o governo brasileiro agora passou a ser, de fato, motivo de apreensão. O temor é de que, ao tomar posturas simpáticas a governos autoritários, o Itamaraty esteja simplesmente ajudando a desmontar o consenso que existe no Ocidente sobre o valor dos direitos humanos e de liberdades.
Por seu peso, há quem tema que o Brasil consiga arrastar consigo outros votos, outros países, a uma direção de questionamento até mesmo de conceitos que pareciam sólidos no direitos internacional. Quando um país pequeno ignora documentos internacionais que servem de marco para os direitos humanos como a Declaração de Pequim dos Direitos das Mulheres de 1995, ninguém se preocupa. Mas quando o Brasil da sinais de que está em uma cruzada para minar o sistema de leis e conceitos, um impacto sísmico é sentido.
Nos últimos dias, sob a justificativa de defender os valores da família, o governo Bolsonaro na prática abandonou o grupo de países ocidentais para se aliar a propostas estapafúrdias dos sauditas, paquistaneses, afegãos e outros islâmicos ao tentar limitar direitos das mulheres na ONU. Países que diariamente violam os direitos de “pessoas de bem”. Países que matam quem pensa diferente. Países que querem, entre outras coisas, a destruição de Israel, uma referência aos grupos evangélicos no Brasil.
Curiosamente, a sempre vocal embaixadora na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, ficou muda. Não explicou em nenhum momento as decisões do Itamaraty sobre a família diante dos demais países. Vergonha, falta de instrução da capital ou decisão deliberada de não prestar contas? Será que as pessoas de bem não mereceriam saber o motivo da guinada por parte do governo? Afinal, o chanceler insiste que a nossa nova política externa tem como base a vontade popular.
Na quinta-feira, um embaixador latino-americano de grande influência na região desabafou: “precisamos do Brasil do lado certo da história. Que piada é essa de defender a visão saudita dos direitos humanos?!?” Entre os diplomatas estrangeiros, a tese é de que os votos brasileiros por resoluções ultraconservadoras sejam cuidadosamente calculados para que o país tenha o apoio de ditaduras e mesmo da Rússia para temas de seu interesse ou candidaturas para cargos internacionais.
Mas, se esse for o caso, a pergunta que deve ser feita é simples: onde estão os princípios desse governo de “pessoas de bem”? Vendem suas filhas em troca de apoio político?
Orloff
As decisões foram além. Numa resolução proposta pelos europeus e que pedia que as 27 mil mortes nas Filipinas de Duterte fossem investigadas, o Brasil se absteve e não apoiou a ideia de um inquérito internacional. Rapidamente, a postura foi interpretada como um temor do governo Bolsonaro de que seja, em alguns meses, o próximo a ser alvo de uma investigação internacional por sua “guerra contra a violência”.
“É o efeito Orloff”, ironizou um observador na ONU. Em suas promessas de campanha para um cargo de mais três anos no Conselho de Direitos Humanos da ONU, o governo Bolsonaro abandonou todas as referências aos direitos dos grupos LGBT, assim como omitiu a homofobia ou qualquer combate à tortura.
Entre os diplomatas brasileiros pelo mundo, o sentimento de muitos é de enorme constrangimento. Vários deles estão satisfeitos por estarem tão distantes do poder que sequer são lembrados. Outros, começaram a contar os dias até as próximas eleições, enquanto alguns buscam remoções, se apresentam para empregos fora da diplomacia e até pedem um período de afastamento. Dezenas deles em grandes capitais pelo mundo emergente e rico ainda tentam, de forma republicana, influenciar os rumos da política externa, fazendo sugestões corajosas. Outros, simplesmente prendem a respiração, esperando aguentar mais três anos e meio.
Mas a cada golpe, sabem que a distância para que recuperem a credibilidade fica ainda maior. Pior: temem pelas instruções que receberão no dia seguinte. Aliado aos piores regimes do mundo em direitos humanos, parceiro de governos que questionam as mudanças climáticas, incapaz de desenhar a fronteira entre religião e estado laico, o Brasil não é apenas ridicularizado. Hoje, é também alvo de enorme preocupação internacional.
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