POR GERSON NOGUEIRA
Currículos de técnicos de futebol contratados para trabalhar na dupla Re-Pa começam, quase sempre, com a informação de que apreciam trabalhar com as divisões de base e que oferecem oportunidades à prata-da-casa. Em pouquíssimo tempo tudo muda de figura e o discurso inicial é substituído por um completo desinteresse pelos jovens atletas nativos.
No Remo, que acaba de apresentar Leston Junior como técnico para a temporada 2016, a prática tem se repetido com frequência. Já se viu técnico que criticava os garotos e não dava chances entre os titulares, mas que – para espanto geral – indicava-os para outros clubes quando deixavam de trabalhar no Evandro Almeida.
Uma das mais promissoras gerações formadas no clube, que disputou com brilho há três anos a Copa do Brasil sub-20, terminou passando em branco no elenco de profissionais, sem merecer qualquer chance com os técnicos importados.

Ameixa (foto), um dos expoentes da bela campanha do Leão, foi escalado por Cacaio quando já era um volante respeitado no Baenão. Antes dele, Roni já havia se tornado titular absoluto por interferência direta do auxiliar técnico e ex-jogador Agnaldo de Jesus.
Dois exemplos de sucesso, que o Remo acabaria aproveitando na campanha do bicampeonato estadual. Depois, ambos seriam negociados. Dessa mesma safra, o volante Nadson e o zagueiro Tsunami não tiveram a mesma sorte.
O segundo chegou a se transferir para o Cruzeiro, mas voltou ao Remo, embora tenha ficado fora dos planos de Cacaio em 2015. Nadson foi elogiado pelos técnicos Roberto Fernandes e Zé Teodoro, mas jamais foi escalado no time principal.
Bem-sucedido no comando do Tupi de Juiz de Fora, Leston Junior chega cercado de expectativas e algumas dúvidas. Uma das mais importantes, para o futuro do próprio Remo, é a maneira como pretende aproveitar os jogadores da base. Boa parte dos muitos problemas financeiros enfrentados pelo clube nos últimos anos poderia ter sido solucionada caso a política de formação de atletas funcionasse de verdade.
Que o novo comandante aplique aqui os princípios que defende com tanta ênfase em sua página na internet em relação ao aproveitamento de jovens atletas. E que desfaça a desconfiança quanto ao gosto por trabalhar com veteranos encostados e em fim de carreira.
Alto astral e confiante, Leston impressionou bem na apresentação. As primeiras palavras já como técnico do Remo foram firmes, bem articuladas e reveladoras de um profissional conectado com as boas técnicas do marketing. Pela idade e desembaraço pessoal, lembra até Dado Cavalcanti, que acaba de renovar contrato com o Papão para mais um ano de trabalho.
A lamentar que esteja perto de perder um colaborador precioso e profundo conhecedor da alma azulina. Agnaldo, que já foi ídolo da torcida, ainda não sabe se irá permanecer no clube, depois de trabalhar com Charles Guerreiro e Cacaio, sempre com competência e lealdade. Seria fundamental para acompanhar e familiarizar Leston com o clube.
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Com ou sem emoção
Há duas semanas, o Corinthians levantava o título brasileiro com três rodadas de antecipação, coroando uma campanha recheada de números fortes e tisnada por polêmicas com a arbitragem. Tinha tudo para ser uma consagração e motivo para êxtase da galera, com direito à volta olímpica e tudo o mais. O jogo foi numa quinta-feira à noite, no estádio de São Januário, no Rio de Janeiro, e o clima era de alegria contida. O empate com o Vasco garantiu a conquista do hexacampeonato corintiano, mas não teve o cenário de coroamento e celebração que marca os grandes feitos esportivos.
Anteontem, no Allianz Parque, em São Paulo, diante de 40 mil fanáticos torcedores, o Palmeiras derrotou o Santos na cobrança de penalidades e ganhou a Copa do Brasil. Uma festa do arromba, com direito a uma multidão cercando o estádio aos gritos antes, durante e depois da decisão. Diferença abissal de comportamento e ambiente em relação ao jogo que deu o hexa ao Corinthians na Série A. Nem precisa dizer que o título do Timão é muito mais importante. Apesar disso, quem comemorou mais e melhor foram os palmeirenses.
Citei, comparativamente, os dois desfechos para voltar a uma questão sempre polêmica, mas relevante para todos que amam futebol: qual a melhor forma de disputa, pontos corridos ou decisões em mata-mata¿
Como já me posicionei aqui em outras ocasiões, fico com uma terceira via. Um campeonato disputado em dois turnos, mantendo o sistema de pontos corridos, mas decidido num turno extra (playoff) com os melhores de cada etapa da competição. Um super mata-mata nas semifinais e a finalíssima sem vantagens extras, um grand finale.
A fórmula uniria o útil ao agradável, o meritório ao emocionante. Na fórmula atual, o Campeonato Brasileiro deixou de ser memorável. Ficou chato e quase banal e só se torna realmente importante para os aficionados dos times que têm chances de título – ou vaga na Libertadores.
Uma prova do que digo é que a rodada deste final de semana, que deveria ser o ponto culminante, com a escolha do campeão, só tem como precário atrativo o desespero do Vasco para escapar ao rebaixamento. Um encerramento muito chocho para um campeonato que atravessa o ano sendo disputado e deveria ser o mais arrebatador, atraindo a atenção de todas as torcidas.
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De volta aos bons tempos
A vitória do Remo no Re-Pa que decidiu o turno do campeonato paraense de basquete masculino fez reviver a antiga paixão pelo esporte em Belém. O placar de 73 a 56 evidencia a superioridade azulina neste momento. A aplicação do Papão faz crer, porém, que a competição está em aberto e pode haver reviravolta no returno.
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FBI no encalço dos gatunos
O anúncio de que o FBI e a Justiça americana incluíram o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e o ex, Ricardo Teixeira, abre a perspectiva de que finalmente se abra a caixa-preta das rapinagens cometidas na entidade, golpeando duramente as finanças do futebol pentacampeão do mundo.
Desde os tempos de João Havelange, um seleto grupo de picaretas se apossou do comando da gestão do esporte no Brasil, imune à lei e protegido por governos, entidades e parceiros poderosos na iniciativa privada. É hora de pagarem por todo esse descalabro.
O dinheiro dificilmente será devolvido, mas, cá pra nós, vai fazer um bem danado ver todos esses gatunos enjaulados – nos States, porque no Brasil eles continuam blindados.
(Coluna publicada no Bola desta sexta-feira, 04)