Por Gerson Nogueira
Já faz algum tempo que grandeza de torcida não significa certeza de estádios lotados. O que sempre foi orgulho e glória dos clubes mais populares do país vem deixando de ser sinônimo de lucratividade nas bilheterias. Ou, pelo menos, não é mais como já foi um dia.
O advento das modernas arenas, construídas para a Copa do Mundo no Brasil, acelerou esse processo de forma até dramática. E não se está dizendo que as torcidas encolheram, muito pelo contrário até. Alguns clubes até ampliaram seu número de adeptos, mas isso não se reflete nas arquibancadas e cadeiras.
Tudo porque as arenas exigem manutenção de alto padrão, o que custa caro e a saída natural para enfrentar essas despesas é repassar para o consumidor final. O torcedor termina sendo o responsável pelo pagamento da conta. Por essas e outras, o novo Maracanã não pratica mais preços inferiores a R$ 50,00.
Quando um clube mandante decide baixar o preço dos bilhetes está consciente de que irá desembolsar a diferença no fechamento de caixa com os administradores do estádio. O mesmo ocorre em outras arenas, como o Mané Garrincha, em Brasília, e o Mineirão, em Belo Horizonte.
Salvador, Recife e Fortaleza ainda não aderiram completamente à nova política de preços, mas é inevitável que passem a praticá-la, pressionados pelos custos de manter suas arenas sempre impecavelmente limpas e seguras.
A inflação do futebol já havia começado pelo Rio Grande do Sul e Paraná, onde os principais clubes (Internacional, Grêmio, Atlético e Coritiba) encareceram os ingressos como estratégia para viabilizar os programas de sócio torcedor, e por São Paulo, principalmente através do Corinthians, cuja venda de carnês e bilhetes antecipados mostrou-se um sucesso.
Diante da nova realidade, o futebol torna-se um espetáculo para poucos, inacessível para a massa, mesmo quando os jogos valem quase nada, como os intermináveis turnos de campeonatos estaduais. Passamos a cobrar preços de torneios europeus por competições rastaqueras.
Ao mesmo tempo em que afugenta o torcedor mais humilde, o futebol abre os braços para um novo tipo de cliente. Sim, não há mais aquela invasão de multidões apaixonadas e fanáticas.
Até os gritos que saem das arquibancadas são mais educados, quase refinados, justificando até o surgimento daquela inacreditável cartilha de bons modos da Fifa, sobre a qual comentei aqui há duas semanas.
Para deleite de alguns dirigentes, é como se o futebol deixasse de lado o restaurante pé-sujo e entrasse de pé direito na estética gourmet. Em outras palavras, como diria Zé Simão, tucanaram a coisa. Mas há quem goste. Cultores da etiqueta e do refinamento devem se extasiar com as instalações assépticas e luxuosas das arenas, recendendo a shopping center.
O próprio termo arena já é um convite à teatralização – ou coxinização – do esporte. É claro que a novidade satisfaz quem pode sacar do bolso, sem aflição, R$ 300,00 ou R$ 500,00 por um lugar nas cadeiras. A dúvida é se esse novo estado de coisas contribuirá para manter o Brasil no primeiro mundo da bola ou confirmará de vez a decadência dos últimos tempos.
Ao contrário do que ocorre na velha Europa, aqui o futebol sempre foi coisa de pobre. Forjado nas favelas e grotões de periferia, esteve sempre a um passo da marginalidade e daí extraiu seus principais artistas – Pelé, Garrincha, Ronaldo, Romário – e a natureza encantadora de seus dribles. Uma finta no jogo significava um drible nas dificuldades do mundo.
A infatigável fábrica brasileira de talentos sempre se alimentou dos meninos humildes e da identificação que os torcedores têm com esse universo particular. Os boleiros mantêm a origem, mas a plateia tende a ser cada vez mais elitista. Impossível não notar a imensa contradição que se impõe e os riscos dessa mudança.
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Matemática só ajuda a quem trabalha
As projeções indicam, como já manifestado aqui, que o Paissandu precisará conquistar pelo menos 30 pontos para fugir ao rebaixamento. Talvez até precise de um pouco menos, dependendo da evolução das pontuações dos times na Série B. Há também a possibilidade de elevação dos pontos na parte de baixo, empurrando a linha de corte para cima. Em campeonatos anteriores, houve time que se salvou com 44 pontos, mas ocorreu rebaixamento de equipes que marcaram 46.
Como o Papão ainda terá dez jogos a cumprir em casa, a alternativa mais segura para não flertar com a degola é garantir os pontos como mandante, além de catar mais dois ou três lá fora. Diante disso, o jogo deste sábado, em Bragança Paulista, pode ter contribuído para diminuir o tamanho do desafio ou aprofundar as incertezas matemáticas.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 01)
Sr. Gerson
sobre a segunda parte do seu comentário, ainda acredito que o Paysandu não será rebaixado.
Apesar de esforços intestinos de jogadores de mau caráter eu acho que atravessaremos com galhardia. Depois é esperar as ações trabalhistas que inevitavelmente virão. Quando será que esses dirigentes vão aprender a contratar? Por falar nisso, o senhor poderia me informar, por favor, quantos jogadores há no plantel bicolor?
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Pelas contas mais recentes, amigo Luiz, o elenco tem 41 atletas no momento.
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O problema é que nesse returno o Paysandu só vai pegar pedreira em casa, Palmeiras, Sport, Ceará etc. A coisa tá feia para o lado da Curuzú, pior ainda com o time rachado.
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