Por Gabriel Priolli
Ando perplexo com a candura dos coleguinhas daqui e de alhures, diante das notícias que vão pipocando sobre o uso de robôs nas redações. Ainda não experimentamos a novidade, parida na gringolândia, mas não deve demorar a aportar aqui. Até porque não se trata exatamente de espécimes robóticos da complexidade de um C-3PO ou de um R2D2, mas algo ao alcance até do caixa depauperado da nossa imprensa.
Empresas noticiosas como New York Times, Los Angeles Times, Forbes e, mais recentemente, Associated Press, já programam seus computadores com algoritmos que permitem às máquinas coletar dados e redigi-los no formato simples da “pirâmide invertida”, respondendo a questões elementares como o que, quem, quando e onde, em notícias que dispensam maior atenção ao como e ao por que. Notícias meteorológicas, ou de trânsito, por exemplo.
Parabenizo o informata que deu à luz tal maravilha, mas estranho muito que haja coleguinha celebrando a nova proeza cibernética como uma grande conquista do jornalismo. Com ingenuidade digna da Dona Lúcia do Parreira, alguns acreditam que a introdução dos robôs não vai cortar postos de trabalho nas redações, mas sim liberar os jornalistas para um trabalho mais aprofundado, com mais qualidade de pesquisa e
de texto, mais investigativo etc.
Sei… Perguntem aos revisores, aos arte-finalistas, aos caras do paste up se eles ganharam novas funções, “mais profundas”, quando as redações foram informatizadas. Perguntem se a única investigação que passaram a fazer não foi nos cadernos de empregos. Aliás, que veículo mesmo teve a equipe ampliada nos últimos anos, aqui no Brasil? Ou apenas mantida? Alguém ouviu falar a respeito? Já do passaralho, temos notícia quase toda semana.
Mas, OK. Não vamos baixar o astral. Não vamos pagar o mico de tentar deter a marcha da História, ou de nos rebelar contra o inexorável. Nada de ludismo, de jogar computadores pela janela, quando puserem bots neles (sim, nos EUA os robots já têm até diminutivo carinhoso!). Vamos nos adaptar aos novos e produtivos coleguinhas de silício.
Talvez a entrada deles nas redações nos permita alguma reflexão sobre o grau de robotização que já atingimos, na imprensa aqui da Botocúndia, sem que nenhuma máquina escreva notícias sozinha. Somos nós mesmos os robôs, operando em modo de segurança nas pautas dirigidas, em que falam apenas as fontes “amigas da casa”.
Nas perguntas manjadas, para as quais já sabemos as respostas. Nos textos indigentes, maquinais como o do pior bot. No conformismo com um jornalismo que mais afirma do que pergunta, e cada vez investiga menos o que de fato acontece, nesse mundo complexíssimo em que vivemos.
É para refletir sobre como chegamos a tanto, e os porquês de se perpetuar esse estado de coisas, que precisamos liberar tempo e cabeça. Com a dita cuja, preferencialmente, sobre o pescoço.
Gabriel Priolli foi editor executivo e diretor de redação de IMPRENSA entre 1987 e 1991. Hoje é produtor independente de TV.
gpriolli@ig.com.br.
gpriolli@ig.com.br.
A imprensa brasileira precisa resistir a formula enlatada. A regionalidade, por exemplo, é uma forma de sustentabilidade do sucesso da Radio Clube do Pará. Fugir da facilidade pode representar riqueza de qualidade no conteúdo que o leitor precisa e tem que exigir.
CurtirCurtir
Lembro de um jornal que aboliu a função de revisor por um programa. Só que o programa era gringo e fazia a revisão com erros de português. O windows, por exemplo, não sabe o que é concordância ideológica e dá erro. E tem gente que ainda discute, dizendo que tá errado mesmo. Não sei hoje como andam esses programas.
CurtirCurtir