Sandro tem uma belíssima ligação com o Paissandu. Não há como apagar isso. Campeão várias vezes, ergueu inúmeras taças, disputou a Libertadores e fincou seu nome definitivamente na galeria dos maiores capitães do clube. Acima de tudo, mostrou fibra incomum e deu o sangue pela camisa alviceleste.
Mas, como em quase toda história de amor, há o apogeu e o desencanto. O segredo está em atenuar as amarguras inevitáveis que toda separação traz. Infelizmente, tanto Sandro como a diretoria do Paissandu não souberam evitar esse lado desagradável do relacionamento.
Pelo contrário: ambos estouraram os limites do afeto e o resultado final aponta para a malquerença sem volta. O anúncio do desligamento do jogador, ontem, representa um reflexo da desagregação interna que dominou o clube nesta Série C e é conseqüência ainda de desacertos que datam de 2010.
Entendo até que o veterano capitão é o menos culpado nessa pinimba. Sempre que o Paissandu precisou de sua liderança em campo, Sandro foi incansável, jamais se omitiu das batalhas. Deve-se a isso o carinho que o torcedor ainda devota a ele. Pelos descaminhos próprios das gestões desastradas, acabou estigmatizado pela trágica eliminação para o Salgueiro, no ano passado.
Para desafogo conveniente da cartolagem, foi eleito bode expiatório para justificar o fracasso. Pagou o pato e acabou jogado às feras e, talvez pelo temperamento introvertido, preferiu silenciar. Um erro estratégico grave, que pesou no julgamento que a torcida fez sobre seu comportamento naquela situação decisiva.
Até para se contrapor às acusações feitas pelo presidente do clube, Sandro deveria ter se posicionado, dito as suas verdades e se explicado com o torcedor. Errou ao aceitar implicitamente a fama de mercenário. Custou a revelar os atrasos salariais e agiu mal a protestar com um motim.
Um ídolo tem responsabilidades que nenhum outro atleta tem. Justamente pela forte identificação com a torcida, tinha o dever de se manifestar de maneira mais transparente. Quando finalmente decidiu se defender, de forma ainda tímida, já era muito tarde e o estrago, irremediável. Voltou a ser vinculado às mazelas atuais e novamente apontado como desagregador e pivô de discórdia.
Sandro merecia uma despedida diferente, à altura de sua gloriosa carreira como defensor do Paissandu. Tinha direito a um tratamento mais digno pelo que fez ao longo das duas passagens pela Curuzu. Infelizmente, deu o tremendo azar de conviver nesta segunda vez com dirigentes que não estão à altura do desafio de administrar um clube tão grande e complexo.
Na hora do adeus, não cabe ficar repetindo críticas, mas apenas lamentar que saia de cena como se fosse um jogador qualquer. E é terrível que a caminhada de mais um ídolo do nosso futebol termine assim, em silêncio como um filme mudo.
Andrade parece ter definido a escalação para a batalha de Lucas do Rio Verde. Menos pela vitória (2 a 0) sobre o time amador de São Miguel do Guamá do que pelo teste, o jogo-treino de ontem serviu para dar forma ao novo Paissandu. Héliton e Rafael são os atacantes, não há dúvida, mas não creio que a dupla Andrei-Luciano Henrique seja a solução ideal para a criação de jogadas.
Em boa hora, a diretoria do Remo descartou o atacante Marciano, que pediu salários de R$ 15 mil. Acertará em cheio também se esquecer essa história com Serginho e Danilo Mendes, jogadores que já passaram pelo clube sem maior brilho. No grupo de garotos que Sinomar vem utilizando existem peças tecnicamente superiores aos dois.
Quanto a Joãozinho, Marçal e Adenísio, podem ser úteis ao time, desde que disputando posição com os que já se encontram no Baenão.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 01)