Por Gerson Nogueira
O confronto deste domingo entre Águia e Papão, válido pela Série C, reflete bem o estágio atual do futebol paraense. Os dois principais representantes do Estado em competições nacionais entram em campo lutando para não cair, depois de ficarem atrás de oponentes bem mais modestos durante toda a primeira fase do torneio. O clima é de desespero total, embora no caso bicolor isso venha disfarçado de uma aparente (e falsa) tranquilidade.
Sem vencer a oito partidas (duas pela Copa do Brasil), o Papão tem todos os motivos para se preocupar. Caso perca ou empate hoje provavelmente terminará a rodada na zona do rebaixamento e cada vez mais distante do bloco dianteiro na classificação. Além disso, um mau passo deflagrará um processo de mudanças internas até hoje adiado pela diretoria.
Uma vitória terá o efeito de um bálsamo, pois restituirá a confiança da própria equipe, manterá o técnico Vica no cargo e ainda vai tirar de combate um adversário direto no grupo.
Para obter tão importante objetivo, o treinador decidiu arriscar de vez. A necessidade normalmente leva as pessoas a essa decisão, mas não precisava exagerar. Lança dois jogadores que chegaram há apenas três dias, sendo que um deles (o atacante Rômulo) não disputa jogo oficial há quase um ano.
Rômulo será o centroavante, ao lado de Pikachu, que ainda não se adaptou ao papel de segundo atacante. Na zaga, o estreante é Fernando Lombardi, cuja missão é ajudar a fechar um setor que já sofreu 14 gols nos últimos seis jogos. Por tabela, funcionará como esperança de resgate do bom futebol de Charles, que nunca mais foi o mesmo depois do Parazão.
Nada impede que essas apostas de Vica funcionem às mil maravilhas, mas é um tiro no escuro. Os jogadores que estreiam podem ser bons tecnicamente, mas acabaram de chegar e dificilmente poderão disputar os dois tempos.
Por outro lado, o técnico tem lá seus motivos para agir assim. Afinal, desde que assumiu o barco as coisas pararam de dar certo no Papão. Mal ou bem, com Mazola Jr. o time tinha um desempenho ofensivo expressivo, conseguindo se posicionar como dono do melhor ataque do país no primeiro semestre.
Vica herdou um plantel desfalcado de seu principal artilheiro (Lima) e de um dos zagueiros titulares (João Paulo). Com as peças disponíveis, ficou testando escalações, até se fixar no sistema de dois volantes e dois meias. Quanto aos marcadores, nenhuma inovação. Mas, ao utilizar dois jogadores de criação, buscava dar mais ofensividade ao time, o que não aconteceu. Pior: a presença dos armadores enfraqueceu o meio-campo, pois com Mazola o setor tinha três volantes a guarnecê-lo.
O Águia é um imenso ponto de interrogação. Reencontrou a vitória em casa contra o Cuiabá na penúltima rodada, mas voltou a cair na rodada passada. Perdeu para o Botafogo-PB, em João Pessoa, mesmo jogando com desenvoltura no primeiro tempo. Sente falta, como ocorre com o Papão, da consistência e regularidade do antigo esquema, usado por João Galvão.
Diego Palhinha e Valdanes são os motores do time, capazes de criar problemas para qualquer adversário no Zinho Oliveira. A dúvida que atormenta a torcida marabaense é se o ataque (com Danilo Galvão e Aleílson) conseguirá funcionar e se a zaga não repetirá os deslizes costumeiros.
Definitivamente, Papão e Águia neste momento se parecem até na insegurança. Sinal de jogo emocionante hoje à tarde.
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Atração internacional no Baenão
Belém deve ser a cidade mais refratária a partidas amistosas. O torcedor paraense só prestigia jogos que valem ponto ou taça. Prestigiar amistoso é por assim dizer um programa de índio.
Desta vez, a situação é um pouco diferente. O visitante representa uma escola em franco crescimento no futebol mundial. A Etiópia, mesmo não tendo maior tradição, tem feito boas participações na Copa da África e nas eliminatórias da Copa do Mundo.
Um time que tem condições de criar sérias dificuldades para o Remo, cuja inconstância é o maior dos problemas do técnico Roberto Fernandes. Mas, ao contrário do que se imaginava, a intenção de Fernandes é lançar um time mesclado de titulares e reservas.
Perde assim uma boa oportunidade de por à prova seu time principal, tão carente de maior entrosamento e alternativas de jogo. As novidades ficam por conta das estreias do atacante Alvinho e do meia Marcinho, reforços que o Remo ainda não teve oportunidade de usar na Série D.
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Festa para a Estrela Solitária
Com a fibra inquebrantável dos grandes alvinegros, o amigo Pedro Paulo da Costa Mota lembra que nesta terça-feira, 12, o Botafogo completa 110 anos de fundação. Todo mundo sabe que nosso amado clube passa por fase das mais tormentosas, mas a Estrela Solitária jamais deixará de brilhar.
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Dinheiro demais, bola de menos
De vez em quando, o fenômeno se repete. Agora é a vez de Kaká, Robinho, Pato. O futebol paulista se cerca de velhas novidades e de uma eterna aposta que não vingou. O torcedor, cético, não embarca na onda. Os milhões que sustentam as transações são estonteantes, mas a bola – essa coitada – é cada vez mais anã.
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Bola na Torre
A rodada da Série C para os times paraenses é o tema principal do programa. Guilherme Guerreiro comanda, com participações de Ronaldo Porto, Valmir Rodrigues e deste escriba baionense. Na RBATV, à 00h15, logo depois do Pânico na Band.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 10)