
Por Gerson Nogueira
As portas escancaradas e a ausência de viva alma no interior do estádio Evandro Almeida formam um retrato duro e realista da situação do Remo. As fotos de Mário Quadros na reportagem de capa desta edição confirmam a sensação de abandono. O centenário Leão Azul sofre uma espécie de vácuo administrativo. Sem um presidente legítimo exercendo o poder, pois o atual governa por força de uma prorrogação excepcional de mandato, o clube padece nas mínimas coisas. É, por assim dizer, um órfão de gestão.
Há dois dias caiu na internet um vídeo que exibe um sujeito urinando na mítica estátua de pedra do leãozinho, que se localiza à beira do gramado do Baenão. Torcedores se revoltaram com as cenas, com justa razão, mas pelo que se constata da situação a surpresa é que o prejuízo tenha se limitado ao grosseiro gesto de ultraje a um símbolo do clube. O fato é que os danos poderiam ser ainda mais sérios ao patrimônio do Remo.
Patrimônio que inclui também os jogadores pertencentes ao clube. Atletas formados na heroica divisão de base, mantida com mil sacrifícios por baluartes e abnegados.
Jonathan, por exemplo, cujo futebol vistoso e técnico foi vergonhosamente boicotado pelo último técnico a passar pelo Baenão. Em determinados momentos a situação de menosprezo pelo jogador pareceu indicar que o problema estava justamente na origem do volante: é cria da casa. Por essa razão, com poucos dividendos a oferecer em termos de negócios imediatos, passou a ser visto como um estorvo.
Enquanto isso, em plena Série D, o time penava com a teimosia no uso de peças de quinta categoria, refugos de clubes sem qualquer tradição, trazidas sob acertos no mínimo nebulosos. Não há segredos nessa equação. Quando empresários e agentes lucram, significa que o clube perde – e feio.
Quando se imaginava que Jonathan iria finalmente ser um dos reforços do novo Remo para 2015, eis que as nuvens se dissipam e as coisas ficam mais claras. O desinteresse pelo jogador não era uma atitude exclusiva do ex-técnico. Com contrato que termina este mês, o jogador parece fora dos planos de parte da atual diretoria. Já admitem até cedê-lo ao maior rival, como fez AK com Héliton há cinco anos.
O mais espantoso é que Jonathan não é o único a merecer esse tratamento hostil no clube. Antes dele, jogadores como Rodrigo, Tsunâmi, Ameixa e Igor João passaram pela mesma situação. Até Roni, maior revelação de atacante surgida no Baenão nos últimos anos, periga virar moeda de troca.
Roni chegou a ser barrado por Fernandes na Série D sob a alegação frívola de que precisava “se reciclar”. Enquanto isso, o treinador empurrava Marquinhos, Alvinhos e Rômulos para desfilar incompetência em campo. Só a grita geral de imprensa e torcida estancou a irresponsabilidade que se desenrolava sob a vergonhosa complacência dos dirigentes.
Para o próximo ano, ainda sem um técnico contratado e com pouco mais de 10 atletas à disposição, o caminho indicado para o Remo é o da contenção e da busca do equilíbrio orçamentário.
Mas, pelas atitudes esboçadas em relação a jogadores que lhe pertencem, o mais provável é que a fuzarca consumista se estabeleça outra vez. O propalado pré-contrato com Ricardo Capanema, problemático desde sempre no maior rival, se insere perfeitamente nessa perspectiva sombria.
Diante do descalabro iminente, cabe aos azulinos de boa cepa a missão de resgatar a nau à deriva. E vale o conselho: salvem o Remo antes que ele acabe!
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Série C fracassa nas bilheterias
Vibrante nos jogos decisivos, a Série C foi um retumbante fiasco em termos de público e faturamento. A média foi de apenas 3.889 pagantes por jogo. O público total em 194 partidas chegou a 719.429 espectadores.
O Fortaleza liderou amplamente nas arquibancadas, mas o Papão, apesar dos vários jogos longe de sua torcida, também brilhou. O espetáculo de encerramento do campeonato, com 38 mil pagantes no Mangueirão, mostrou a pujança da massa alviceleste.
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A mais nova façanha do blog campeão
Com o esforço e a dedicação de comentaristas, baluartes e amigos, o blog campeão atinge hoje a marca de 5 milhões de acessos, façanha inédita em espaços regionais da internet dedicados a futebol-jornalismo-rock-política-livros-atualidades. No ar ininterruptamente desde 20 de abril de 2009, quando foi inaugurado com o post “De Baião para o mundo…”, o blog só fez crescer nessa incansável marcha evolutiva da grande rede.
Obrigado a todos os que generosamente me acompanham nesta viagem sempre surpreendente e maravilhosa, meio às cegas e rica em aprendizados. Como diria Buzzy Lightyear: “Ao infinito… e além!”.
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Bendito mata-mata
Os dois times mais vibrantes se enfrentam hoje à noite para decidir a competição mais empolgante do futebol brasileiro. Sim, não adianta vir com a história da meritocracia dos pontos corridos. Nada é mais eletrizante do que o velho e bom mata-mata.
De um lado, o Cruzeiro bicampeão nacional, com seu elenco ajustado, qualificado e eficiente taticamente. Sob a batuta de um técnico tranquilo, sem presepadas e gritos marqueteiros.
Do outro, o Atlético-MG com sangue nos olhos. O time mais surpreendente da temporada. Raçudo e sintonizado com sua apaixonada torcida, cujo lema permanente é “Eu acredito!”, como o slogan que elegeu Obama.
Pois o time das viradas espetaculares entra com a vantagem de 2 a 0 e procurando se preservar da virada adversária. O Cruzeiro precisa fazer três gols de diferença para conquistar a tríplice coroa.
Sim, o Galo é favorito, mas não pode subestimar esse Cruzeiro com pinta e banca de campeão. Enfim, um jogão para fechar a temporada boleira.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 26)