Encontros e desencontros do jornalismo científico na região foi o tema de debate promovido na última sexta-feira, 31, no auditório do Sindicato dos Urbanitários (na Duque de Caxias), pela Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia (Secti). O evento, presidido e aberto pelo secretário Alex Fiúza de Mello, teve como convidado especial o professor, doutor e jornalista Wilson da Costa Bueno (Universidade Metodista de São Paulo) e participações da professora Rosaly Brito (UFPA) e da jornalista Jimena Beltrão, do Museu Paraense Emílio Goeldi. O evento, denominado Seminário Estadual de Jornalismo Científico, teve ainda as presenças do jornalista Felipe Melo, de O Liberal, e deste escriba baionense, representando o DIÁRIO DO PARÁ.
Na abertura, para uma platéia de aproximadamente 200 pessoas, o professor Alex Fiúza de Mello observou a importância da discussão sobre a presença da ciência no noticiário dos jornais e o esforço para que frutifique um jornalismo mais atento a respeito de temas científicos nas mais diversas áreas de atividade humana. Anunciou também a criação de um prêmio estadual para estimular a produção de trabalhos jornalísticas relacionados com o segmento e a criação de um grupo de trabalho para discutir o assunto em termos institucionais, sob responsabilidade da Secti.
Wilson da Costa Bueno é um respeitado militante da causa do jornalismo científico no Brasil, defendendo mais espaço para matérias e informações de caráter científico nos veículos de comunicação. Como descreveu Rosaly Brito à certa altura do evento, o papel de Wilson é ainda mais admirável porque ele não esconde de que lado está, manifestando-se de forma corajosa contra os engodos e truques do chamado “marketing verde” das grandes corporações, denunciando a farra dos transgênicos e as ações predatórias das grandes indústrias. Em sua palestra, o professor traçou um painel crítico da cobertura científica no jornalismo brasileiro.
Segundo Wilson, falta formação qualificada aos jornalistas e um dos caminhos para enfrentar essa realidade é a inclusão de disciplina nas grades curriculares dos cursos de Comunicação Social. Observou que, nas redações, predomina a espetacularização da ciência, citando exemplos como a “síndrome da baleia encalhada”, que motiva olhares rápidos e superficiais sobre a ciência. Prevalece também a sacralização dos organismos científicos, tidos como apolíticos e desprovidos de influência ideológica. Defendeu o questionamento por parte dos jornalistas no sentido de aprofundar denúncias sobre a atividade de grandes corporações, notadamente as que desbravam regiões como a Amazônia brasileira.
A jornalista Jimena Beltrão discorreu sobre o trabalho pioneiro empreendido por informativos internos da UFPA e Embrapa e a experiência inovadora na assessoria de comunicação do Museu Paraense Emílio Goeldi. Reclamou mais espaço para o jornalismo científico nos órgãos de imprensa de Belém e também mais respeito dos órgãos federais para o conteúdo gerado pela assessoria do MPEG. A professora Rosaly Brito foi a mediadora do seminário, pontuando as falas e perguntas com comentários pertinentes sobre a precariedade da cobertura científica no jornalismo local.
Felipe Melo, jornalista que edita a publicação Amazônia Viva, de O Liberal, comentou a experiência de trabalhar em parceria com pesquisadores e cientistas paraenses. Diante de perguntas da plateia, assegurou que a Vale, patrocinadora da publicação, não interfere na pauta e no encaminhamento editorial do suplemento. De minha parte, falei sobre as tentativas do DIÁRIO de abrir espaço para o jornalismo científico, através de séries de reportagens assinadas por repórteres de gabarito, como Ismael Machado e Frank Siqueira. Observei, ainda, a iniciativa de criar uma página semanal – Ciência em Ação – há quatro anos, para divulgação de trabalhos, estudos e pesquisas desenvolvidos pelas dez principais instituições de ensino superior no Pará. Quanto à qualificação dos profissionais, citei a criação da Escola Diário de Jornalismo, que busca complementar conhecimento a estudantes universitários recém-formados. A EDJ prepara em 2012 sua terceira turma, já tendo formado 12 profissionais, 11 dos quais atuam hoje na reportagem do DIÁRIO.
O seminário da Secti é iniciativa das mais interessantes para elevar o nível dos jovens profissionais paraenses. De fato, o jornalismo científico é área ainda quase inexplorada entre nós. O nível geral do debate foi muito bom. Que a experiência frutifique. (Fotos: NEY MARCONDES/Diário)



