Dia: 17 de dezembro de 2011
Capa do DIÁRIO, edição de domingo, 18
Santos bicampeão do mundo – 1963
Santos campeão do mundo – 1962
Além da qualidade do registro das câmeras do Canal 100, o VT acima mostra pelo menos duas obras-primas de Pelé, o segundo e o quarto gol santistas. Apropriados para quem, porventura, tiver dúvidas da genialidade do Rei.
Santos campeão da Libertadores 1962
Um livro: “Memórias de um Sargento de Milícias”
Por André Barcinski
Alguém conhece um livro brasileiro mais divertido que “Memórias de um Sargento de Milícias”? Quem souber, por favor, me indique. Já perdi a conta de quantas vezes li o livro de Manuel Antônio de Almeida (1831-1861). É só abrir na primeira página e ler a primeira linha (“Era no tempo do rei”), que não dá mais vontade de parar. “Memórias” conta a vida de Leonardo, filho de um meirinho, Leonardo Pataca, e de uma prostituta, Maria Hortaliça. Leonardo foi concebido no navio a caminho do Brasil: “És filho de uma pisadela e de um beliscão”, lhe diria o pai.
Leonardo é um vagabundo que não se adequa a nenhum trabalho ou padrão “normal” de comportamento. Em sua trajetória, convive com personagens inesquecíveis: velhas carolas, ciganos maloqueiros e um chefe de polícia chamado Vidigal. Acaba disputando o amor de uma moça (Luisinha, verdadeiro picolé de chuchu) com um malandro chamado José Manuel. “Memórias” é a companhia ideal para uma tarde chuvosa. O livro é curtinho – 200 páginas na edição de bolso – e é dividido em 68 capítulos curtos, publicados originalmente como folhetim do jornal “Correio Mercantil”, em 1851/52.
Dia 28 de novembro foi aniversário de 150 anos da morte de Manuel Antônio de Almeida. Ele escreveu “Memórias” aos 20 anos e morreu aos 30, no naufrágio do navio Hermes, na costa do Rio de Janeiro. Não vi grandes homenagens a ele. Aliás, não vi nenhuma. Alguém viu? Memórias” ia na contramão do romantismo da época. Como escreve Mario de Almeida Lima na edição de bolso da L&PM, “O autor do momento era o Dr. Joaquim Manoel de Macedo (1820-1882) que, com ‘A Moreninha’ (1844) e outros livros de igual fatura, conquistara de pronto o coração das leitoras e dos estudantes (…) logo depois, José de Alencar (1829-1877) surpreendia com ‘O Guarani’ (1857) (…) não sobrava espaço para o livro diferente – e inconveniente – de Manuel Antônio.”
A linguagem de “Memórias” é mesmo diferente dos sucessos da época. O livro tem um estilo coloquial, quase jornalístico. Às vezes, o autor interrompe a narrativa para se dirigir diretamente ao leitor. Mas o que surpreende mesmo é o espírito satírico do livro. Manuel Antônio descreve a “ralé” da época de forma divertida e sem alisar. Hoje, certamente seria acusado de incorreção política ou elitismo.
Não consigo deixar de associar “Memórias” a um de meus livros prediletos, e que dá nome a esse blog: “Uma Confraria de Tolos”, de John Kennedy Toole (1937-1969). Difícil imaginar que Toole tenha lido “Memórias”. Mas não dá para negar que os dois livros têm um estilo parecido e uma visão peculiar do mundo.