
POR GERSON NOGUEIRA
O triunfo sorriu para quem mais precisava dele. O PSC deu mostras de determinação desde os primeiros minutos. Foi extremamente aplicado nas providências para tirar o Remo da zona de conforto e a marcação alta exercida nos 20 minutos iniciais provou o acerto da estratégia. O controle do jogo foi bicolor na maior tempo e o gol da vitória veio no 2º tempo, ironicamente quando reinava equilíbrio e a dinâmica ofensiva do PSC já não era tão intensa.
Clássicos dependem muito de atitude das equipes. Cautela excessiva logo de cara em geral indica pouco interesse na vitória. Quem toma a iniciativa tem a vantagem de impor o ritmo e assumir o controle. Foi mais ou menos o que se passou ontem à noite, no estádio Jornalista Edgar Proença.
Insistente na pressão sobre a saída de bola do Remo, o PSC predominava no campo de ataque, mas não aproveitava as oportunidades surgidas. Quase não incomodou o goleiro Vinícius. Sem centroavante fixo, o Papão começou apostando nas arrancadas de Elielton, com aproximação de Tiago Luís e Nicolas. Tiago Primão exercia (bem) o papel tático de resguardar os avanços de Elielton ajudando a fechar a meia-cancha.
Como o Remo jogava abraçado à cautela e aparentemente mirando no empate como bom resultado, o PSC foi se sentindo cada vez mais à vontade, dentro dos limites planejados por Hélio dos Anjos. Dessa maneira, Uchoa arriscou de fora da área, assustando o goleiro Vinícius. Depois, Tiago Luís mandou tiro cruzado, mas a bola subiu muito.
Outro bom momento foi quando Leandro Lima bateu escanteio, Nicolas raspou de cabeça e Micael quase alcançou a sobra no segundo pau. E Elielton ainda desperdiçou um contra-ataque precioso, tentando levar a bola sozinho tendo Tiago Luís livre ao seu lado.
O Remo quase não incomodava e, quando atacava, Emerson e Gustavo não acertavam o passo. Carlos Alberto mostrava-se distante da área e Garré, substituto de Douglas Packer, fracassava na missão de comandar a transição.
Na etapa final, Hélio dos Anjos trocou Leandro por Diego Rosa, mas não alterou o sistema. Márcio Fernandes, ao contrário, trocou Garré por Djalma e mexeu na articulação. Fortaleceu a marcação, mas perdeu em criatividade, reforçando a impressão de que estava satisfeito com os rumos da partida. Garré não atuava bem, mas com Djalma o time ficou mais preso à marcação.
Curiosamente, o Remo teve duas excelentes oportunidades para abrir o placar. Um rebote na pequena área caiu nos pés de Carlos Alberto, que finalizou mal. Depois, o próprio meia arriscou da entrada da área, mas Mota espalmou para escanteio.
Emerson, improdutivo na frente, foi então substituído por Marcão Santana. E, por quase 30 minutos, Fernandes manteve o Remo apenas cuidando de bloquear e eventualmente chegar pelos lado, com Vançan e Gustavo. Mas a mexida fundamental, na articulação, só aconteceu quando o PSC chegou ao gol.
A jogada nasceu de um escanteio cobrado por Tiago Luís pela direita do ataque. O cruzamento veio baixo e Uchoa tentou o cabeceio, mas perdeu o tempo da bola. Na sequência, Micael tocou de leve com o calcanhar e deu um passe precioso para Uchoa encher o pé, sem defesa para Vinícius.
Em desvantagem, Fernandes tirou Marcão e botou Packer em campo. Só então o Remo teve alguma coordenação e lucidez nas saídas para o ataque, mas não havia mais tempo para muita coisa.

Após a partida, Hélio dos Anjos observou que clássico é algo especial, que deve ser levado muito a sério sempre. No extremo oposto, Márcio Fernandes entendeu que o jogo não muda muita coisa, nem chega a ser um divisor de águas.
Ponto para Hélio. O Re-Pa não é jogo normal, deve ser sempre observado como algo muito especial. O PSC encarnou essa compreensão e saiu vitorioso. Com méritos.
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E, de repente, tudo vira do avesso
De time que amargava jejum há oito partidas, o PSC se transformou em 90 minutos no time que está invicto há quatro jogos. O Re-Pa tem o condão de virar tudo do avesso, inclusive mudando realidades e perspectivas.
Em quarto lugar no grupo B, o Papão encurtou também a distância para o maior rival. Antes do clássico, o Remo tinha cinco pontos de vantagem. Essa gordura caiu para apenas dois pontos.
Tudo volta ficar em aberto para o segundo turno e a próxima rodada pode permitir até uma ultrapassagem do PSC. Caso os bicolores vençam o Ypiranga, no Mangueirão, e o Remo não pontue em Varginha, a situação se inverterá.
Confirma-se, mais uma vez, a certeza de que o Re-Pa é apaixonante e intenso, capaz de reabilitar quem parecia desconectado e interromper uma campanha que se mostrava exitosa.
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Pantera e Tubarão chegam às oitavas na Série D
O São Raimundo empatou fora de casa e garantiu classificação. O Bragantino perdeu em Fortaleza, mas também passou à próxima etapa da Série D. Os dois representantes paraenses tiveram atuações que permitiram a classificação, a partir das vitórias nos jogos de ida.
Na próxima etapa, o São Raimundo encara o Manaus-AM e o Braga pega o Floresta-CE. Desafios complicados, mas a dupla tem condições de seguir em frente.
(Coluna publicada no Bola desta segunda-feira, 24)