A história de Carlos Henrique Raposo, o Kaiser, já é bem conhecida no Brasil há quase dez anos. Apelidado de “Forrest Gump brasileiro”, ele foi um jogador de futebol que se aposentou aos 41 anos de idade e sustentou uma carreira de mais de duas décadas sem praticamente ter entrado em campo em partidas oficiais.
Ele passou por grandes clubes no Brasil e esteve no elenco até de times estrangeiros, mas seus grandes atributos não eram chutes, passes ou dribles, e sim sua rede de relacionamentos e uma boa dose de malandragem.
Agora, sua história é do mundo inteiro. Foi lançado na última semana, em Londres, o documentário Kaiser: The Greatest Footballer Never To Play Football (em português, “o maior jogador de futebol que nunca jogou futebol”).
O filme foi produzido ao longo de três anos e foi exibido e premiado no Festival de Cinema de Tribeca em abril, nos Estados Unidos. A ideia era lançar na Inglaterra em julho, em circuitos restritos, mas a recepção de público e crítica foi positiva à história do brasileiro.
“A avaliação do filme é sempre de quatro ou cinco estrelas. Aparecemos em todos os jornais do Reino Unido e vários programas de TV. Tanto é que seríamos exibidos nos cinemas por uma noite, mas agora estamos nas telas de todo o país para atender a demanda. A recepção tem sido brilhante”, diz, ao UOL Esporte, o diretor do filme, Louis Myles.
O filme tenta explicar os segredos de um homem que resistiu tanto tempo dentro do futebol sem jogar. A história já é conhecida, mas sempre vale a pena. Diretor do filme sobre a vida de Kaiser, Louis Myles é um britânico de 35 anos de idade que conheceu a história do brasileiro no bar, “durante alguns chopes”, por meio de dois amigos que se tornaram produtores executivos do projeto.
“Como um cara administrou uma carreira falsa de 26 anos no futebol basicamente sendo o maior malandro da história? Fiquei impressionado”. Na sequência, Myles consultou o jornalista Tim Vickery, inglês radicado no Brasil, para saber mais sobre Kaiser. E lembra-se de ter ouvido o que mais queria.
A produção começou em novembro de 2015, com assinatura de contrato de exclusividade para um filme e um livro com os ingleses. Foram dois anos de viagens, entrevistas com 73 pessoas e muita diversão, segundo o diretor. “Não vivi, mas já tenho saudades desta geração de ouro do futebol brasileiro”, brinca Myles. Zico, Júnior, Ricardo Rocha, Renato Gaúcho, Carlos Alberto Torres e Bebeto.
Um dos melhores amigos de Kaiser no mundo do futebol é Renato Gaúcho, ex-jogador e hoje técnico do Grêmio. Ambos foram contemporâneos no futebol carioca e eram apreciadores da noite – daí a proximidade entre eles, reforçada pelo porte físico e especialmente pelos mullets no cabelo tão tradicionais nos anos 80. De acordo com o diretor Louis Myles, Renato Gaúcho é o principal personagem da história de Kaiser depois do próprio Kaiser.
“As pessoas da Europa não necessariamente se lembram do Renato, então o impacto de sua contribuição não é totalmente compreendido aqui, embora todo mundo goste. Nós tentamos dizer que ele é o Beckham brasileiro por aqui. Acho que os brasileiros vão adorar”, conta o diretor.
Beckham foi um grande nome do futebol inglês, mas também ganhou manchetes em razão do comportamento fora de campo. Preocupação com o visual, vida pessoal agitada, companhias femininas, polêmicas… Uma série de coincidências com Renato Gaúcho, que teve carreira sólida no futebol, com passagem até pela Roma e seleção brasileira, e trabalha como treinador desde 2001. Foi ele, aliás, quem deu o nome do filme. “Foi a última frase da entrevista do Renato Gaúcho, quando pedimos para ele resumir a vida do Kaiser e ele disse que foi o melhor jogador de futebol a nunca ter jogado futebol.”