Por Gerson Nogueira
O Cruzeiro deu o exemplo. Um passo importante e inédito no sentido de isolar as facções violentas que se misturam à torcida normal nos estádios. Depois da pancadaria generalizada na Arena Joinville, que resultou no divórcio entre a patrocinadora Nissan e o Vasco, a diretoria do campeão brasileiro decidiu proibir o uso de seu escudo oficial pelas “torcidas organizadas”.
A diretoria cruzeirense pretende ir mais longe: vai responsabilizar criminalmente e processar as facções que insistirem em usar os símbolos oficiais do clube. Quer, a todo custo, preservar a sua marca da vinculação com baderneiros e vândalos.
Da maneira incontrolável como as hordas de criminosos invadem os estádios brasileiros somente ações firmes por parte dos clubes pode frear a escalada. Tão ou mais difícil do que pacificar as praças esportivas é convencer os dirigentes quanto à necessidade de enfrentar as organizadas.
Prova disso é a constatação, feita pela reportagem publicada nesta edição do caderno Bola, de que os grandes clubes paraenses estão reféns desses falsos torcedores. Apesar de medidas mais duras adotadas pelo Paissandu, desde que uma facção tumultuou a partida contra o Avaí na 31ª rodada da Série B deste ano, o tratamento reservado às organizadas é quase sempre tolerante e permissivo.
Em prejuízo direto das finanças dos próprios clubes, algo comparável a um autocanibalismo, as diretorias alimentaram generosamente o monstro ao longo dos últimos anos. Um cálculo conservador indica que somente em 2013 foram destinados cerca de R$ 1 milhão em ingressos subsidiados.
Houve diretoria de clube que não apenas patrocinou, mas usou convenientemente os préstimos das organizadas, sempre que foi necessário apelar para o jogo sujo, interna e externamente.
Um bom exemplo dessas ligações perigosas é a repetitiva cena de invasões de treinos por “representantes da torcida”, como forma de pressionar jogadores e assustar técnicos. No Paissandu, a cena patética ocorreu pelo menos quatro vezes nesta temporada.
Os números expostos na matéria do repórter Nildo Lima expõem situação há muito comentada, mas nunca comprovada, de fato. No máximo, sabia-se da cessão (sem ônus) de loja no estádio da Curuzu a uma facção, justamente a mais violenta e já extinta por decisão judicial. No Remo, a situação não é muito diferente, com facilitações e agrados às organizadas.
A solução só virá quando os clubes, a exemplo do Cruzeiro, tomarem consciência de que as organizadas não são aliadas e prestam um desserviço, desfrutando de regalias e ao mesmo tempo afugentando a verdadeira massa torcedora dos estádios.
Com amigos assim não se precisa de inimigos.
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Gols que valem ouro
Cerca de R$ 780 mil por semana. Salário de Luiz Suarez, artilheiro do Liverpool e da seleção uruguaia, um dos mais bem pagos atletas (não só do futebol) do planeta desde a última sexta-feira. Polêmico, raçudo e encrenqueiro, Suarez é capaz até de morder adversário durante um jogo. O que limpa sua barra é a história brilhante, sacrificada e inteiramente compatível com a magia da Celeste Olímpica.
Foi dele o gesto inusitado de se atirar na bola que entrava na meta uruguaia nas quartas de final da Copa do Mundo de 2010. Como um goleiro, espalmou a bola e impediu o gol de Gana. Foi expulso, mas ainda viu o atacante ganês desperdiçar o pênalti. Em seguida, a Celeste venceria na cobrança de penalidades, avançando no mundial.
No Liverpool, Suarez tornou-se rapidamente símbolo de comprometimento e raça, que encantou a fanática torcida vermelha. É precisamente essa combinação de gana e talento que justifica a polpuda remuneração.
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Bola na Torre
O presidente do Paissandu, Vandick Lima, é o entrevistado da noite. Guilherme Guerreiro comanda o programa campeão de audiência, que começa logo depois do Pânico na Band, por volta de 00h20.
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Direto do blog
“O Vânderson joga só na vontade. A condição física que era o seu forte já não é mais a mesma. Como disse o Dr. Sócrates, ‘o futebol já o abandonou’, ele é que não quer abandonar o futebol”.
De Mesquita, torcedor bicolor desencantado com a permanência do veterano volante.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 22)