O que Guardiola podia fazer pela Seleção?

Por Cosme Rímoli

O basquete masculino agradece de joelhos ao argentino Ruben Magnano… Graças a ele, o esporte volta à Olimpíada depois de 16 anos. O dinamarquês Morten Soubak levou a seleção feminina de handebol ao 5º lugar do mundo. Lugar nunca alcançado pelas meninas. João Carlos Soares e Abel Bokovo estão fazendo milagres com o boxe brasileiro.

De onde vieram? Da Guiné Bissau e Benim. O que o ucraniano Oleg Ostapenko fez pela ginástica olímpica tupiniquim? E o bem que o coreano Young Wan Sohn fez ao nosso vôlei? No futebol, o excepcional time brasileiro de 1958 deve um dedinho a um húngaro. Bela Guttman era um cigano da bola. Treinador ousado, defensor do futebol ofensivo, sem travas. Fez do São Paulo campeão de 1957.

Contratou o veterano Zizinho e fez o time atacar sem medo, com velocidade, volúpia. Era tão bom que em 1958 fez o Milan campeão italiano. Em 1959 foi campeão português com o Porto. Daí saltou para o magistral Benfica de Euzébio. Entre vários títulos, o bicampeonato europeu de clubes, a atual Champions League.

O paraguaio Fleitas Solich deu ao Flamengo seu primeiro tricampeonato estadual em 1953/54/55. E passou por Palmeiras, Corinthians e Atlético Mineiro. Tanto Bela como Fleitas influenciaram Vicente Feola na armação do Brasil campeão do mundo pela primeira vez. Ambos chegaram a ser cogitados para treinar a Seleção Brasileira.

Mas João Havelange jurou que um técnico estrangeiro jamais assumiria o time canarinho, como se dizia na época. A CBD foi uma confederação que mais apoiou a ditadura militar. E seguiu a filosofia de o Brasil para os brasileiros, tão em voga na época. Isso valeu para todas as áreas.

A dificuldade de importação imposta pela ditadura fez com que a indústria nacional ficasse obsoleta. A automobilística foi um exemplo vergonhoso. Tudo era sobretaxado, obrigando o brasileiro a consumir um produto ruim, mas brasileiro. “Ame-o ou deixe-o” era o lema. A incompetência fez com que os militares voltassem envergonhados para a caserna.

Cinquenta e três anos depois, a mentalidade continua a mesma no futebol. O genro de Havelange segue por igual caminho. Mesmo com o Brasil tendo uma safra de treinadores limitados, de criatividade esgotada, sem reciclagem. Faz nove anos que a Seleção conseguiu seu quinto título Mundial. Desde então, decepções.

Mano Menezes é o grande representante desta atual geração. Bicampeão da Segunda Divisão e vencedor de uma Copa do Brasil. Em um ano e meio já mostrou que não sabe que caminho seguir. Diante dos fraquíssimos resultados e da falta sequer da base de um time, se apega à política para sobreviver.

Se não fosse protegido de Andres Sanchez não estaria no comando do Brasil. O treinador das equipes de base, Ney Franco faz um trabalho muito mais concreto. Para não ficar evidente esse sucesso, Mano ficará com seu lugar na Olimpíada. Contando com Ney como seu auxiliar e mentor para tentar ganhar a medalha olímpica. E deixar os méritos todos para Mano. Assim é fácil. É o que o treinador de Andres Sanchez pode oferecer.

Mas o que importa é tentar sair dessa situação deprimente enquanto há tempo. Por que a Seleção Brasileira é fechada aos estrangeiros? Pep Guardiola ou José Mourinho não teriam o que acrescentar? O melhor time do mundo não poderia ter o melhor técnico do mundo? Por que o juramento de Havelange continua sendo respeitado? Ou o que ainda o que vale é o país onde nasceu? Seu passaporte?

Por que temos de ver no comando do Brasil um treinador muito pior do que quem poderia estar lá? O atraso da mentalidade dos militares que deram o golpe no País continua muito forte. É capaz de haver uma marcha pelos bons costumes se o cargo for oferecido, por exemplo, a Guardiola. O que o Barcelona fez com o Santos vai ser esquecido. Teixeira quer sobreviver no comando do futebol brasileiro. Não é hora para revolução. Para abrir os portos.

Melhor continuar com a hiperinflação de frustrações. Ainda dá para ganhar do Gabão. A Copa do Mundo está cada vez mais próxima. Será feita na nossa casa. Em 1950, todos estavam iludidos com o título fácil. Em 2011 não há a mínima confiança no time de 2014.

A Copa mais cara do mundo, que já tem a suspeita de corrupção e superfaturamento por todos os lados… Mostra o seu lado mais retrógado, ultrapassado no banco de reservas. Quer mais brasileiro um técnico com o apelido de Mano? Depois, seguimos o caminho do que foi trilhado em 1950. E chorar por tudo que poderiámos ter feito e não fizemos. Não colocar a seleção de mais tradição do mundo em mãos competentes. Sendo estrangeiras ou não… É seguir a filosofia do “Ame-o ou Deixe-o”. Do “Brasil para os brasileiros”. E todos sabem o vergonhoso resultado da ditadura no Brasil. Ou alguém ainda quer andar de Brasília?

10 comentários em “O que Guardiola podia fazer pela Seleção?

  1. Este, aqui, nada obstante todo o trabalho de pesquisa, de toda a retórica, no fundo demonstra só professar também a filosofia do triunfo. Nada contra, afinal esta é uma das principais finalidades do esporte de competição. A dúvida é: será viável sob os vários aspectos que permeiam a questão. A certeza é: no dia seguinte do anúncio da contratação, a crônica já estaria cumprindo o seu papel de malhar a iniciativa. Taí uma experiência que eu gostaria de vivenciar, tanto para dissipar a dúvida, quanto para confirmar a certeza.

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  2. Isso me faz lembrar um caso de um executivo famoso por levantar empresas quase à falência. Em todo lugar era um sucesso, só fracasou onde não davam importância uma coisa fundamental: o trabalho.
    Convidaram-no a trabalhar na Bahia e em três meses teve de fugir de lá às pressas.

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  3. Nas modalidades esportivas sem tradição (aqui) nada mais justo importar experiencia. Cuba fez isso com o leste europeu e até hoje desfruta do aprendizado. Nas modalidades consagradas (aqui) não vejo a necessidade de tal procedimento.
    No basket, entre outras coisas, o clima entre dirigentes e jogadores e até mesmo entre os proprios jogadores, exigia o comando de quem possuisse ” cartão de visita “. O Magnano tinha e ainda tem.
    No futebol,fomos 5 vezes campeoes do mundo com técnicos brasileiros natos e que não eram unanimidade na opinião nacional.
    Não sou xenofobo, chauvinista e muito menos nacional-socialista, e assim não desmereço os estrangeiro nem os importados.
    O box e o remo argentinos, nos superam por tradiçoes colonizadoras. Embora litoraneos, só nos ultimos ano é que os esportes nauticos brasileiros fazem juz a nossa mae natureza.
    Exemplo de influencia colonizadora cito o tenis mesa onde somos disparados os melhores do continente. A Dominican e a Argentina naturalizaram atletas chineses para embater nossos japoneses aqui nascidos.
    Entre todos as modalidades esportivas, o futebol exigirá mais tempo para formaçõa de treinadores e dirigente que possam criar e desenvolver metodos de trabalho e ação que no futuro possam ser chamados de ‘ filosofia do esporte brasileiro ‘ .

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  4. – Quanto a técnicos, penso que o Dorival Jr, é o que mais evoluiu, ultimamente em termos táticos e, se derem a ele, condições de ter grandes jogadores em seu elenco, poderá fazer frente ao Guardiola. Seria uma boa briga tática.
    – Aliás, se naquele Santos que tinha Robinho, Neymar, Ganso e Elano todos, em grande forma, se fosse feito um investimento em grandes jogadores para substituir os não tão grandes assim, que estavam lá, o Santos, hoje, estaria encantando o mundo.Não duvido, disso.
    – É a minha opinião.

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  5. Técnico importado por aqui não concordo. Temos ótimos treinadores, a pesar de ser contra a permanência desse Mano Meneses na Seleção, porque ele não acrescentou nada de evolução até hoje. O problema não é falta de bons treinadores ou esquema tático. O problema atual do nosso futebol difícil muito de resolver e a intromissão dos patrocinadores, empresários e dirigentes dos clubes e atletas. Hoje não precisa ser expert em futebol brasileiro para saber que quem está escalando a seleção ha muito tempo são essas figurinhas que citei e não mais os treinadores. Treinador na seleção hoje é figura decorativa. Os patricinadores dos clubes e dos jogadores desenbolsam fortunas em contratos de publidades desses jogadores então para eles esses jogadores tem de atuar na seleção de qualquer maneira, pouco importando se o atleta merece a seleção, se está preparado fisica e psicologicamente. Ou ja esqueceram o episódio do Ronaldo Gorducho em 1998, quando a NIKE sua patrocinadora obrigou o Zegalo a escala-lo na decisão mesmo doente, apresentando convulsões e sem a menor condiççao de jogo. Quem assistiu aquela partida viu o estado deprimente do Gorducho, o qual poderia ter até morrido. Mas para a Nike o que interessava era ele em campo para cumprir o contrato milionário de propaganda e assim por diante. Naquele momento o que menos importava era o resultado para a seleção, mas sim a presença do Ronaldo “fenomeno” e so. Um exemplo bem recente foi a defenestração do Dunga por não ter convocado Ganso e Neymar, porque ele achava que não ainda não estava na hora deles, e pelo que estão apresentado hoje na seleção o Dunga tava certo. Mas em compensação Dunga foi obrigado a convocar figuras indigestas como Felipe Melo, G. Silva, Josué e Cia. Ou seja, Dunga foi execrado por empresários e patrocinadores de Ganso e Neymar, por não tê-los convocado para a copa e ao mesmo tempo foi execrado pela deprimente participação da seleção na Copa 2010 em virtude de ter sido obrigado a convocar jogadores que enterraram a seleção os quais eu não queria no meu time, imagine na Canarinho. Dessa forma mesmo com um super técnico de fora ou local a tendência e permanecer essa decadência porque quem manda no nosso futebol e escala a seleção são os patrocinadores. ah, sim ia esquecendo o exemplo do outro Ronaldo, o feiusco do Flamengo, que ja está sendo cantado em prosa e verso como o novo camisa 10 da seleção, inclusive para o lugar do Ganso que não engrena. E como o dinheiro do patrocinador manda, ele deverá ser titular absoluto. bye bye Brasil

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