Por Gerson Nogueira
Em 28 minutos de bola rolando o Paissandu quebrou todas as resistências de um atordoado Mogi Mirim, no sábado à tarde, no estádio Jornalista Edgar Proença. Não foram muitos ataques. Na verdade, apenas quatro. A superioridade se revelou na marcação firme e na perfeita distribuição dos jogadores pelo campo.
E quis o destino que o artífice desse triunfo fosse Bruno Veiga, espécie de Pequeno Polegar do time de Mazola Junior. Logo aos 2 minutos, roubou uma bola quase na linha do meio-campo e arrancou, resoluto e indômito, até a grande área do Mogi.
Com a bola controlada, entrou na área em disparada, esperou a saída do jovem goleiro André Luiz e bateu rasteiro, cruzado, rumo ao fundo do barbante. O jogo seguiu inteiramente favorável ao Papão, que se mostrava sempre firme no desarme e fortíssimo nas saídas rumo ao ataque.
Com marcação adiantada, atuando quase na intermediária do visitante, Mazola forçava erros seguidos dos meio-campistas Magal e Vitinho. Mais que isso: isolava o centroavante Nando entre os zagueiros.
Aos 21 minutos, em nova roubada de bola no grande círculo, Zé Antonio serviu a Veiga com perfeição. Marcado em linha pela defensiva paulista, o atacante recebeu e avançou em direção ao gol. Invadiu a área, passou pelo goleiro e tocou de lado, quase sem ângulo, para fazer 2 a 0.
Os mais de 17 mil pagantes presentes ao Mangueirão faziam um carnaval nas arquibancadas pela a belíssima atuação do Papão nos primeiros minutos da semifinal. Ao mesmo tempo, o Mogi despencava de vez, desestabilizado pelos gols de Veiga.
O beque Fábio Sanches, ex-bicolor, ainda deu um susto, cabeceando por cima da trave de Paulo Rafael depois de escanteio cobrado do lado esquerdo do ataque. Seria o único ataque razoavelmente perigoso do Mogi em todo o primeiro tempo.
Aos 28, Aírton saiu da esquerda para a direita e bateu falta com perícia e precisão. A bola atravessou a extensão da área e foi encontrar Pablo, que fechava no segundo pau. O zagueiro cumprimentou de cabeça, de cima para baixo, marcando o terceiro gol.
Aí o que era festa virou delírio no Mangueirão.
O Mogi mal conseguia trocar três passes seguidos. Girava a bola no campo de defesa, sem forças para tentar reagir e com receio de um novo gol. A impressão é de que, caso pressionasse mais, o Papão chegaria a mais gols.
Quando o jogo recomeçou no segundo tempo o Papão parecia mais relaxado, sem pressa de buscar o quarto gol. Somente o incansável Bruno Veiga insistia pela direita. Aos 3 minutos, cruzou bola rasante, mas Dênis chegou atrasado.
A goleada iria se confirmar instantes depois. Aos 16 minutos, um escanteio cobrado por Aírton achou Charles entre os zagueiros do Mogi. O zagueiro nem saiu do chão para desviar a bola para as redes.
A comemoração foi um retrato do ambiente reinante no elenco bicolor. Charles correu para abraçar o técnico Mazola e foi seguido por quase todo o time. O futebol mostra que, quando essa conexão se estabelece, dificilmente um time perde o prumo.
O Mogi ainda diminuiria, com Thomas Anderson, aos 40 minutos, no único cochilo de Charles na partida. Depois de bonita jogada pela direita, o cruzamento rasteiro foi espanado parcialmente pelo beque. Anderson aproveitou o rebote e desviou para as redes.
Um minuto depois quase saiu o segundo gol. Bola chutada pelo lateral esquerdo Leonardo beijou o pé da trave de Paulo Rafael. Silêncio no estádio por breves segundos. Logo a seguir, veio o apito final e a comemoração alviceleste saiu do Mangueirão, invadindo a noite de sábado na Cidade Morena.
Com três gols de vantagem no jogo de idade, por mais que a prudência evite falar em classificação antecipada, o fato é que o Papão botou um pé na final da Série C.
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O triunfo do esforço coletivo
Depois do jogo, o técnico Mazola analisou com simplicidade a grande vitória. Disse que o Papão foi eficiente no combate de meio-campo, encurtou espaços e jogou com objetividade o tempo todo. A mais pura verdade. Pode-se acrescentar que a equipe, de Paulo Rafael a Dênis, incorporou o espírito de decisão. O que mais se temia na Curuzu é que a conquista do acesso provocasse relaxamento.
A volúpia com que o Papão se lançou ao jogo, procurando decidir as jogadas de área e ganhando todas as divididas, provou que o temor era infundado.
Outro aspecto que merece destaque é que mesmo desfalcado de jogadores importantes, como Pikachu e Ruan, o Papão não arrefeceu. Esteve sempre superior e concentrado ao longo de toda a partida.
Confirmação de outra sentença de Mazola: segundo ele, o trunfo de seu time está no conjunto e não nas individualidades. Está certo, de novo. Aliás, logo no começo do segundo tempo, com o placar ainda em 3 a 0, viu-se obrigado a substituir por contusão seus volantes titulares Augusto Recife e Zé Antonio. Ambos tinham voltado à equipe depois da ausência no confronto com o Tupi, em Juiz de Fora. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)
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Um gesto que faz muita diferença
Quase ao final do primeiro tempo de Cruzeiro e Botafogo, no Mineirão, o cruzeirense Marcelo Moreno agiu como poucos boleiros no futebol brasileiro atual. O árbitro viu uma infração do lateral Junior Cesar por recuar bola para o goleiro Jefferson.
Ocorre que no meio do caminho Moreno desviou a trajetória. Diante da insistência do apitador, o atacante assumiu o toque na bola, avisando que não tinha ocorrido a falta por parte do defensor.
A torcida nem viu direito o lance, mas o gesto de Moreno recebeu cumprimentos de Jefferson e de todos os que acreditam em jogo limpo.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 03)










