Por Gerson Nogueira
O fato de um dirigente do Independente ter abandonado a reunião, protestando contra a decisão da maioria no Conselho Técnico da FPF, confirma que o bom senso prevaleceu. Apesar das imperfeições, o modelo atual é o melhor que já tivemos e o campeonato continua como está, com oito equipes disputando dois turnos.
Os vencedores de cada turno disputam o título estadual e os dois últimos colocados são rebaixados. A fim de escapar do sufoco do acesso, Independente e São Raimundo surgiram com a graciosa proposta de aumentar o número de disputantes para 10, mas foram derrotados pela maioria lúcida, ontem à tarde.
Fica evidente a preocupação que a maioria dos clubes tem com a evolução técnica do nosso futebol. Todos os homens de boa vontade sabem que o inchaço do campeonato significaria um retrocesso, capaz de comprometer ainda mais a qualidade do torneio.
Além da importante decisão quanto à fórmula de disputa, os clubes também definiram que semifinais e finais, com a presença de Remo e/ou Paissandu, serão disputadas sempre em estádios para mais de 15 mil torcedores.
A iniciativa põe fim ao debate desnecessário que houve neste ano quando o Remo insistiu em usar o Baenão nas semifinais do returno, argumentando que o Águia mandou o jogo de ida no estádio Zinho Oliveira.
Outro aspecto que ainda será formalizado é o critério para definição dos representantes do Pará aos campeonatos brasileiros e à Copa do Brasil. É quase consensual a idéia de dar ao campeão o direito à vaga no Brasileiro e ao vice o direito de participar da Copa.
Faltou, ainda, alterar o absurdo critério usado nas finais no atual regulamento. É inconcebível que o time de melhor pontuação em todo o campeonato não tenha qualquer vantagem na decisão do título. Ainda há tempo de corrigir essa injustiça.
O técnico Tite, ainda sob a forte emoção da classificação às semifinais da Libertadores, não entendeu e até repeliu a comparação que alguém fez do Corinthians com o Chelsea. Na verdade, há uma semelhança entre os dois times. Não na parte técnica, mas na capacidade de alcançar bons resultados jogando feio. E bote feio nisso.
Contra o Bayern na decisão da Liga dos Campeões, no sábado passado, o Chelsea jogou como sempre. Recuado e fechadíssimo na defesa, marcando bovinamente no meio-de-campo e contra-atacando de vez em quando, minou a resistência germânica e levou o caneco nos penais.
Tite relembrou isso, atribuindo à vitória inglesa um desserviço ao bom futebol. Deveria olhar com mais rigor para seu próprio time, que desfila um modelito arranca-toco desde a conquista do Brasileiro-2011.
Ninguém vai falar, mas o herói santista da noite foi Paulo Henrique Ganso. Depois de três lesões graves nos últimos quatro anos (a primeira em 2007 e duas outras em 2010, sempre no joelho), prepara-se para fazer uma nova cirurgia, que pode comprometer seu restante de temporada. Antes, porém, o paraense foi utilíssimo para a classificação do Santos às semifinais da Libertadores. Mesmo no sacrifício, deu passes preciosos e comandou com altivez a armação do Peixe diante do Vélez, ontem à noite. Por fim, bateu um dos penais com a categoria habitual.
Tiago Potiguar é a bola da vez na Curuzu. De novo. É o jogador em torno do qual deve girar todo o sistema ofensivo do Paissandu de Roberval Davino, seja como segundo atacante ou meia-armador. A rigor, isso já acontece há algum tempo. Muito bom com a bola nos pés, Potiguar teve excelente presença na recente Copa do Brasil, mas precisa provar ao novo comandante que está curado das oscilações em campo. Terá que deixar de lado a mania de se desligar do jogo em momentos importantes.
Fora de campo, porém, está o maior desafio. A aplicação nos treinos, ponto não muito forte do meia-atacante, é um item inegociável para Davino.
As torcidas de Remo e Paissandu vivem dando provas de seu gigantismo, mas na internet essa força ainda não havia se manifestado com tanta clareza. A enquete nacional do portal UOL vem confirmando o que já estamos cansados de saber: poucas rivalidades nacionais são tão fortes quanto a dos grandes clubes paraenses.
Nos últimos dias, remistas e bicolores alavancaram a votação virtual de seus clubes, ultrapassando amplamente os sempre favoritos Corinthians e Flamengo. Ontem, às 22h40, quando esta coluna era redigida, o Remo liderava a pesquisa com 55.809 e o Paissandu vinha logo em seguida, com 54.772, mais de 22 mil votos de diferença em relação ao Corinthians, 3º colocado, com 32.640.
Apesar de toda a pujança, os gestores (?) de Remo e Paissandu insistem em ignorar essa verdadeira mina de ouro. Até quando?
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 25)