Violência não rima com futebol

Por Gerson Nogueira

O pau quebrou em várias praças esportivas do Brasil ontem. A desordem campeou. Violência de todo tipo. Foi assim no Arena Independência, durante o clássico Atlético-MG x Cruzeiro. No Morumbi, antes de São Paulo x Corinthians. Em Fortaleza, depois de Fortaleza x Sampaio Corrêa. Estes foram os casos mais escabrosos, embora a domingueira tenha registrado outros abusos pelo país afora, praticados por torcedores e excessos por parte das forças de segurança.

bol_seg_141013_15.psRepete-se o cenário que já se tornou quase que uma extensão do futebol no Brasil. Sim, porque pancadaria e truculência nada deveriam ter a ver com o jogo propriamente dito. Ninguém tem notícias de afrontas à integridade física de ninguém nos jogos dos certames europeus ou nos espetáculos da  NBA, que, aliás, desembarcou neste fim de semana no país.

Vou ser repetitivo também, pois a situação exige. É preciso compreender que nos demais países do primeiro mundo da bola não há abuso nem desrespeito porque algo foi feito. Aconteceram providências nos últimos 20 anos que desfizeram as ameaças, extinguiram os riscos a nível quase zero.

Tudo porque o futebol europeu e o basquete americano se tornaram grandes negócios, que não podem ser sabotados por arruaceiros. Sempre que a Justiça Desportiva pune brandamente clubes cujas torcidas alopram nas arquibancadas novos desordeiros sentem-se estimulados a sair da toca.

Sempre que a Polícia reage com passividade e parcimônia, reunindo-se com líderes de gangues organizadas, dá um tremendo incentivo à perpetuação da barbárie. Só os incautos ou mal-intencionados não enxergam esse quadro.

Os turbulentos continuarão a agir pelo simples fato de que não existem obstáculos às suas ações. Não temem ninguém, pois sabem que as imagens de domingo só irão gerar comentários desairosos na TV e nos jornais, mas não terão qualquer consequência prática. Como sabemos, a memória da massa é fugidia e traiçoeira, termina agindo em favor dos criminosos. Alguém por acaso lembra ainda da pancadaria ocorrida em Brasília durante um clássico entre Corinthians e Vasco?

A frequência de tumultos em estádios no Brasil, fato que inclui Belém, tornou banal a simples briga de arquibancada. Há quem veja nisso algo inerente à tradição do futebol sul-americano, normalmente mais aguerrido e bélico do que o de outros países. Ocorre que a agressividade deveria ficar restrita à vontade de vencer jogos, não de machucar (e até matar) pessoas.

Quando isso acontece não cabe mais pensar apenas no universo boleiro, mas enquadrar os responsáveis como criminosos comuns. E aplicar a pena adequada. Juizados especiais instalados nos estádios, com poderes para condenar e prender, poderiam ser um bom começo. Fica a dica.

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E não deu para o Azulão…

O Águia sucumbiu à maior qualidade do Luverdense e foi eliminado da Série C, embora tendo se mantido na competição para a temporada de 2014. Não cabe lamentar ou fazer críticas a essa altura. A rigor, o time paraense comprometeu suas chances na duríssima disputa do Grupo A quando perdeu pontos preciosos em casa para o Cuiabá. O desafio de decidir a vaga fora de casa, contra uma equipe forte, era difícil, mas as esperanças vinham das últimas boas atuações da equipe de João Galvão.

Acontece que a partida mostrou um Luverdense bem mais determinado e arrumado em campo. Marcou o primeiro gol, em bola que desviou e enganou o goleiro Jair. No final do primeiro tempo, fez o segundo gol e praticamente decretou a vitória. O Águia voltou melhor do intervalo, mas sofreu o terceiro gol e deu adeus a qualquer possibilidade de reação. Resta reconhecer os méritos de Galvão na condução de uma equipe modesta e de baixíssimo custo. Nas circunstâncias, foi até além de suas possibilidades.

Para o mata-mata do acesso, os times do lado A levam alguma vantagem sobre seus oponentes. Santa Cruz, Luverdense, Treze e Sampaio vivem momento melhor no campeonato que Betim, Caxias, Vila Nova e Macaé, e devem prevalecer.

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Exemplo a ser seguido

Vi, no sábado à tarde, Avaí e Chapecoense se engalfinharem em busca de três pontos. O jogo foi na Ressacada, em Florianópolis, mas a Chapecoense jogou como se estivesse em sua própria casa. Atacou desde o primeiro minuto e deu sufoco em várias ocasiões. Abriu o placar, sofreu o empate, mas persistiu na batalha pela vitória, que acabou acontecendo.

Além da confirmação da Chapecoense como segundo melhor time da Série B, chamou atenção a entrega dos dois times. O Avaí, tecnicamente inferior e visivelmente assustado com a ousadia do visitante, também foi forte e digno. Lutou até o fim, sem tréguas. Quase foi premiado nos minutos derradeiros.

Acima de tudo, os dois duelistas se mostraram perfeitamente sintonizados com o espírito da Segundona. Jogar com raça, vontade e sangue, como se não houvesse amanhã. Não por acaso estão muito bem situados na competição. A bola também premia.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 14)

O passado é uma parada…

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Cadetes e soldados dos exércitos de Adolf Hitler, comemorando o Natal de 1941.

Sem Marina, melhor para Dilma

Por Maurício Dias

Após a decisão ousada e arriscada do governador Eduardo Campos (PE), presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), de aceitar a filiação de Marina Silva, é melhor deixar a poeira baixar, como está baixando, para tentar ir além do barulho e dos elogios despejados sobre a aliança entre dois pré-candidatos ao comando da República.
A decisão de Marina de se filiar ao PSB acaba com a manifestação apolítica tão marcante nos movimentos de junho, em que era proibido exibir estandartes partidários. Naquele momento, o pique de intenções de voto em Marina contrastava com a queda profunda da popularidade e do apoio a Dilma Rousseff.
Criou-se o mito, após o furdúncio nas ruas, da emergência de um mundo político novo impulsionado pelas pesquisas que registravam, no entanto, um momento político da hora e não a eternidade política desejada.
A ilusão foi rápida.
marinaclandestinaPSBHá uma crença no país, cuja expressão maior é Marina Silva. Acredita-se, ou dizem acreditar, que é possível fazer política seguindo regras rígidas do moralismo. Contra isso vale recuperar a frase irretocável de Hermes Lima, um dos fundadores do PSB e exemplar raro de integridade. Ele observou, para desilusão de Marina e dos “marineiros” ortodoxos: “A política não é uma atividade para pecadores”.
Marina não crê nisso. Esse comportamento é o que leva à conclusão de que a decisão de Eduardo foi ousada e arriscada. Eis o reflexo de um dos salmos tirados do evangelho que ela prega: “Qual a diferença se for Aécio Neves, Eduardo Campos ou a Dilma? Tem diferença em relação ao modelo de desenvolvimento? Me parece que até agora todos estão no mesmo diapasão”.
Campos, certamente incomodado, segue a rotina de levar um partido tradicional ao topo do poder. Para isso, as restrições devem ser poucas. Isso não é novidade para o partido. O PSB, ao longo da história, já tombou da esquerda para a direita (ao aderir ao udenismo reacionário na eleição de 1954) e da direita para a esquerda (expressão da ala que apoiava João Goulart).
A “cara nova” de Campos, um moderado, contrapõe-se à velha e sisuda feição do avô, Miguel Arraes, respeitável esquerdista que amargou o exílio após o golpe civil-militar de 1964.
Os “socialistas” (entre aspas) dispõem agora de dois presidenciáveis. Eduardo Campos era e é, em princípio, o candidato. Marina era, e é, a esperança da oposição de levar a eleição ao segundo turno. Mas ela perderá a força tanto se for vice quanto se for mordida pela mosca das pesquisas pré-eleitorais e aspirar à cabeça da chapa. Marina perdeu o encanto. O confronto entre os dois (tabelas) mostra como as duas almas estão distantes, inclusive nas pesquisas de intenções de voto.
Assim, ao contrário do que se pensa, a decisão de Marina pavimenta o caminho para Dilma ganhar no primeiro turno.