Unidos pelas diferenças

Por Gerson Nogueira

Pode até parecer exótico, mas existem pessoas que torcem por um clube em cada Estado da federação. Algo assim como um amor em cada porto. E não é potoca, os caras torcem de verdade. Conheço vários. Não chego a tanto. Desde moleque lá em Baião, fiz opção preferencial e exclusiva pelo Botafogo, com tudo de bom e ruim que isso pode acarretar a um ser humano mais ou menos normal.
Imagino que torcer de maneira tão ampla assim deve ter lá suas vantagens. A mais óbvia é que, quando um time vai mal aqui, outro pode estar levantando título acolá. Sem dúvida, um recurso dos mais convenientes para quem não consegue suportar tristezas boleiras.
De uns tempos para cá, por força da derrocada dos nossos clubes, essa inocente liberdade de abraçar várias bandeiras, hábito inofensivo a terceiros, passou a ser alvo de combativa campanha nas redes sociais pela chamada bandeira única. Como toda patrulha, a iniciativa resvala na intolerância pura e simples.  
À saída de casa, dia desses, trajando garbosamente a listrada camisa que já teve como usuários gênios da grandeza de Mané Garrincha, Jairzinho, Didi e Nilton Santos, fui abordado por um cidadão que se dizia incomodado com minha pública demonstração de amor por um clube “de outro Estado”.
Ouvi a pregação xiita da obrigação de torcer por um clube da terra. Por puro exercício de boa educação, repeti a explicação de praxe. Não há limites geográficos para a paixão futebolística. Como discutir as motivações de uma escolha tão pessoal? Nada é mais inegociável para um homem do que sua afeição por um time de futebol. Causas e crenças diversas podem sofrer revisões ao longo do tempo. O futebol, não.
De mais a mais, certas marcas – e o Botafogo é uma delas – não pertencem a um território específico. Na verdade, são universais. Ter que justificar isso é algo tão absurdo quanto explicar porque gosto dos Beatles e dos Rolling Stones. Por falar nisso, fico imaginando a cuíra dos xiitas da torcida única ao ver tanta gente torcendo por Real Madri ou Barcelona no grande clássico espanhol. Sob uma ótica generosa e otimista, creio que essas são as tais diferenças que unem.  
 
 
Sinal dos tempos e da decadência brasileira na categoria: dois brasileiros estão andando a pé na F-1. O veterano Barrichello já estava despachado há mais tempo, mas na sexta-feira chegou a notícia sobre o pé-na-bunda a Bruno Senna na Renault-Lotus. Chama atenção que nem o sobrenome famoso e nem todo o marketing da Globo em torno do jovem piloto foram capazes de convencer a escuderia a lhe dar o carro.
Galvão Bueno e a trupe de levantadores de bola vão culpar a crise mundial ou alegar má vontade para com os brazucas. Não acredite. Na boa, o problema é (falta de) talento.
 
 
Desta vez, os palpiteiros do site Chance de Gol se superaram. Projetar um favoritismo de 96,6% para o Barcelona no Mundial de Clubes, dando apenas 1,6% ao Santos, parece exagero no rigor matemático. Futebol, felizmente, não é ciência exata. 
 
 
Este não é um domingo qualquer. Sem falso ufanismo, talvez seja o mais importante da história moderna do Pará. Portanto, não se admite omissão. Paraense da gema tem que comparecer e votar.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 11) 

10 comentários em “Unidos pelas diferenças

  1. Lembrei-me do Flamengo em 81.Até porque na época eu me ocupava demais , e não assisti ao jogo contra o Liverpool.Fiquei sabendo no dia seguinte.Flamengo 3×0 nos ingleses que não quiseram cumprimentar os “sul-americanos”.O site citado aí não existia , mas os jornais ingleses e japoneses e mundiais falavam em goleada.Acertaram.Sabemos que o barça é superior, mas de repente , Messi não estará bem e Neymar tire da cartola mais do que seus dois ou tres coelhos de praxe e faça um estrago no antipático( eu q acho) time espanhol.De repente o Santos vence de 2 ou mais .Seria muito legal.

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  2. Antes do jogo de ontem contra o RealMadrid, ate tinha convicção de que o SANTOS “poderia” vencer o time do Barcelona. Mais depois do time Catalão, entrar no campo do seu maior rival, o Real e começar perdendo de 1 à 0, e terminar o jogo com 3 à 1 em seu favor, sendo que poderia ter saído com o placar mais elástico a seu favor, penso que às chances do clubes santista cairam para 5% em relação aos 95% de chances do Barcelona sagrar-se campeão.

    Mais dentro de campo existem 11 jogadores de cada lada, e cada jogo e um jogo, talvez o NEYMAR e o GANSO possa fazer chover no Japão e desbancar o Barça do MESSI e Cia ltda.

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  3. Concordo com você Gerson, mas entendo também o lado dos xiitas. Atualmente moro em Macapá, por aqui a esmagadora maioria torce para clubes de fora: Flamengo, Vasco, São Paulo, Corínthians e o seu Botafogo, são as principais torcidas, Paysandu e Remo, “são os times do Pará” que a maioria diz carinhosamente torcer, fato perfeitamente compreensível pelos laços históricos que unem os estados.
    Triste é a melhor definição que encontro para o futebol amapaense.
    Voltando aos xiitas, acho que eles estão com medo que o mesmo ocorra com o futebol paraense, atitude desesperada, sem dúvida, afinal nem mesmo este ufanismo futebolístico (do qual compartilho em parte pois sou unicamente bicolor, mas não tolero a intolerância) suportará tantos fracassos.

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  4. Acho que o que pode pesar a favor do Barcelona é o fato do Santos não ter um bom setor defensivo. Quando ao ataque santista, não duvido nada que apronte das suas para cima dos catalães. Talvez eles se preocupem muito com o Neymar e esqueçam ou não saibam que o Borges é o artilheiro brasileirão.

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  5. GN, permita-me discordar mais uma vez de você, pois tenho a impressão que o Santos não chega nem a final contra o Barça, o time é muito fraco. Igual ao Lioto, pescoço mole.

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