
POR GERSON NOGUEIRA
Aprende-se, desde as inocentes peladas de rua, que todo time deve começar por um bom goleiro. Mesmo que existam excepcionais jogadores de linha, sempre será fundamental contar com um guardião qualificado lá atrás. Todos os grandes esquadrões da história do futebol foram montados a partir da presença de um arqueiro de respeito.
A Seleção Brasileira contraria essa lógica. No gol, Tite aposta num goleiro sem experiência em competições internacionais de primeira linha, que não transmite firmeza para encarar as batalhas de um mundial e que jamais foi unanimidade no país.
O mentor de Alisson é Taffarel, cujos argumentos técnicos respaldam o número 1 do escrete. Campeão mundial em 1994 e preparador de goleiros da Seleção atual, Taffarel acumula conhecimento suficiente para influir na escolha, mas o desempenho de seu preferido não empolga ninguém.
De estilo discreto, Alisson é jovem (25 anos) para os padrões da Seleção e mostrou insegurança em várias ocasiões, chegando a sofrer gols bisonhos. Ainda assim, nunca perdeu a titularidade, mesmo quando Tite experimentou outros goleiros. A sete meses da Copa, com o grupo cada vez mais definido, é improvável que o técnico mude de opinião sobre o goleiro.
Nem mesmo Cássio, titular do Corinthians campeão do mundo em 2014 com Tite no comando, conseguiu fazer sombra ao goleiro oriundo da escola gaúcha, ponto importante de identificação com Taffarel.
O que chama atenção em relação à preferência é o fato de que o guardião nunca se destacou em competições nacionais. Depois que saiu do Internacional e foi jogar na Itália, passou longe do protagonismo, chegando mesmo a ficar no banco em grande parte dos jogos da Roma.
Muito mais respeitados que ele, Fábio (Cruzeiro) e Vanderlei (Santos) sequer foram testados por Tite. Ambos cumprem temporadas brilhantes, principalmente o santista. Nada disso parece ter comovido o técnico, que já admitiu que Alisson lidera a disputa pela vaga.
É como se o lugar estivesse preservado de antemão, mais ou menos como ocorreu em 2014, quando Felipão anunciou Júlio César como o titular absoluto meses antes da Copa.
A escolha do goleiro tem um quê de toque pessoal dos treinadores, que valorizam aspectos nem sempre óbvios a olhos leigos. Félix ganhou a posição em 1970 quase por exclusão, superando a Emerson Leão e Ado.
Leão tomaria conta da camisa em 1974 e 1978. Valdir Peres assumiu em 1982, Carlos em 1986 e Taffarel reinou entre 1990 e 1998. Marcos, com estupendo cartel de defesas milagrosas no Palmeiras, foi ungido em 2002. Dida jogou o mundial de 2006 e Júlio César disputou os de 2010 e 2014.
A escalação constante de Alisson nas Eliminatórias faz crer que Ederson será o segundo goleiro e Cássio deve ser o terceiro, embora Diego Alves ainda esteja na briga por uma das três vagas.
O lado preocupante é que, pela primeira vez em muitos mundiais, o goleiro não encanta a torcida. Parece incapaz de ir além da burocracia do cargo. Falta-lhe o arrojo para defesas difíceis e talento para pegar pênaltis.
A boa produção ofensiva da Seleção nas Eliminatórias não permitiu que a defesa fosse posta à prova e Alisson passou quase despercebido. Na Rússia, a história será bem diferente – e é aí que mora o perigo.
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Novo tropeço frustra a Avalanche Bicolor
O Papão voltou a travar dentro de casa e não conseguiu romper a marcação armada pelo CRB no meio-campo. Diante de público expressivo na Curuzu, o time parecia inicialmente disposto a confirmar o bom momento, mas acabou refém de suas limitações, sofrendo com as hesitações criativas e a falta de agressividade do ataque.
Nos primeiros minutos, o Papão tentou impor pressão, chegando a ameaçar seguidamente em lances que envolviam Fábio e Lucas Taylor na direita em manobras com Bergson. Aos poucos, porém, o time foi reduzindo o ritmo, permitindo que o visitante se tranquilizasse.
Dentre os equívocos mais óbvios do sistema usado por Marquinhos Santos está a utilização de Marcão como um volante disfarçado. Se a intenção era reforçar a marcação na meia-cancha, seria preferível usar um volante de ofício ao invés de sacrificar uma peça importante do tabuleiro ofensivo.
Vale dizer que, até a véspera da partida, o time havia treinado com Welinton Jr., Caion e Bergson, formação mais leve e rápida. A opção pela volta de Marcão mostrou-se conservadora e sem efeito prático, pois a postura do CRB era apenas a de se resguardar, sem oferecer perigo.
No segundo tempo, mais confiante, o Papão passou a investir pelos lados e quase chegou lá. Bergson esteve perto de marcar, mas a melhor oportunidade viria aos 29 minutos, quando Caion recebeu cruzamento de Lucas e emendou de virada, quase surpreendendo o goleiro Edson.
O time alagoano limitava-se a controlar a marcação, pouco se arriscando. A única chance ocorreu por um cochilo de Perema, que quase resulta em gol, embora o lance tivesse sido invalidado pela arbitragem.
No geral, o Papão teve amplo domínio e buscou o gol, mas pecou demais nas finalizações, criando poucas situações de real perigo para o CRB. Depois de uma partida tecnicamente fraca, marcada por raros acertos e muitos erros, o empate acabou sendo o resultado mais justo.
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Bola na Torre
Guilherme Guerreiro comanda a atração, a partir das 21h, na RBATV. Gols da rodada de fim de semana, sorteios e participação dos internautas. Na bancada de debatedores, Giuseppe Tommaso e este escriba de Baião.
(Coluna publicada no Bola deste domingo, 15)