A conselheira Aline Porto, filha do ex-presidente remista Roberto Porto (1997-1998), vem se destacando entre as vozes de oposição à gestão de Manoel Ribeiro no clube. Estudiosa do processo de administração esportiva no Brasil, admite a vontade de um dia se candidatar à presidência do Remo. “É para isso que venho me preparando. Acredito que apenas amor ou o fato de ser remista de nascença não qualifica ninguém para o cargo de presidente; é necessário estudo e dedicação”, afirma Aline, entre outros tópicos importantes, neste bate-papo com Cláudio Colúmbia para o blog campeão.
CC – A sra. é filha de um ex-presidente do Remo, Roberto Porto(1997/1998). Sonha um dia chegar à presidência do Clube do Remo?
Aline Porto – Sim, pretendo. E para isso venho me preparando, acredito que apenas amor ou o fato de ser remista de nascença não qualifica ninguém para o cargo de presidente, mas sim, é necessário estudo e dedicação.
CC – Desde quando participa da vida do clube e qual o melhor presidente que o clube teve, em sua opinião?
AP– Este é meu segundo mandato como conselheira. Nesse tempo já estiveram na gestão Pedro Minowa, Manoel Ribeiro e André Cavalcante. Dos três, avalio como o melhor o André, que mesmo com pouco tempo conseguiu melhorias administrativas que há muito não se via. Áreas que não eram muito valorizadas ressurgiram, como foi o caso do social, onde a sede voltou a ter vida; os esportes olímpicos, onde muito do que se está colhendo hoje foi graças ao que foi plantado em 2016; e, claro, na diretoria pela qual eu era responsável, a diretoria de materiais, onde todos os esportes puderam nos representar devidamente uniformizados.
CC – Sempre falo que, se o Remo tivesse eleição para presidente para tomar conta da parte administrativa e presidente para o futebol, é provável que não houvesse um só candidato para o administrativo, mas para o futebol a fila para inscrições seria imensa. A sra. concorda que as pessoas que se metem a comandar o clube só pensam no futebol, por isso o Remo involuiu administrativamente nesses mais de 100 anos de existência?
AP – Infelizmente, para muitos, a visão é de que o Clube do Remo é apenas um time de futebol. Por isso, o que se vê é o sucateamento dos esportes olímpicos, a desvalorização do sócio, o “gastar o que não se tem” para montar um time caro (e nem sempre bom). Alguns dirigentes e torcedores ainda têm a visão de que se não der resultado em campo a gestão não é boa. Atualmente, mais do que títulos, o Remo precisa de uma reforma administrativa, caso contrário sempre estaremos nadando muito e morrendo na beira.
CC – Na prestação de contas do presidente do Remo, Manoel Ribeiro, do primeiro quadrimestre, existem, segundo relatos, quase 90 irregularidades. Mesmo assim, no Confis houve votação apertada – 3 votos pela não aprovação e 2 pela aprovação). É possível conselheiros terem opiniões tão diferentes diante de tantas irregularidades?
AP – Uma das coisas que acredito que deveriam mudar no estatuto (ratificando a importância de revisão do nosso estatuto) é o fato de que, para ser membro do Confis, o candidato deveria ter no mínimo um curso na área, e se possível também experiência para exercer uma função tão importante. No caso da aprovação, não consigo entender como se aprova algo que não existe, como contas das quais as notas fiscais nunca foram apresentadas? Contabilidade é uma ciência exata. Logo, não tem meio-termo, não existe o meio certo, ou se está certo ou errado.
CC – Vi a sua revolta com a aprovação definitiva das contas do presidente (de direito) Manoel Ribeiro, na última reunião. Por que?
AP – Muitos motivos, vou pontuar alguns. Mais uma vez, a falta de reforma no estatuto: atualmente, cerca de metade do Condel faz parte do Codir. Como pode alguém aprovar suas próprias contas? Houve o discurso de que se deveria aprovar as contas para não expor o clube. O que expõe o clube não é aprovar o que está errado, o que expõe o clube é a desorganização administrativa e financeira em que ele se encontra.
CC – Modernizar o clube, não depender mais de abnegados e depender pouco de bilheteria, seria o caminho para a estruturação adequada no futebol profissional? Como fazer com que o Remo consiga dar esse salto para a modernidade?
AP – O primeiro passo é a reforma do estatuto. É ele que nos regulamenta, é a nossa lei, hoje estamos numa terra sem lei, com um estatuto que dá margens a interpretações diversas, além de ser omisso em muitos aspectos. O segundo ponto importante é uma auditoria, não uma “caça às bruxas” e sim para conhecer a situação real do clube. Hoje não se tem a exatidão de quanto o Remo deve e nem de quanto ele vale. E, por fim, uma reforma administrativa séria, com diretorias ocupadas por pessoas qualificadas, e não por troca de favores. Hoje ainda vemos cargos ocupados por pessoas sem a menor competência para tal, que só estão ali por ajudarem na campanha ou por darem aporte financeiro.
CC – Como analisa esse momento do Remo, hoje com um presidente eleito e uma diretoria autônoma para o Futebol (embora Milton Campos seja oficialmente um dos diretores do departamento de futebol, mas confesso nunca ter visto diretor de futebol fazendo acordos na Justiça do Trabalho, pagando dívidas com jogadores de outras administrações, buscando patrocínios e outras coisas para que o clube tenha o mínimo de estrutura e passe a funcionar – essas seriam funções do presidente do clube)?
AP– A diretoria de Futebol está organizada, com contratações criteriosas, arrumando patrocínio, porém temo o fato de ter uma administração paralela dentro de uma gestão. Isso dentro de um quadro de revés poderia rachar o clube. Mas torço para que tudo dê certo porque tem aquela velha história: tudo pode ir ruim, mas se o futebol vai bem por que tumultuar?
CC – O que a sra. pensa da ideia de o Sócio-Torcedor ter direito a voto no clube?
AP – É um assunto polêmico. De um lado, temos o sócio proprietário e remido, e na prática a única vantagem que ele possui é votar e ser votado. No caso do remido, que é cerca de 80% do eleitorado total, a grande maioria nem sabe o que acontece no Clube do Remo. Do outro lado, temos o sócio-torcedor, que tem alguns descontos com parceiros e o direito de entrar sem custo (ou com descontos) nos jogos do clube como mandante, sendo que na grande maioria são esses torcedores que “vivem” o Remo. Na minha opinião, só seria justo se o sócio proprietário tivesse benefícios reais, no mínimo uma sede social que lhe proporcionasse lazer e valorizasse seu título de sócio.
CC – Qual o seu recado, como conselheira e futura candidata à presidência do Remo, ao Fenômeno Azul?
AP – Espero que um dia a fila para o administrativo seja maior do que para o futebol. Que todos possam enxergar que o Clube do Remo não é apenas futebol. Ele é o CLUBE DO REMO, e não o time do Remo.
(Observação CC – Aline Porto é conselheira do Remo, mas não se meteu no clube para seguir cartilha e nem foi em busca de emprego. Tem opinião própria, demonstra querer o bem do clube como um todo. Falo a amigos que, se ela, junto com outros conselheiros – são poucos, mas existem outros com os mesmos pensamentos dela – tomassem conta do Condel e do Confis, o Remo teria salvação. Aos sócios e torcedores do Remo que lutam para ver seu clube crescer, recomendo que prestem atenção nela em 2018.)