Prezado amigo Afonsinho

Por Francisco Alves Filho – CartaCapital

Para quem se inspira no futebol atual, coalhado de craques tão milionários quanto alienados, pode ser incompreensível a trajetória do ex-jogador Afonso Celso Garcia Reis, o Afonsinho. Apesar do estilo de jogo refinado e toque de bola impecável exibidos em grandes clubes brasileiros (Botafogo, Flamengo, Fluminense e Santos, entre outros), Afonsinho ficou conhecido por ter sido o pioneiro na luta pelo passe livre. Isso em pleno ano de 1971, com a ditadura a todo vapor. No Botafogo, primeiro liderou os companheiros de time em uma campanha pelo pagamento de prêmios atrasados. Algum tempo depois, foi impedido pela diretoria alvinegra de jogar enquanto mantivesse o visual “subversivo”: cabelo comprido e barba. Indignado com a arbitrariedade, entrou na Justiça em busca do passe livre. E ganhou. Sua atitude abriu caminho para outros jogadores lutarem por direitos trabalhistas e mereceu de Gilberto Gil a música Meio de Campo (“Prezado Amigo Afonsinho, eu continuo aqui mesmo…”, diz a primeira frase). A partir de maio, Afonsinho assumirá a coluna Pênalti em CartaCapital, espaço ocupado por mais de uma década por Sócrates, morto em dezembro passado. Há muita semelhança entre os dois craques: ambos cursaram Medicina, eram amigos e usaram o futebol como instrumento de defesa da cidadania. “Sócrates tinha posições bem claras. Sou mais intuitivo”, compara o ex-jogador de 65 anos, que se diz profundamente honrado em substituir o “Doutor” nas páginas da revista. (A seguir, trechos da entrevista)

CC: Há um paralelo entre a Democracia Corintiana e a sua luta pelo passe livre?
Afonsinho: A minha atitude em relação ao passe tinha a ver com a situação política do momento. Aquelas discussões tiveram importância porque era tudo fechado, então foi uma oportunidade de se abrir um espaço de debate. Aquilo tomou um vulto muito grande. Chegou ao ponto de as dondocas da sociedade discutirem o que achavam de um jogador usar barba e cabelo grande.

CC: O senhor já tinha participação política, não é?
Afonsinho: Estava na faculdade de Medicina quando o estudante Edson Luiz foi morto. Participei da missa dele. Sempre tive atuação política. Cheguei a participar de uma reunião onde foi discutida abertamente a possibilidade de entrar para a luta armada. Não fui porque eu e alguns outros não tínhamos a menor condição prática de entrar numa dessas.

CC: Como a ditadura mexeu com o futebol?
Afonsinho: O Brasil ganhou a Copa de 70 e depois ficou 24 anos sem ser campeão mundial. Há quem atribua a Jules Rimet ao regime. Para mim, aquela Copa é uma vitória da geração de 58 e 62, a própria formação dos jogadores foi baseada nessas equipes. Ninguém comenta o jejum de mais de duas décadas como consequência da ditadura.

CC: O modelo da CBF ainda tem muito da antiga CBD, não?
Afonsinho: É uma coisa terrível, porque a organização do futebol é medieval. O sistema de ligas, federações e confederações é estruturado dessa forma anacrônica. Isso persiste. Na federação mineira era o coronel Guilherme. Ele saiu ficou o filho. Na Paraíba, saiu o coronel de lá e ficou a mulher. Continua assim.

CC: O que acha do futebol ter se tornado um meganegócio em todo o mundo?
Afonsinho: O volume de dinheiro explodiu, mas à medida que injetam mais recursos no futebol, o espetáculo empobrece. Independentemente do tipo de organização, o clube é a razão de ser, pelos torcedores que mobiliza. Se o cartola vende a camisa de um clube para uma determinada marca, é o torcedor sendo visto como consumidor. E qual a participação dele quando se decide o horário dos jogos, qual emissora vai transmitir, qual a cor da bola? Quando o dirigente vende a transmissão ou a camisa para uma marca de fabricante, está negociando o torcedor. E o cara não tem nenhuma participação ativa nisso.

Torcida reclama do preço do ingresso

Muitos torcedores do Paissandu telefonaram para a redação do DIÁRIO reclamando que nos pontos de venda de ingresso a cobrança já é de R$ 15,00 para arquibancada. A diretoria havia anunciado que a promoção de ingresso a R$ 10,00 valia até esta quarta-feira. À tarde, na Curuzu, houve grande procura por ingressos nas bilheterias do estádio. (Foto: MÁRIO QUADROS/Bola)

Guerreiro do Arco-Íris aberto a visitação

O novo Guerreiro do Arco-Íris estará em Belém neste final de semana (dias 5 e 6 de maio). Tinindo de novo – foi inaugurado em outubro do ano passado -, ele representa o que há de mais moderno e sustentável em termos de navegação e, enquanto estiver no Brasil, servirá como plataforma para as campanhas do Greenpeace. Além disso, sua vinda marca o aniversário de 20 anos da organização no Brasil. O público terá a oportunidade de subir a bordo, conhecer a tripulação deste ícone da proteção ambiental e saber mais sobre as campanhas do Greenpeace Brasil, como a petição pelo Desmatamento Zero. Para aqueles que desejam assinar a petição, é importante trazer o título de eleitor. A entrada é gratuita.

O Greenpeace é uma organização global e independente que atua para defender o ambiente e promover a paz, inspirando as pessoas a mudarem atitudes e comportamentos. Investigando, expondo e confrontando crimes ambientais, desafiamos os tomadores de decisão a rever suas posições e adotar novos conceitos. Também defendemos soluções economicamente viáveis e socialmente justas, que ofereçam esperança para esta e para as futuras gerações.

Horários: Das 10h às 17h. Endereço: Praça da Escadinha – Estação das Docas.