Por Gerson Nogueira
A serena eleição de Alberto Maia em processo de aclamação pelos sócios e conselheiros é só um aspecto a diferenciar hoje a gestão do Papão no cenário desolador do futebol paraense. Enquanto seus oponentes, principalmente o mais tradicional deles, tropeçam nas próprias pernas, o Bicolor segue altaneiro, guiado por cabeças lúcidas e bem-intencionadas. O fato leva forçosamente a uma comparação com o deserto de ideias que campeia do lado azulino.
Quando um clube consegue conduzir sem solavancos o processo sucessório é porque alcançou a tão sonhada estabilidade democrática. Há dois anos, Vandick Lima venceu o pleito em meio a uma acirrada disputa, embora o resultado final tenha se revelado incontestável.
Desta vez, a coisa foi mais tranquila. Alberto Maia não teve adversário. Méritos de Vandick e de sua gestão muitas vezes tão injustiçada. Depois de um primeiro ano insatisfatório, marcado pelo rebaixamento à Série C, eis que tudo mudou no final do mandato.
Quiseram os deuses da bola que o presidente conquistasse o acesso à Série B e afugentasse os urubulinos de plantão, ávidos em denegrir e escarnecer. Caso não tivesse sido bem sucedido na condução do futebol, mola mestra de todo clube de massa, Vandick estaria relegado hoje à galeria dos presidentes “malditos”.
A confirmar a tese da insustentável leveza do futebol, o Papão saltou de situação extremamente desfavorável na Série C para uma reação espetacular, que culminou com a conquista do acesso. Mas o êxito não deve ser atribuído apenas às forças do imponderável.
Para se reerguer na competição, a diretoria teve o desprendimento de trazer de volta o técnico Mazola Junior, peça fundamental na campanha. O resto da história todo mundo já conhece e se completará amanhã à tarde.
Enquanto isso, nos arraiais remistas, campeia uma crise turbinada pela falta de compromisso com a instituição. Vaidades pessoais pontificam e o clube afunda. A incompetência dá as cartas até na organização de uma eleição, levando a um processo tumultuado e tabajara, que forçou a um repeteco do pleito em dezembro. Isso tudo, claro, se a Justiça não mudar os rumos do enredo.
Não por acaso, os remistas festejaram ontem os nove anos da conquista do Brasileiro da Série C 2005, título mais importante da história do clube. Refletindo a barafunda interna, não houve qualquer comemoração pública do feito. Talvez nem haja mesmo clima para isso.
Na comparação direta com o maior rival, e para usar um termo em voga, o Remo padece de desamor. Seus dirigentes não são comprometidos o suficiente e nem enxergam com clareza a gravidade da situação. Enquanto brigam por poder, os gestores do Papão agregam e avançam. Por isso, num cálculo livre, pode-se dizer que a vantagem bicolor já é exatamente proporcional aos nove anos que o Remo está órfão de glórias nacionais.
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Decisão rende mais de R$ 1,5 milhão
Caso venda todos os ingressos para a decisão com o Macaé no sábado, os cofres do Papão devem registrar nas próximas horas a excepcional entrada de R$ 1.678,750,00, correspondentes a 38 mil lugares no estádio Jornalista Edgar Proença. Só com a venda das arquibancadas, a R$ 50,00 por pessoa, o clube vai arrecadar R$ 1.455.000,00.
A venda direta ao torcedor envolve 32.240 ingressos, sendo 29.100 arquibancadas, 1.840 cadeiras, 1.000 meias, 150 cadeiras para sócios proprietários e 150 arquibancadas para sócios proprietários. Além disso, serão distribuídos 2.760 ingressos de gratuidades e mais 3.000 para sócios torcedores, que registram no borderô com o valor simbólico de R$ 1,00.
Até ontem à tarde, cerca de 30 mil ingressos já tinham sido vendidos.
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Direto do blog
“O Remo paga por ter cometido uma grande injustiça e, pior, uma grande ingratidão com quem o levou ao título nacional, o técnico Roberval Davino. Se entendessem de futebol, a primeira coisa que deveriam ter feito era ter segurado o bom técnico e mantido alguns jogadores a pedido dele. O Remo teria montado uma boa estrutura e certamente hoje não estaria sem série”.
De Cláudio Santos, sobre a conquista do Remo na Série C 2005.
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Rio na Série A: futebol de segunda
Na Copa do Brasil, o Flu já havia sucumbido ao América de Natal, levando de 5 a 2 no Maracanã. Ontem, também no Rio, outro emergente subjugou o poderoso tricolor carioca, impondo uma goleada de 4 a 0. A façanha desta vez coube à Chapecoense.
O vexame vem se juntar a uma rodada trágica para os cariocas na Série A. O Flamengo tomou a segunda goleada (4 a 0 desta vez) para o Atlético-MG em Belo Horizonte. E o Botafogo confirmou sua marcha inabalável rumo ao rebaixamento, perdendo para o Figueirense, em São Januário.
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Cruzeiro com a mão na taça
Com gols de seus principais jogadores, Ricardo Goulart e Everton Ribeiro, o Cruzeiro virou um placar adverso sobre o Grêmio e manteve a rota rumo ao bicampeonato brasileiro. Com 73 pontos (sete sobre o vice-líder São Paulo), pode conquistar o título já no próximo domingo caso vença o Goiás.
E a derrota do Grêmio permitiu à torcida paraense um rápido reencontro com Ivo Wortmann, ex-técnico do Papão e hoje auxiliar de Felipão. Não foi um bom momento de Ivo, que, inconformado com o resultado, vociferou críticas injustas à arbitragem.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 21)