(Do blog Comunicadores)
Dia: 28 de maio de 2012
Perguntinha do dia
Caso as séries C e D não comecem no próximo fim de semana, é válida a ideia de promover um Re-Pa no domingo?
Capa do DIÁRIO, edição de segunda-feira, 28
Os vendedores de ilusão
Por Gerson Nogueira
Pelo próprio histórico, o torcedor paraense já devia estar vacinado para essas coisas, mas vive a se surpreender (em geral, negativamente) com os dois grandes da capital. Mas uma coisa virou regra sem contestação nos últimos anos, motivada pelo desespero em busca de vitórias e títulos importantes. Refiro-me à autonomia exagerada que é concedida aos técnicos importados. Volto ao tema em face das últimas providências anunciadas pelos velhos rivais.
É bom dizer que a liberdade desfrutada pelos treinadores é irrestrita e vale para qualquer um, seja Sérgio Cosme ou Nazareno, Giba ou Andrade. Essa distorção produz situações bizarras, como a contratação de times inteiros oriundos de um mesmo clube, em geral um obscuro aspirante à Série A20 ou A30 de São Paulo. É claro que são pouquíssimas as possibilidades de algum êxito, mas os dirigentes seguem acreditando.
Aliás, nos últimos seis anos, nenhum desses treinadores conseguiu a façanha de fazer o Paissandu sair do atoleiro da Série C ou resgatar o Remo do limbo. Em conversa mantida nos bastidores do programa Bola na Torre, no ano passado, o técnico Roberto Fernandes resumiu a fórmula que considerava mais adequada para tirar a dupla Re-Pa da indigência: nada de ficar apostando em novatos ou moleques vindos da base.
Fernandes foi sincero: os dois só voltarão a ser realmente grandes se investirem alto, buscando jogadores caros e técnicos mais inflacionados ainda. Observei que isso só seria possível se os clubes fossem ricos. O pernambucano, então, finalizou com uma sentença: ou os clubes se endividam, arriscando tudo, ou não saem do estágio atual.
Bem, pensei cá com meus botões baionenses, caso os times tragam atletas valorizados e em grande forma, os técnicos não precisam queimar neurônios para montar bons times. Ora, com bons reforços, qualquer aprendiz de feiticeiro pode executar o trabalho.
A questão é que os clubes parecem estar agarrados aos conselhos de Fernandes – que, por sinal, fracassou redondamente na Curuzu. A cada temporada importam carradas de jogadores, no afã de resolver rapidamente um problema que não é tão simples assim.
Agarram-se, esperançosos, aos projetos dos técnicos que chegam prometendo montar timaços em três semanas. Quem aposta nisso está tão a fim de ser ludibriado quanto os incautos que caem no conto do paco.
Pelas minhas anotações, Belém recebe todo ano 40 boleiros encarregados de operar o milagre da transmutação. A maioria nunca jogou grande coisa, mas, segundo a fé cega da cartolagem, serão tocados por alguma luz divina e se transformarão em ases da bola, capazes de conduzir Remo e Paissandu ao paraíso.
Nesse sentido, Roberval Davino e Flávio Lopes não fogem à regra, nem podem ser crucificados. Repetem o receituário de Nazareno, Giba, Sérgio Cosme, Roberto Fernandes, Edson Gaúcho, Andrade e tantos outros. Acreditam mais nos veteranos encostados (alguns até contundidos) nos clubes de quinta categoria lá do Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Olham com desconfiança para qualquer jogador com DNA amazônico e não têm tempo ou habilidade para lidar iniciantes, como já mencionei aqui outras vezes. Lembro de um fato que retrata bem essa tendência. Foi no primeiro jogo da decisão do Parazão entre Remo e Cametá. Lopes não esperou nem 20 minutos para substituir – e queimar – o lateral Tiago Cametá, que nem de longe era o pior do time. Jamais faria isso com um atleta vindo de fora.
Não adianta, porém, culpar os técnicos. O problema não está nas fórmulas previsíveis que eles defendem. O erro crasso é dos clubes, que insistem em repetir os tropeços de toda temporada. Precisam, acima de tudo, aprender a contratar.
O recorde de vitórias com pilotos diferentes numa temporada, seis nas seis primeiras corridas do ano, indica que a Fórmula 1 precisa mesmo tomar um banho de passado, no bom sentido. Quando os carros deixam de ser tão sofisticados e permitem um equilíbrio entre equipes, a emoção ressurge. Mais que isso: talentos naturais voltam a brotar.
O fator humano continua a ser o principal balizador de méritos no automobilismo, e não a tecnologia pura e simples. O papo parece nostálgico, mas é inegável que um campeonato com vários pilotos disputando o título é sempre mais contagiante.
A goleada estrepitosa que o Remo aplicou no São Paulo, time amador de Ananindeua, valeu pelo treinamento. O placar (10 a 0) não conta. Pelas informações dos companheiros da Rádio Clube, a formação titular começou bem, movimentando-se com rapidez. Acima de tudo, os reforços mostraram serviço. Ratinho, de volta ao clube, pareceu à vontade e Marcelo Maciel também exibiu desembaraço. Ambos fizeram gols e participaram ativamente das manobras. Jhonnatan e Reis confirmaram que são titulares inquestionáveis. E um outro bom sinal é a arrumação do meio-de-campo, que, para a estréia na Série D, já terá o retorno de Magnum e André.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 28)
Capa do Bola, edição de segunda-feira, 28
Roberval Davino no “Bola na Torre”
Roberval Davino, técnico do Paissandu, foi a atração do Bola na Torre deste domingo, que teve apresentação de Giuseppe Tommaso. Apesar de ter entrado no ar à meia-noite (depois do “Pânico na Band”), o programa teve grande audiência em função da entrevista com o treinador. Simpático, Davino falou das dificuldades para montar a equipe em poucos dias para a disputa da Série C. Falou dos contratados e se mostrou confiante em conquistar seu terceiro título brasileiro ao comando do Papão. (Foto: CELSO RODRIGUES/Bola)