Eurico está de volta. Vasco escolheu o retrocesso

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Do blog Esporte Fino

O risco de colocar um ídolo no comando de um clube de futebol é sempre enorme. Assim que os maus resultados surgem, a idolatria é colocada em segundo plano e as críticas superam as lembranças saudosistas do torcedor. Foi o que aconteceu com Roberto Dinamite, cuja administração resultou em dois rebaixamentos desde que assumiu a presidência do Vasco, em 2008. É verdade que o primeiro descenso não pode ser totalmente atribuído à sua gestão, já que substituiu Eurico Miranda no cargo no meio do ano, pegando o clube afundado em dívidas e rachado politicamente.

Nem mesmo o retorno praticamente garantido à Série A em 2015 ajuda a amenizar a pressão que vem das arquibancadas. O Vasco, atualmente na 3ª posição da Série B, tem a pior campanha entre os grandes que já disputaram a Segundona de pontos corridos, modelo vigente desde 2006. O título, enxergado por muitos como obrigação, virou uma ilusão. E a falta de brilho na campanha acende um novo sinal de alerta em relação a uma possível evolução no retorno à elite.

As finanças também derraparam nesse período. Dinamite recorreu por diversas vezes à CBF para pagar salários atrasados de jogadores e ainda busca novos empréstimos bancários para acertar dívidas com funcionários, quitar impostos atrasados e regularizar a situação fiscal e tributária com o governo para conseguir certidões e renovar o patrocínio com a Caixa Econômica Federal. A situação é tão desesperadora que um grupo de mais de 15 mil vascaínos de todo o Brasil criaram a campanha Vasco Dívida Zero e contribuem há quase dois anos com doações para ajudar o clube a pagar a dívida com a Receita Federal, que atingiu a marca de R$ 93 milhões em 2013.

O fracasso de Roberto Dinamite trouxe um efeito colateral tão preocupante quanto os cofres vazios e os medíocres resultados nos gramados: a ressurreição de Eurico Miranda, eleito na madrugada de hoje para reassumir a presidência do clube, após a dinastia de 1997 a 2008 (primeiro como vice de futebol e depois como presidente) ser interrompida.

Resgatar o respeito e as tradições do Cruzmaltino. Essa era a bandeira principal da chapa “Volta, Vasco! Volta, Eurico!”, regida pelo cartola, acusado por opositores de pagar a mensalidade de 3 mil novos sócios, em troca de votos na eleição. O Mensalão Vascaíno, como foi batizada a denúncia, já provocou diversos rounds na Justiça e até mesmo o adiamento da eleição, anteriormente marcada para ao mês de agosto.

O retorno de Eurico é um retrocesso para o Vasco da Gama. É o aceite de que não importam os meios para se formar um time vencedor. Ignora-se que a “Era Eurico”, marcada por títulos importantes, representou também problemas para a sucessão presidencial. Um exemplo disso são as quantias milionárias devidas a Edmundo e Romário, até hoje não quitadas. Em 2007, o estádio de São Januário chegou a ser penhorado para garantir o pagamento de dívidas fiscais, mas Eurico conseguiu interromper o processo, que ainda corre na Justiça. O dirigente que acumula processos judiciais, brigas com veículos de comunicação, invasões a campo para intimidar árbitros e que se gaba de ter usado suas articulações políticas para ajudar o Fluminense, em 2000, a saltar da Série B (estava na Série C, mas havia garantido o acesso) para a primeira divisão nacional, em uma das “viradas de mesa” mais constrangedoras da história do futebol brasileiro.

A volta de Eurico também nos remete àquela melancólica final da própria Copa João Havelange, quando 160 vascaínos se feriram na queda de um alambrado em São Januário. Choro, histeria, ambulâncias no gramado. Eurico Miranda estava lá, dando ordens a todos que passavam a sua frente. Não estava preocupado com as vítimas. Queria apenas que o jogo fosse reiniciado. Em meio à tragédia, exigiu que os jogadores levantassem a taça e dessem a volta olímpica. Coroava ali toda a arbitrariedade e a falta de senso humano, características tão comuns durante toda a sua vida dentro do clube. “Vamos, levanta, que o jogo vai continuar. Vamos, levanta rápido”, bradava em direção aos torcedores ensanguentados. É esse Eurico Miranda que está de volta. Ele e o seu inseparável charuto. É esse o caminho que o Vasco decidiu abraçar novamente.

7 comentários em “Eurico está de volta. Vasco escolheu o retrocesso

  1. Cheguei a imaginar e postar aqui no blog após o rebaixamento do Paysandu para a série C, às vésperas do centenário em 2013, que tinha medo, muito medo de Wandick seguir a mesma trilha de fracassos do Dinamite no Vasco. Felizmente meu medo não se confirmou e Wandick levantou a poeira e deu volta por cima no apagar das luzes. Sai de cabeça erguida e deixa as portas abertas para ele na cartolagem do Papão para o futuro. Já Dinamite não teve a mesma sorte e sai pelas portas do fundo, deixando o Vasco em situação calamitosa mesmo o time esteja a um passo da serie A em 2015. Dinamite deixa fechar as portas para ele no futuro do Vasco como cartola, do mesmo modo que alguns já fecharam na dupla REXPA. Não conheço a postura do DINAMITE enquanto cartola e por isso não sei dizer o motivo de tanto fracasso a frente do Vasco. Porém no Papão Wandick demonstrou postura de profissionalismo, ficando sempre longe de picuinhas de torcedores, dirigentes inclusive dos adversários etc. Teve até a nobreza de chamar o bocudo Galvão para conversar e resolver problema sério em jogo em Castanhal, após acusações de racismo sem precisar das esferas policiais e judiciais. Teve sempre mentalidade profissional procurando engrandecer o clube administrativamente e na estrutura. Somente os resultados dentro de campo estavam sendo escassos, mas sabíamos que para quem trabalha desse jeito, os resultados bons são apenas uma questão de tempo. Demorou,mas eles vieram de montão. E vieram de uma tal maneira importantíssima, que Já conseguiu esse ano o que a nação bicolor mais sonhava e queria e o que o clube precisava. Agora de dá ao luxo de decidir um título nacional mais uma vez, com a tranquilidade de saber que se ganhar será mais uma conquista nacional no ano do centenário, mas se perder certamente não haverá nenhum desespero para o clube e muito menos para o torcedor. A nação bicolor já está feliz esse ano do futebol porque tudo de melhor já está consumado, o resto é lucro. só lucro.

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  2. Pelo visto, perto dessa eleição do Vasco a ocorrida sábado último no Remo não passou de inocente escolha de representantes de turmas do ensino fundamental. Viga mestra da desonestidade político esportiva, Eurico traz de volta à cena tudo aquilo que durante muito tempo nos fez também um campeão mundial em trambicagens.
    Nesses tempos de Bom Senso F. C. e a possibilidade de uma Lei de Responsabilidade Fiscal do futebol, a volta de Eurico significa ´uma espécie de volta do Al Capone a Chicago pra cobrar tudo aquilo que dele confiscaram em ressarcimento ao Fisco.

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  3. Há duas semanas atrás estive no Rio, onde tive a oportunidade de conversar com um taxista sobre futebol. O taxista começou a me falar sobre a fase atual do Vasco, contou algumas histórias clássicas do Eurico, e concluiu a corrida dizendo que “apesar dos pesares, na época do Eurico o Vasco ganhou tudo o que tinha direito!”. Talvez essa fala do taxista revele o sentimento de muitos vascaínos, inclusive daqueles que o reconduziram ao cargo de presidente. Concordo com a leitura feita acima pelo Jorge Amorim, mas sabe-se lá o que se passa na cabeça (e no bolso) daqueles que o elegeram novamente…

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  4. Eu não sei o que é pior, a volta dessa tratante ou a péssima e vergonhosa administração do Dinamite.

    A volta desse cara, se ainda se encaixa no futebol marmotas e rebeldias é de uma infelicidade sem tamanho.

    O RD realmente foi um desastre!

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