Por Sérgio Xavier – de Placar
Alexandre Pato é um grande jogador de futebol. Comecemos com esse lembrete para tentar avançar na análise. Ele tem habilidade e inteligência, algo que o diferencia da maioria. E, de quebra, tem a velocidade que fecha o pacote quase perfeito para um atacante: habilidade, inteligência e velocidade. Por isso ele custou 20 milhões de dólares quando se transferiu do Internacional para o Milan e 40 milhões de reais quando foi repatriado.
Dito isso, vem a pergunta inevitável: por que Pato não entrega aquilo que promete? Walter, William Batoré, Maikon Leite e Hernane Brocador. Qualquer um deles está entregando muito mais do que Pato nos últimos meses. E todos são evidentemente “menos jogador” do que Pato. Ao menos no papel.
Pato ainda não conseguiu se libertar do fardo de ter sido precoce. Muito cedo no Inter, ele brilhou e mostrou que “não sentia pressão”. Arrebentou na estréia, mostrou desenvoltura no Mundial de 2006, foi tão cedo para o Milan que não tinha nem idade para jogar o Campeonato Italiano. E, nos primeiros jogos, seguiu mostrando que tinha cabeça de craque experiente com corpo e cara de menino.
Além da precocidade, Pato tinha outra mochila pesada para carregar. Mostrar diuturnamente que era “jogador diferenciado” porque não fazia o óbvio. Na primeira vez na Seleção principal, inventou um golaço com pouco ângulo encobrindo o goleiro.
O tempofoi passando e Pato foi se mostrando cada vez mais compromissado com a necessidade de confirmar a sua própria imagem. Entre o gol feio quase certo e a chance de fazer uma pintura, sempre a segunda opção. A vitória de qualquer jeito não tem a ver com Alexandre Pato.
Talvez o pênalti perdido pelo camisa 7 do Corinthians na Arena tenha sido um resumo do que ele se tornou. O gramado não estava bom, a marca do pênalti, então, um buraco só. Condições adversas para uma cobrança de precisão como a cavadinha. No gol do Grêmio, havia um goleiro frio. Que nas cobranças anteriores não estava se atirando antes nos cantos.
Pato teve nove cobranças para observar tudo isso. Mesmo assim, foi no risco. Escolheu o truque mais ousado do seu repertório. Jogador diferenciado, precisa fazer coisas diferentes. Jogador como Pato não sente pressão. Não foi isso que ele sempre escutou? E deu no que deu.
Talvez o ciclo de Pato no Corinthians tenha se encerrado no exato momento em que Dida agarrou a bola. Mas, aos 23 anos, ele tem um longo caminho pela frente. Ninguém arrancou a sua habilidade, inteligência e velocidade. Para retomar a carreira, ele terá que apagar tudo o que já escutou e leu sobre o seu futebol. Nada de “diferenciado” e “precoce”. Pato vai precisar aprender o significado de outras palavras como objetividade, simplicidade e, por que não, humildade. Talvez ele tenha algo a aprender com William Batoré e Henane Brocador. Além de gols, o que eles estão fazendo que Pato não está?