Por Gerson Nogueira
Faz tempo que o futebol paraense não se notabiliza por façanhas e conquistas em campo. Na falta disso, o Estado acaba se expondo pelas mazelas. O triste espetáculo de ontem, na Curuzu, revela exatamente essa distorção. Depois de ameaçar invadir o gramado e criar muito tumulto nas arquibancadas, uma gangue organizada acuou o policiamento e forçou a suspensão da partida, aos 36 minutos do segundo tempo.
Como o árbitro não confiou no policiamento, o jogo terminou de forma duplamente melancólica para o Paissandu. Perdeu em campo por 2 a 0 e viu seu estádio ser enxovalhado por uma facção de torcedores (?), com imagens que estavam sendo exibidas para todo o país. Além da derrota, o clube pode dar como certa uma punição rigorosa pelos incidentes registrados na Curuzu.
Um triunfo dos bárbaros que infestam o nosso futebol nos últimos anos. Torcer virou atitude de alto risco nas arquibancadas, além dos perigos já conhecidos que rondam os estádios. Na partida de ontem, o verdadeiro torcedor compareceu para incentivar o Papão e fez isso durante todo o primeiro tempo. Continuou a apoiar mesmo depois do primeiro gol sofrido.
Depois que o Avaí marcou o segundo gol, a torcida silenciou e os baderneiros entraram em ação, pressionando o alambrado e ameaçando a integridade da arbitragem e dos jogadores. A isso não se chama paixão cega. O nome é outro: violência gratuita e irracional. Torcedores de verdade não agem assim.
O clube paga o duro preço de abrir passivamente suas portas (e outras dependências) a esse tipo de gangue, cujo objetivo é apenas disseminar violência. Na semana passada, um grupo de torcedores “organizados” chegou a reunir com o elenco e o técnico Benazzi!
Essa permissividade é prima-irmã da bagunça que todo o Brasil viu pela TV. Além da agressividade das gangues, foi possível observar o quanto a polícia paraense segue despreparada para lidar com multidões.
Diante do ocorrido, é improvável que o Paissandu volte a jogar na capital nesta Série B. Os episódios certamente irão ser analisados pelo STJD e a punição tende a ser dura, visto que o clube é reincidente. Parabéns a todos os envolvidos.
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Avaí explora pontos fracos do Papão
O Paissandu até teve postura na defesa e vontade ao longo do primeiro tempo. O problema é que o futebol exige mais do que isso. Requer desprendimento e organização, principalmente no meio-de-campo. Contando apenas com Eduardo Ramos para articular jogadas e lançar os atacantes, a equipe ficou claramente inferiorizada no embate direto com a marcação catarinense. Diego Barbosa seria o jogador para dar suporte a Ramos, mas, muito lento e dispersivo, em nada contribuía.
Do lado catarinense, a proposta era esperar. O Avaí quase não atacava, preferia valorizar ao máximo a posse da bola. Marcava com eficiência, mas se mantinha muito recuado, o que permitiu ao Paissandu avançar e criar algumas jogadas junto à área.
Sem a inspiração de Pikachu pelo lado direito e com a ausência total de talento de Gilton na lateral esquerda, o Papão dependia exclusivamente de Eduardo Ramos. No ataque, Marcelo Nicácio se movimentava, mas não tinha grandes oportunidades. Dênis pouco apareceu.
Quando começou o segundo tempo, o Paissandu veio com tudo. Apoiado pela torcida, o time se lançava à frente e logo aos 2 minutos Ramos mandou uma bola na trave. O lance deu a impressão de que a vitória era possível, mesmo na base da valentia.
Acontece que do outro lado havia qualidade no passe e o meia Marquinhos foi fundamental para que o Avaí chegasse ao gol, através de Betinho. A partir daí, o Paissandu mergulhou de vez na confusão tática e no nervosismo individual. Ninguém acertava mais nada. E o visitante foi crescendo em campo, criando situações e sufocando a defesa paraense.
Aos 27 minutos, depois de dois bons ataques, Cléber Santana marcou o segundo. Detalhe: as jogadas fatais surgiram pelo lado esquerdo do Papão, explorando as deficiências de Gilton. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste sábado, 19)












