Por Edyr Augusto Proença
Robert Plant acaba de negar mais uma reunião da lendária banda Led Zeppelin. Deixou de receber alguns milhões de libras dos patrocinadores. Na última vez que o grupo tocou, na Inglaterra, o resultado comercial foi esplendido, gerando cd e dvd. A desculpa de Plant, frágil, é a preocupação com sua carreira solo – acaba de lançar mais um disco. Penso que o real motivo é o declínio de sua voz, com a idade. Eles todos estão nos 70 anos. Enquanto os demais se divertem tocando seus instrumentos, com amplificadores atuais e todos os outros eletrônicos que facilitam a vida, Plant tem apenas a voz. Era uma voz!
No auge, sua figura no palco, cabeludo, bonito, sem camisa, calças apertadas e atingindo tons agudos, era de uma octanagem sexual altíssima. Na reunião passada, fora toda a vibração por vê-los novamente juntos, vamos combinar que na maioria das músicas, Plant optou pelos tons mais baixos, variações vocais, fugindo dos agudos, o que alcançou, razoavelmente, nas duas ou três últimas canções. Já são passados oito anos, creio. A velhice cobra.
O show business, na falta de novos astros que reúnam gigantescas plateias, chama de volta os velhos heróis. Há quem aguente o tranco. Os Rolling Stones são o exemplo, mas diga-se, Mick Jagger está inteiro, aos 70 anos, com energia de sobra. Paul McCartney arrisca-se nos agudos. Alguns falham, mas vai tudo na emoção.
Lembro de uma frase célebre, escrita por Pete Townshend na primeira música de sucesso do The Who: “Hope I die before I get old”. Estou lendo a biografia de Pete, rapaz pobre, molestado sexualmente na infância, aprendeu a tocar guitarra, a compor, sempre sonhando com uma ópera e hoje, pretende, com Roger Daltrey, encerrar a carreira faturando algum com cd e show. Já não há mais John Entwhistle, nem Keith Moon. Eles ficaram velhos e continuam tocando.
O Yes é outro exemplo. A banda utiliza no momento um cantor especializado em imitar Jon Anderson, que após problemas médicos, não alcança mais as notas mais altas. Tempos difíceis para cantores veteranos. A galera dos instrumentos se esbalda enquanto eles sofrem. Quem envelhece, morre, diz “Oblomov”, em uma peça russa.
Como pode rock and roll com septuagenários? E fico lembrando de como amávamos nossos ídolos, sem nunca ter assistido sequer um show deles. Jimi Hendrix, para mim, veio em Woodstock, o qual assisti sete vezes. Passava um vídeo clip, em película, muito antes da MTV. A geração atual tem tudo à disposição, mas me parece estar criando pouco.
Garotos passam uma tarde ouvindo a discografia dos Stones e depois vêm dizer que sabem de tudo. Nós tínhamos um disco por ano, o qual escutávamos sem parar. Conhecemos ate hoje a ordem das músicas. Nas capas não vinham as letras, o que começou com Sgt Pepper.
Estou ouvindo Steve Hackett, o lendário guitarrista do Genesis, há muito em carreira solo. Gravou e fez turnê tocando sucessos antigos da banda. As execuções são um primor instrumental e nos vocais, alguns convidados. “Play me my song”, em “Musical Box”. Muitas outras. A vantagem é o som, excelente, encorpado, forte, instrumentos melhores.
Robert Plant pode ter ficado envergonhado, também, de cantar hits, digamos, juvenis, como “Whola lotta of love”, por exemplo. O U2 ainda sobrevive, mas seus integrantes são, hoje, senhores ricos, cuidando de suas famílias. E você, quem acha ser “too old to rock and roll”?
(Publicado em O Diário do Pará, caderno TDB, coluna Cesta, 21.11.14)
