POR GERSON NOGUEIRA
O calendário predatório que a CBF organiza anualmente para os clubes brasileiros começa a ser deformado, por força da necessidade, neste final de temporada. Cinco federações decidiram, sem muito alarde, alterar as latitudes e longitudes da agenda imposta pela entidade que manda, desmanda, prende e arrebenta no futebol brasileiro.
A rebelião começa amanhã. O marco zero é o pontapé inicial para o Campeonato Carioca 2019, mais de uma semana antes do começo da próxima temporada. Em gesto que tende a se repetir entre as principais federações, a Ferj decidiu rasgar o calendário oficial divulgado pela CBF há semanas.
Os termos da programação bancada pela confederação dizem que “o calendário do futebol brasileiro em 2019 inicia no dia 2 de janeiro, com a abertura da pré-temporada, que terá 18 dias, quatro a mais do que em 2018. Os campeonatos estaduais continuarão a ter 18 datas disponíveis, entre 20 de janeiro e 21 de abril, respeitando a qualificação técnica obtida neste ano e os contratos vigentes”.
Essas anotações pontuais foram completamente ignoradas pela federação do Rio de Janeiro. Como terá uma etapa preliminar, com seis clubes buscando vagas para as fases principais, que se iniciam a 20 de janeiro, o Cariocão precisou ser antecipado, sem se preocupar com as vontades da entidade.
O certame cearense também vai diretamente contra as ordens da CBF, começando no dia 6 de janeiro – Fortaleza e Ceará só ingressam na competição a partir da segunda fase.
O campeonato potiguar começa no dia 9 de janeiro e o sergipano será aberto a 12 de janeiro. Em Santa Catarina, há uma situação especialíssima, que radicaliza o discreto movimento de rebeldia empreendido por algumas federações. O torneio estadual começa em 16 de janeiro, sem respeitar os 18 dias de preparação recomendados pela CBF.
Aos poucos, fica mais ou menos claro que os superpoderes da entidade controladora começam a ruir, o que pode não ser uma notícia ruim. Seria o começo da reação para retomada das rédeas do futebol no país? Talvez seja cedo para cravar com segurança nessa alternativa.
O fato é que algumas federações nem se deram ao trabalho de respeitar o período regulamentar de começo da competição, preferindo abrir suas disputas estaduais a partir do final de janeiro, com redução das datas disponibilizadas.
É lícito esperar que ocorram novas e acentuadas quebras de protocolo, caso a CBF não tome providências para reprimir o descumprimento de seu decreto. O exemplo está dado pelas cinco federações insurgentes. Até prova em contrário, a confederação não foi consultada a respeito das alterações de datas, o que torna sem muito sentido a formatação que elaborou para o próximo ano.
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Grande perda para o basquete – e o desporto paraense
O Pará perdeu ontem um dos maiores basquetebolistas de sua história. O desporto regional perde um de seus baluartes. Atleta exemplar, respeitado por todos em quadra, colegas e oponentes, Sérgio Paiva teve sua partida lamentada por todos que conviveram com ele e são testemunhas de sua trajetória.

Médico pediatra, dedicou grande parte da juventude a defender as cores do Remo, conquistando o histórico heptacampeonato da modalidade. Ronaldo Passarinho, amigo de longa data, foi um dos primeiros a informar a coluna sobre o ocorrido, lamentando e fazendo questão de ressaltar a figura de Sérgio. Segundo ele, símbolo daquela equipe heptcampeã.
O consolo é que grandes atletas e homens jamais serão esquecidos.
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Heranças de um presidente aloprado
Maurício Assunção assumiu o Botafogo com promessas de modernização. Enganou muitos com a retórica empolada das muitas consultorias picaretas que pululam pelo país, desgraçando incautos. Participava com desenvoltura dos programas esportivos, com a conversa mole dos bons malandros.
Trouxe Clarence Seedorf, sem dúvida uma grande sacada, mas comprometeu irremediavelmente as contas do clube, já precárias quando assumiu. Gastou uma fortuna para contratar o craque holandês, fez uma boa figura no Campeonato Brasileiro e ficou nisso. Em seguida, a casa caiu.
No ano seguinte, quando já começavam a surgir denúncias sobre os desmandos da gestão, encaminhou o rebaixamento do time para a Série B, pela segunda vez, seguindo a cartilha obrigatória dos clubes condenados à degola: atraso de salários e inimizade com os líderes do elenco.
Escorraçado do clube nos anos seguintes, Assunção tem sua marca sempre relembrada a cada mau passo e enrosco financeiro que se abate sobre a Estrela Solitária. A mais recente é a condenação por salários devidos a Oswaldo de Oliveira no valor de R$ 6,5 milhões.
Um duro baque para uma gestão que buscava reerguer o clube em meio a muitas dificuldades. Que sirva de lição para os que costumam cultuar a cartolagem perniciosa.
(Coluna publicada no Bola desta quinta-feira, 21)






